sexta-feira, 3 de maio de 2019

Conversas d'Ouvido com OA

Entrevista o músico brasileiro Raphael Moraes, que se reinventa no seu projecto a solo OA. Entre o indie e o experimental, OA, é um vislumbre de algo belo, música e estética visual em perfeita sintonia. Recentemente divulgou o single de estreia "Céu 1", em Junho planeia lançar o primeiro disco, por enquanto é a vez de se apresentar em Portugal nesta edição das "Conversas d'Ouvido"...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
OA: Surgiu desde pequeno. Quando criança, nos anos 80 e no interior do Paraná, eu vi o Chuck Berry na televisão e lembro da sensação absurda de querer ser como ele. Ali nasceu a conexão com a música e as primeiras aulas de violão, aos 6 anos. A música deu uma parada até eu vir morar em Curitiba. Aos 13 anos voltei a ter relação com a música e montar minhas primeiras bandas. E a música tinha a ver com um encontro comigo mesmo e também com as relações de amizade que eu fazia.

Como surgiu o nome OA?
OA é como um caminho que pode levar pra vários fins. É um nome que dá liberdade de interpretação pra mim e pra nós que estamos por trás do projeto, assim como pra quem tem contato com ele como público. OA pode significar começo ou recomeço. Em japonês OA é um anagrama para "AO", que significa AZUL (). E que em Maori significa universo. São muitos os caminhos. A inspiração do nome veio de um livro autobiográfico escrito por Santos Dumont. Em “Meus Balões”, o aviador e inventor contrapõe a noção de que o que voa é mais pesado que o ar com a constatação de que havia feito um navio voar no céu. Das ideias de densidade e leveza, aparentemente opostas, surgiu a metáfora ideal para o novo projeto. Inicialmente batizado de “O mais leve que o Ar”,  passou para “O AR” e se tornou apenas “OA”.
OA - "Céu 1" - single
Ao vermos, o videoclipe do teu primeiro single “Céu 1”, ficamos com a sensação que a tua música denota uma elevada preocupação estética, é só impressão nossa?
Vocês estão certos. Para mim música sempre foi sinestesia. Ouvir, sentir, ver. E por eu ter uma relação forte com o audiovisual, já que sou diretor de vídeos, faz com que uma coisa esteja relacionada com a outra. Durante a produção do disco, eu e o produtor musical Gustavo Schirmer conversávamos sempre sobre que imagens víamos ao ouvir os sons. E esse acaba sendo um caminho natural pra mim e para o OA.

Em Junho irás editar o disco de estreia, já podes levantar um pouco o véu sobre o que podemos esperar?
Acredito que é um disco passional e que evoca sensações, emoções. E aí cada um o sentirá de um jeito. Pode ser um bom disco pra viajar, pra refletir sobre a vida, pra dormir, pra meditar, pra dançar. Nosso primeiro álbum evoca um contato do ouvinte com ele mesmo. E não do ouvinte com o artista, em primeiro plano. Pelo menos essa é nossa ideia e o que buscamos.

Quais as tuas maiores influências musicais?
São muitas. Nunca tive ídolos, porém tive muitas referências e influências musicais por períodos. Creio que a música brasileira me influenciou muito como compositor e hoje em dia as minhas maiores referências são de artistas como Oláfur Arnalds, RY X, James Blake, Bon Iver, Sigur Rós, Yann Tiersen e Chilliy Gonzales, por exemplo. Alguns estão super presentes no que produzo e outros estão no dia a dia, na influência que geram quando eu os escuto e os absorvo.

Conheces alguma coisa da música portuguesa?
Posso dizer que sou um amante da música portuguesa. Desde sempre gostei de fado, das suas composições e drama. Em fevereiro deste ano pude passar alguns dias em Lisboa e rodei várias casas de fado, como a Tasca do Chico, e foi muito marcante. Adoro a entrega dos fadistas. Além deles gosto muito da nova música pop portuguesa que tem uma conexão muito forte com os cancioneiros brasileiros. Artistas como António Zambujo, Márcia e B Fachada, por exemplo. Gosto muito de ouvi-los.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
O cinema com certeza é uma grande paixão. Gosto de assistir a documentários, séries e filmes, além de produzir também. Adoro conceber o material áudio visual para outros artistas. É sempre um privilégio mergulhar em outras histórias e mentes criativas.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Escuto praticamente apenas por streaming, pois escuto muito no carro e caminhando. É uma ótima opção também pra descobrir novos sons e novos artistas.

Qual o disco da tua vida?
Muito difícil de responder. Posso responder o disco que mais escuto no momento, que é o "Island Songs", do Oláfur Arnalds.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
O último disco do RY X, chamado “Unfurl”, não sai dos meus fones. Acho lindo mesmo. Moderno, pulsante, atmosférico, melódico. Ele me transporta pra vários novos mundos que eu não conhecia antes de ouvir o som.

Qual a tua mais recente descoberta musical?
Uns tempos atrás descobri a Vancouver Sleep Clinic. E ando curtindo bastante.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Em um show em São Paulo com um antigo projeto musical, na hora de entrar no palco, caí no vão que existia entre a parte que ficava atrás da cortina e o palco. Lembro de ouvir um “oooooowww” da plateia que reagiu assustada. Mas consegui me reerguer e rir de mim mesmo junto com o público antes de começar o show. Sorte que nada mais grave aconteceu. 
Fotógrafo - Thiago Prestes
Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
São muitos os possíveis citados. Acho que todo artista que admiro poderia render uma parceria, seja ele mais próximo ou mais distante. A princípio tudo que vou citar fica no campo platônico, mas vai lá! De Portugal, eu posso citar António Zambujo, Márcia ou Luísa Sobral. No Brasil, adoraria ter o privilégio de construir algo com os grandes como Caetano Veloso e Lenine, além de artistas da nova geração como Criolo e Tim Bernardes.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Posso citar espaços em São Paulo, no Rio de Janeiro e em outras partes do Brasil. Ou ainda o Coliseu, em Lisboa, ou o BOZAR, em Bruxelas. Mas independente desses sonhos, o que mais queremos é nos apresentar e da forma mais acolhedora possível. Queremos tocar! Todo lugar que nos permita construir uma relação entre nossa música e o público será sempre especial. Seja em Curitiba, São Paulo, Buenos Aires ou Lisboa.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Dois me vêm à cabeça agora. Lá por 2005, assisti a um concerto do Madredeus em Curitiba e foi emocionante. E agora em 2019, pude assistir Yann Tiersen no BOZAR, em Bruxelas, e foi realmente especial.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
RY X, Oláfur, e finalmente vou realizar a vontade de assistir Caetano Veloso ao vivo agora em maio.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Não foi bem um concerto, mas gostaria de estar presente no registro do Pink Floyd em Pompeia. A junção do som e do lugar deve ter sido única.

Tens algum guilty pleasure musical?
Por incrível que pareça, não consigo lembrar de um guilty pleasure musical agora. Sei que devo ter. E assim que descobrir ou lembrar conto pra vocês! 

Projectos para o futuro?
O futuro é esse primeiro disco do OA. Colocá-lo no mundo com carinho e cuidado para que o próximo possa vir logo, encaixado. Acho que meu maior desejo na música é ter motivação para continuar criando e produzindo novos materiais. 

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
Conversar é uma das coisas que mais gosto de fazer na vida. E quando isso envolve reflexão sobre percepções em relação ao mundo e à arte, é sempre muito gostoso. Então, como eu não consigo pensar em uma pergunta específica, eu gostaria de ter cada vez mais diálogos sobre esse tipo de assunto e talvez também sobre a percepção de pessoas que de alguma maneira venham a se identificar com o som do OA. Sobre o que elas sentem e refletem. E aí qualquer pergunta ou resposta será bem-vinda.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
"Luz do Sol", do Caetano Veloso. Gostaria também de ter feito parte da construção da ideia da faixa “Árbakkinn”, do álbum "Island Songs", de Oláfur Arnalds. Acho linda a declamação e a poesia com a trilha musical sendo construída ao fundo. Não é sempre que as coisas se encaixam de forma tão natural, espontânea e potente.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
“Árbakkinn”. A poesia dela fala muito sobre a relevância das coisas e o passar do tempo na vida. 

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Para o fim, guardamos a música de OA, precisamente com o vídeo que apresenta o single "Céu 1"...

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