segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Conversas d'Ouvido com Almir Chiaratti

Estivemos à conversa com Almir Chiaratti cantor, compositor e produtor, brasileiro, que se prepara para editar este ano o seu segundo álbum, que sucederá a Bastidores do Sorriso (2015). Nesta entrevista descontraída descobrimos um músico apaixonado pelos clássicos  músicos da lusofonia como Tom Zé, Milton Nascimento, Gilberto Gil, António Variações e Lenine. Almir revela-se no entanto, atento às novas sonoridades, referindo os portugueses Paus e os conterrâneos As Bahias e a Cozinheira Mineira, entre outros. Isto, é contudo uma pequena amostra do que podem descobrir nesta edição das "Conversas d'Ouvido"... 


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Almir Chiaratti: Começou de maneira lúdica, vi um amigo tocando e achei muito curioso. Minha mãe tinha um violão antigo em casa e resolvi começar a fazer aulas. No processo de aprendizado me encantei com todas as possibilidades desse universo musical. Eu tinha cerca de 11-12 anos. 

Já podes levantar o véu sobre o novo disco? O que podemos esperar do sucessor de “Bastidores do Sorriso”?
O CD sai esse ano ainda. Estamos na etapa de pré produção e é a primeira vez que conto com um produtor trabalhando nas minhas músicas. Está sendo incrível. O Eugenio Dale é um super compositor e instrumentista então há muito aprendizado e muita troca.
Quanto ao álbum, ainda é cedo para definir o que será, mas posso adiantar que há uma vontade clara de misturar o orgânico com o digital. Me inspiro muito nas áreas verdes da cidade do Rio de Janeiro onde os prédios e as folhagens se misturam criando uma paisagem ao mesmo tempo moderna e decadente.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Não sou muito bom nisso, confesso. Uma vez disseram MPB experimental e na época foi o rótulo que menos agrediu o meu desejo de não se reduzir a um estilo propriamente dito. Mas como eu gosto muito da cultura popular brasileira e música pop internacional tenho essa inclinação que me leva a definir o que quero fazer como "música progressiva brasileira tentando ser um pouquinho mais popular".

Consegues explicar-nos como se desenvolve o teu processo criativo?
Normalmente surgem os arranjos no violão/guitarra, depois a melodia e a partir daí vou improvisando alguma letra até achar um tema. Depois vou desenvolvendo a ideia e lapidando a canção. Mas como o que me agrada mesmo é aprender e experimentar coisas novas nesse 2.º CD experimentei outros métodos, como por exemplo: escrever um texto a partir de uma foto que tirei, musicar a letra e arranjar a canção; ou ainda escrever uma música sobre o medo de voar de avião durante uma ponte aérea São Paulo-Rio de Janeiro. Fiz só a letra cantarolando próximo ao celular para não incomodar os outros passageiros, vai entrar no disco.
Em geral as canções vêm sem muito esforço mas sem muita frequência também. Às vezes duas num mesmo dia, outras vezes passo meses sem nada. Eu tenho um acordo comigo comigo mesmo, não procuro a inspiração, deixo ela vir quando quiser. Nunca me deixou na mão! (risos)

Para além da música, t que tocasse no vossomavamstiram que tocasse no teusosavas ariasens mais alguma grande paixão?
Eu gosto muito de tecnologia, como me formei em produção audiovisual (rádio e TV) e trabalho como editor acho que o que divide meu coração hoje são os vídeos que faço para a internet, sobretudo os vídeos de música. Mas tenho muita vontade de trazer mais tecnologia para os shows, videomapping, projeções visuais e som surround. Ainda estou estudando isso, mas assim que puder vou inseri-los nos concertos.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Acho que nessa etapa que estou, a maior vantagem e desvantagem é o número de horas que passo trabalhando como editor para manter o projeto musical. Digo vantagem e desvantagem porque adoro trabalhar e o dinheiro que faço como editor faz com que meu projeto não dependa integralmente de editais e/ou patrocínios.

Quais as tuas maiores influências musicais?
Quase tudo que eu ouço acaba me influenciando de algum modo. Mas a gente sempre tem uns artistas que mudam nossa vida, né? Para mim esses foram: Gilberto Gil, Tom Zé, Lenine, Milton Nascimento, Itamar Assumpção e Jorge Drexler.
Hoje tenho escutado muitos artistas independentes, adoro saber o que estão produzindo, pensando, sentindo em outros lugares do mundo e na minha cidade.

Como preferes ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
Por streaming. Mas costumo comprar CD's/Vinis de artistas independentes, adoro ver as artes dos álbuns.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Eu não acredito nessa visão apocalíptica de que uma tecnologia acaba com a anterior. Acho que tudo muda e a gente acompanha isso, escreve sobre isso, canta isso. A música para mim vai muito além da mídia na qual ela se dá. Na música "Bailar en la Cueva", Jorge Drexler canta uma frase que concordo muito: "já fazíamos música muito antes de conhecer a agricultura".

Qual o disco da tua vida?
Só respondo essa questão se puder ter várias vidas. Porque uma vida que caiba em apenas um disco deve ser uma vida muito repetitiva, não acha? 
Digo isso porque os álbuns "Olho de Peixe" do Lenine, "Isso Vai Dar Repercussão" do Naná Vasconcelos e Itamar Assumpção, "Clara Crocodilo", do Arrigo Barnabé e o "Estudando o Samba" e o "Todos os Olhos" do Tom Zé são belas unidades de vida que eu queria ter (risos).

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Não me achem muito rebelde mas vou citar dois EP's e dois discos excelentes: "Amigos Imaginários", da Anelis Assumpção, "Mulher" da banda As Bahias e a Cozinha Mineira, "Nogueira" da banda Chico de Barro e "Café Frio" do Lau e Eu.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Recentemente mergulhei na música portuguesa e conheci a excelente banda Paus, Ornatos Violeta, Pedro Abrunhosa, António Variações e estou adorando tudo. De música brasileira, ouvi os excelentes trabalhos da Aline Lessa, da banda Facção Caipira, do projeto Dio&Baco e da música regional do Diego Marques.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Nenhuma que me lembre.

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Gostaria de conhecer mais artistas portugueses e fazer parcerias transcontinentais. (risos)

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Amaria abrir o show do Tom Zé, Lenine, Gilberto Gil ou Pedro Abrunhosa.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Como moro no Rio de Janeiro sonho em tocar no Circo Voador, já assisti muitos shows lá e seria a realização de um grande sonho. Quanto aos palcos internacionais quero muito participar de algum festival de verão na Europa. 

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Assisti recentemente o Tom Zé lançando seu último álbum, o "Canções Eróticas de Ninar - Urgência Didática" e o Arrigo Barnabé com banda completa tocando ao vivo o CD Clara Crocodilo, ambos no Circo Voador. Foi épico.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Eu ainda não consegui ver a Björk ao vivo nem o Stromae, gosto muito do trabalho deles e adoraria vê-los ao vivo.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Sem sombra de dúvida o Festival da Ilha de Wight de 1970, que teve Gil e Caetano, The Doors, The Who, Hendrix, Moody Blues, Emerson, Lake and Palmer, Supertramp, Jethro Tull, enfim o céu na terra, né? 

Qual o teu guilty pleasure musical?
Gosto de pop americano como Michael Jackson, Madonna e tudo que tiver uns beats incríveis com muito groove dançante.

Projectos para o futuro?
O 2º CD e um projeto de entrevistas com artistas independentes para o YouTube.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
"Aceita 200mil euros para produzir seu terceiro disco e uma tour na Europa? Aceito" (risos)

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Nossa, nunca pensei nisso. Mas gosto muito da ideia daqueles funerais irlandeses com muita bebida e músicas dançantes! Não sei se é verdade mas vi num filme e adorei a ideia.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Terminamos ao som do single "É o Fim", ilustrado por um vídeo 360º.

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