segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Conversas d'Ouvido com João C. Sousa


Estivemos à conversa com o músico e compositor João C. Sousa, com percurso traçado pelo mundo audiovisual, prepara-se agora para editar o seu álbum de estreia. Assume-se como um melómano apaixonado por Bach e Rameau, continua atento à música actual, nutrindo admiração pelo trabalho de Noiserv, Tune Yards e Mécanosphère. A seguir, fiquem a conhecer um pouco melhor o seu fascinante mundo, na mais recente edição de "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
João C Sousa: Lentamente. Muito devagar. Como dizia o nosso Fernando Lanhas, “saber ver demora”. Para responder literalmente à tua pergunta, é só trocar “ver”, por “ouvir”. Serve para tudo. No início achei que não gostava de música. Lembro-me bem dessa sensação em criança e de isso colidir com a opinião geral. Isto durou até ao momento em que me chegou aos ouvidos … a música certa. Deu-se o “click” e depois fui desbravando caminho.

Consegues explicar-nos como se desenvolve o teu processo criativo?
De formas muitos variadas. Por vezes acontece quando estou a tocar nos instrumentos, seja o sintetizador, o violoncelo, a guitarra ou o baixo. Toco mal em todos, mas toco. Surge o mote quando lhes coloco os dedos “experimentadores”. Outras vezes escrevo na partitura no PC. O processo agora é muito lento. Posso demorar um ano a terminar uma música. Antes terminava sempre uma música no dia em que a começava. Nem que não dormisse.

Como descreves o teu estilo musical?
Pergunta difícil! Vou ser telegráfico: alternativa, experimentalista no contexto lato de “pop”, e ao mesmo tempo, funcional (leia-se “funcional” no sentido em que “serve” o cinema, o teatro, a televisão, etc.). Adoro uma encomenda porque saio sempre fora dos meus “carris” (e não tenho ido parar ao rio ...)

Com um álbum a caminho, o que podemos esperar do teu primeiro disco a solo?
Um sucesso, visto que é uma lufada de ar fresco. É uma novidade. Acho que há uma “imensa minoria” (evocando um slogan da extinta XFM) à procura disto. Vou chegar a esse público que está no planeta inteiro.

Para além da música, t que tocasse no vossomavamstiram que tocasse no teusosavas ariasens mais alguma grande paixão?
a) A literatura (à qual me devia dedicar muito mais)
b) As pessoas! Algumas pessoas: Aquelas com quem falamos, e nos arrebatam, e estimulam com a sua inteligência. As que nos deixam o cérebro a borbulhar durante uns dias. No fundo, a) e b) são a mesma coisa.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Não há desvantagens no meu caso. Até agora, só fiz música como e quando queria. Não faço concessões pois sou livre e desprendido de sucessos, insucessos, top´s, fãs, vendas e outras “religiões” condicionantes. Viver já nos obriga a muitas cedências. Neste plano, sou e serei livre. Só mudo de trajeto se me pagarem 1.000.000.000 €.

Quais as tuas maiores influências musicais?
O período Renascentista e Barroco como alicerce. Depois, note-se que sou da geração “Som da Frente”, do pop/rock alternativo (ou underground), de algum experimentalismo situado entre o pop e o erudito; alguns compositores minimalistas (que também soavam no “Som da Frente”). Mas o que mais aprecio na música é quando esta me surpreende. Quando acontece o “não estava à espera disto”, ou “porque é que não me lembrei disto primeiro?”

Como preferes ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
Todos, mas sempre que possível, com auscultadores.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Nem Deus sabe … Como compositor e como melómano, aguardo que “salve”...

Qual o disco da tua vida?
A Paixão Segundo São Mateus de Bach! Nada ouvi tantas vezes como esta obra.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
“Les Indes Galantes” de Jean-Philippe Rameau que conheci tardiamente.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Ando sempre à procura, mas não tem sido fácil encontrar novidades que me deixem de “queixo caído”. Estou a ficar um velho rezingão, mas estou sempre com o “Modo-De-Ouvido-Alternativo” activado. Sem pensar muito, ocorrem-me os Tune Yards e os Zebra Katz. São ambos assuntos sérios e como se costuma dizer, “sem espinhas”. É aquilo e mais nada! Quero aproveitar este contexto para falar de dois portugueses: Noiserv e o trabalho do Adolfo Luxúria Canibal com Mécanosphère. Já não são novidade, mas são para mim um pedaço de “ar fresco”.

Que músico/banda já te desiludiu a nível musical/ou em concerto ao vivo?
Francamente, não sei se os Madredeus ainda tocam, mas nas últimas coisas que ouvi deles, baixaram o nível. No início foram extraordinários. Foram do melhor que se produziu em Portugal.

Com que músico gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Já que posso sonhar, seria com Diamanda Galás. Mas não em dueto, apenas gostaria de compôr música para esta senhora. Não me atrevia a pisar o mesmo palco. Quem a conhece, sabe porquê.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Foi há mais de vinte anos: Young Gods no Sá da Bandeira.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Diamanda Galás e Tune Yards.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Bach (sim, o próprio) dirigindo a paixão Segundo São Mateus.

Qual o teu guilty pleasure musical?
“Everybody” da Madonna. Ainda ouço às vezes (com auriculares, claro).

Projectos para o futuro?
Este vai ser o meu primeiro álbum. Conto que a minha música “fure” no emaranhado que é a atual oferta musical. Quero compor para cinema, teatro, publicidade, televisão, videojogos (onde há grande música) e para outros artistas.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Se me permites o abuso seriam duas perguntas:
a) Qual a banda sonora para cinema que mais te impressionou?
- “Eyes Wide Shut”
- “Laranja Mecânica”
b) E música para genérico de tv/rádio?
- Tema do genérico do programa “Eixo do Mal” da Sic.
- Tema do genérico do antigo programa “Som da Frente” da Rádio Comercial

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Obviamente, “How To Switch Dimensions” de João C. Sousa.
Mas se fosse para dar cabo dos meus familiares e amigos, teria de ser a ária "Erbarme Dich" da Paixão Segundo S. Mateus de Bach. Até eu choraria lá de cima ...

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Terminamos ao som do seu mais recente single "How to Switch Dimensions"

5 comentários:

  1. Bom começo Joca, não te desejo boa sorte, porque à mercê dela andam os tolos, não as cabeças como tú!

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  2. Cheguei a pensar que nada mais me supreendia mas a tua astral intecletualidade, sensível e humilde é surpreendente e desconhecida. Como é bom teres partilhado também comigo, a ciência que tens dentro de ti e a ti também desconhecida.

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  3. Cheguei a pensar que nada mais me supreendia mas a tua astral intecletualidade, sensível e humilde é surpreendente e desconhecida. Como é bom teres partilhado também comigo, a ciência que tens dentro de ti e a ti também desconhecida.

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