segunda-feira, 23 de abril de 2018

Conversas d'Ouvido com Luke Redmond

Entrevista com Luke Redmond, multi-instrumentista e compositor irlandês, que reside em Portugal há mais de uma década. Não fossem de gerações diferentes e a sua música poderia aparecer nos créditos de um Western de Sergio Leone. Nesta descontraída edição das "Conversas d'Ouvido", falamos de música, influências, concertos inesquecíveis, discos de uma vida e projectos futuros. Ficamos ainda a conhecer algumas bandas irlandesas que nos têm passado despercebidas, tudo isto e muito mais para descobrirem nas linhas que se seguem...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Luke Redmond: Lembro-me de querer tocar bateria quando era pequeno mas não sei porquê. Não ligava muito à música nessa altura. Aos 11 anos é que comecei a ouvir Green Day, que são uma banda muito importante para mim. São a primeira banda a que tomei mesmo atenção. Também ouvia muito Kaiser Chiefs, Franz Ferdinand e outras bandas britânicas que estavam a ter muito sucesso em 2005/2006.

Como é que vieste parar a Portugal há mais de dez anos?
Mudei-me para cá com a minha família em 2004. Vivíamos numa zona rural no sul da Irlanda onde havia poucas oportunidades de trabalho. E o clima no Algarve é ligeiramente melhor…
O teu mais recente single “Isola”, foi gravado no Porto, a preto e branco, em que medida a cidade foi uma fonte inspiração?
Esse tema foi inspirado pelo tempo em que vivi em Roma, em 2016. Para mim representa aquele sentimento de estar rodeado pela confusão da cidade, mas conseguir estar tranquilo e solitário. O Porto é uma cidade muito linda, consegue transmitir o mesmo sentimento e a Alice Guerra, que participa no vídeo, fez um excelente trabalho em demonstrar essa emoção. Eu e o Luís Oliveira, que editou o vídeo e também toca comigo, decidimos meter a imagem a preto e branco para ter aquele toque vintage. Inspiramo-nos em filmes como "Frances Ha" do Noah Baumbach e "Midnight in Paris" e "Manhattan" do Woody Allen.

Apesar de já estares em Portugal desde 2004, continuas atento à música irlandesa? O que é que temos mesmo que ouvir da tua terra natal?
Há várias bandas irlandesas que eu adoro, sendo uma delas os Appo & the Disappointments. Conheci-os quando vieram tocar ao Algarve no ano passado e ficamos grandes amigos. Vêm outra vez em Agosto, por isso é de aproveitar. Também Oh Boland são fantásticos, tocam garage rock muito energético, e New Pope é um cantautor mais do género folk, mas com elementos de dreampop.

Enquanto mentor de um projecto instrumental nunca sentes falta da voz?
Não. Quando estou a compor tento fazer músicas com várias partes diferentes, que nem sempre se repetem, por isso não acho necessária uma voz para manter o interesse no tema. Tento criar uma viagem do início ao fim da música.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Tento fugir o máximo a essa questão. Sou muito mau a tentar explicar o estilo. Normalmente digo música cinemática inspirado nos anos 60. Depois digo para irem ouvir. Depois vou-me esconder num cantinho qualquer. (risos)

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Vejo muitos filmes e séries. Influenciam muito a minha música. É uma boa desculpa para ver filmes. “Agora não posso, pai. Tenho de ver como a banda sonora encaixa no desenlace do filme”.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Cerveja grátis. (risos)
Uma coisa que acho interessante é que as pessoas olham para ti com um certo respeito porque sabes tocar mas ao mesmo tempo ficam duvidosos porque há aquela ideia que os músicos não têm um trabalho a sério, parece que estamos a fugir um bocado à realidade. É estranho.

Quais as tuas maiores influências musicais?
Os artistas que mais me influenciaram neste projeto são Nick Cave & the Bad Seeds, Mick Harvey, Saint Agnes e as bandas sonoras do Ennio Morricone e dos filmes do Quentin Tarantino e do Wes Anderson. Mas também oiço muitas bandas de psych-rock, principalmente King Gizzard and the Lizard Wizard e Thee Oh Sees e acho que isso nota-se em certas músicas. Outro artista que me influenciou imenso foi Escape Plan 1988, que é um grande amigo meu de Torres Vedras.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Uso muito o Spotify mas também gosto de colecionar vinil e CD's.

Qual o disco da tua vida?
"Bullet in a Bible" dos Green Day. "American Idiot" foi uma espécie de introdução para mim à banda e depois no Natal de 2005 os meus pais compraram-me o "Bullet in a Bible" e um leitor mp3, por isso foi a partir daí que comecei a ouvir muito mais música. E esse álbum vem com um DVD. Dá para ver o poder dos Green Day em palco.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
O novo disco dos Linda Martini. Estava a dar um dia no sistema de som na Fnac e tive de saber o que era.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Ando a ouvir muito Fleet Foxes, The War on Drugs, Stone Dead. A mais recente descoberta foi L.A. Salami. Também ando a ouvir muito.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Já fiz um concerto em que não me lembrava do início das músicas. Nem uma. E depois enganava-me nas passagens. Tudo corria mal. Isso foi com a minha primeira banda, em que tocava bateria. Os meus amigos tinham de cantar os riffs para que eu me lembrasse das intros para depois dar a contagem.

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Nick Cave ou Alex Turner, para mim são dos melhores letristas de sempre. E adorava tocar bateria com os Oh Sees.

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Adorava abrir pelos Nick Cave & the Bad Seeds, são uma grande influência minha. Além deles, Mark Lanegan. 

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Sem dúvida o Coliseu dos Recreios em Lisboa. Já assisti a concertos dos Biffy Clyro e do Hozier lá. O som é sempre fantástico e é um espaço tão bonito.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Talvez Mark Lanegan no Armazém F. Ele cria um ambiente tão intenso, é incrível. Também os Biffy Clyro no Coliseu dos Recreios, como já referi. Essa banda é muito importante para mim e finalmente vê-los ao vivo depois de tantos anos a ouvir, num espaço tão fantástico como o Coliseu, foi muito especial.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Ainda não vi Queens of the Stone Age mas vou vê-los ao Alive este ano. Neil Young também era brutal mas não sei se a oportunidade surgirá.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Qualquer concerto dos Pink Floyd nos anos 70.

Tens algum guilty pleasure musical?
Adoro ouvir a "Stayin’ Alive" dos Bee Gees na rua e fazer aquele andar de gajo fixe nos anos 70.

Projectos para o futuro?
Estou a gravar um EP, vai incluir a "Isola" e mais quatro temas e estou a trabalhar em alguns vídeos para acompanhar. Temos alguns concertos marcados para este Verão, vamos voltar a tocar com os Appo & the Disappointments.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
P: Alguma vez viste uma banda de rua a tocar e o percussionista tinha uma mandíbula de vaca na mão e estava a usá-lo como um reco-reco? R: Epá, claro. Quem nunca.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
Há uma banda chamada The Electric Peanut Butter Company que têm uma música chamada "Christophe Waltz" que é mesmo a minha onda. O meu amigo diz que que parece algo composto por mim. Quem me dera…

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
"Low Rider" dos War. Mas vou dizer às pessoas que é a "Hurt" do Johnny Cash. Pensam que vai ser muito triste e depois começa aquela intro de cowbell. Se não tivesse morto ria-me um bocadinho.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Terminamos precisamente ao som de "Isola", com um belíssimo vídeo clip a acompanhar filmado na cidade do Porto.

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