sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Conversas d'Ouvido com Ventre

É com enorme prazer, que apresentamos a entrevista com os Ventre, pela voz do baixista Hugo Noguchi. Uma das mais proeminentes bandas do panorama alternativo brasileiro. Trio composto ainda por Larissa Conforto (bateria) e Gabriel Ventura (voz, guitarra). Editaram recentemente o EP "Saudade (o corte 切り)", que assinala um hiato por tempo indeterminado. Nesta descontraída conversa fazemos uma retrospectiva dos últimos seis anos e como não poderia deixar de ser projectamos o futuro. A grande questão que ficará no ar, é saber se este interregno é um até já ou um adeus definitivo, mas isso só o futuro nos dirá...

Oi gente, Hugo da Ventre aqui.

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Hugo Noguchi: Difícil dizer, mas minha vó me dizia que minha mãe falecida costumava botar música para me consolar em sua ausência enquanto ela estava ocupada fazendo outras coisas.

Já deves ter respondido a esta questão inúmeras vezes, mas como surgiu o nome Ventre?
Carlos Posada, nosso amigo com quem temos outra banda (Posada e o Clã), deu esse nome.

Quando iniciaram o projecto, imaginaram que iam chegar ao patamar que atingiram, uma das bandas mais reconhecidas da nova música brasileira?
Acho que quando começamos mesmo não, era mais para nos encontrarmos para tocar. Mas em algum momento a ficha caiu, que as músicas realmente eram muito boas e que íamos para um algum lugar com elas.
Ventre - "Saudade (o corte 切り)"
Editaram recentemente o EP “Saudade (o corte 切り)”, gostaríamos de conhecer o significado do intenso título deste EP? 
Saudade, como você sabe, é um termo usado para descrever essa complexa sensação ao mesmo tempo amarga e doce advinda da ausência. Doce porque o que se foi era algo bom, amargo porque o que era bom se foi. O Corte vem da junção do kanji de ventre (hara) com o de corte (kiri), que dá em harakiri, ou seppuku, o famoso ritual suicida japonês.

Para quem ainda não o ouviu o que podemos esperar?
São músicas complexas e diretas ao mesmo tempo.

Este EP, assinala um hiato na vossa carreira. Presumimos que a decisão não foi tomada de ânimo leve, foi muito pensada?
Foi sim, por todo(a)s nós. Não foi fácil mas foi o melhor a ser feito.

É um até já, um adeus definitivo, ou só o futuro trará a resposta?
Vou na última opção.

Segundo sabemos os músicos têm um constante desejo de aventura e de experimentarem novos projectos, é o teu caso? O que podemos esperar nos próximos tempos?
Você está certíssimo. Eu já lancei um Compacto Visual chamado "SATORI/VAZIO" sob a alcunha de hugo, e ainda vou lançar mais quatro músicas esse ano. Estou terminando de produzir o segundo disco da Barcamundi junto a eles (esse é o primeiro single do disco:  "Leito Frio"; ainda com minha produção, saíram os discos "Se Quer Aventuras" da Contando Bicicletas (que produzi junto à Pedro Tambellini, incrível guitarrista da banda Mara Rúbia e o disco de estreia de Luíza Boê. A SLVDR tá preparando um ep novo e o Posada e o Clã tá trabalhando o disco que lançamos ano passado e nos preparando para os próximos passos. 

Lari tá tocando com o Paulinho Moska, terminou recentemente uma turnê nacional com o Vítor Brauer e deve estar cheia de outros planos ainda não ditos, conhecendo a mulher.

Gabriel tá tocando com o Cícero, produzindo um som com a Duda Brack, tocando com a gente no Clã e continua sendo roadie do Lenine.

Agora queremos conhecer-te melhor enquanto músico. Quais as tuas maiores influências musicais?
Como baixista amo muito o John Entwistle e The Who, até hoje é engraçado como me faz bem ouvi-lo tocar. Amo muito o Aston Barrett também, considero que ao ouvir o Bob, você não ouve só um génio, mas muitos gênios em ação, em destaque o Aston. Mas agora na minha fase cinco cordas minha maior referencia é o Thundercat e como produtor o Flying Lotus, diria que são minhas maiores referencias atuais. O segundo disco do Kendrick Lamar "Good Kid, M.A.A.D City" também é muito importante para mim.

Conheces alguma coisa da música portuguesa?
Gostava muito de uma banda chamada Toranja, procurei no Google aqui, parece que acabou né? Ouvi bastante o primeiro disco deles, back in the days.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Posso dizer que fotografia, cinema, alguns mangás bem específicos, animais e plantas.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Viver de amor, pois música é amor. Mas amor não é valorizado em nenhum lugar do mundo.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Acaba sendo streaming, mas eu ando apaixonado pelo aplicativo do bandcamp pra descobrir coisas novas, você monta uma timeline com seus gostos musicais e ele fica lá atualizando. Uma timeline de música!!! O blog no site deles é ótimo pra garimpar coisas novas também.
Qual o disco da tua vida?
Fico entre o "Babylon by Gus volume 1 - O Ano do Macaco" do Black Alien e o "Live at the Royal Albert Hall" do The Who.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Ultimamente quem mais me toca não trampa muito com discos, a galera do trap e tal. Mas posso dizer que talvez seja o "A Seat at the Table" da Solange.

Qual a tua mais recente descoberta musical?
Tem um ep de rap brasileiro que eu gostei muito, chama GÁBE – "Anbu (A Teoria das Máscaras)" e um rapper coreano chamado grack thany que é muito bom, eu não entendo nada do que ele diz, mas o flow e as bases são incríveis, é meio rap progressivo, sei lá...

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Um bêbado xenófobo ficar me xingando porque não tocava slap.

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Tuyo.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Fuji Festival.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Provavelmente Deftones no Rock in Rio e Thundercat no Cine Jóia.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Esperanza Spalding, Solange ou Beyoncé.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
The Who em Kilburn, em 1977.

Tens algum guilty pleasure musical?
Não acredito nisso, amo e assumo tudo que amo.

Projectos para o futuro?
Meu trabalho solo, um selo voltado para divulgar pessoas não-brancas chamado Selo Diáspora, uma marca de roupas com roupas usadas e produzir mais discos.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
Como é ser um asiático-brasileiro no meio musical? A resposta: Às vezes legal quando consigo passar minha mensagem sem intermediários e quando encontro outro(a)s, mas na maioria das vezes chato pela fetichização e preconceitos, mas estou trabalhando para mudar isso.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
"Never Catch Me", do Flying Lotus, ou "From Hell do Céu" do Black Alien.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
"I'll See You In My Dreams", na versão do Concert for George.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Obrigado você! Espero que esteja tudo certo por aí ^^ Nos encontramos em breve se tudo der certo.

Antes de terminarmos, ficamos precisamente ao som do EP “Saudade (o corte 切り)”...

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