sexta-feira, 8 de junho de 2018

Conversas d'Ouvido com Ventilador de Teto

Entrevista com a irreverente banda brasileira Ventilador de Teto, Projecto formado por Elvis Gomes (voz, guitarra), Marcos Gabriel (voz, guitarras), Victor Ramalho (baixo) e Lucas Boldrini (bateria). Gostam de descrever a sua sonoridade como rock fluid e parece-nos bem porque a música dos Ventilador de Teto, flui pelo indie rock, pop, folk e breves incursões no psicadélico. Este ano vão para editar o disco de estreia, enquanto esse dia não chega, preparem-se porque podemos antecipar uma das edições mais descontraídas e divertidas das "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Marcos Gabriel (MG): Eu acho muito foda estar sendo entrevistado por um blog português. Vocês aí estão em Portugal e eu tô sentado em frente ao meu computador, no meu cafofo no subúrbio do Rio de Janeiro. E vocês, que estão em Portugal (já que são portugueses...), ouviram as músicas que eu fiz, as músicas que eu escrevi mentalmente - repetindo para mim mesmo as palavras enquanto ia pra, sei lá, uma padaria em Ricardo de Albuquerque (aquele bairro esquecido até mesmo pelos suburbanos cariocas), ou voltava pra casa no transporte público, ou qualquer coisa do tipo - vocês ouviram essas músicas que eu escrevi na adolescência, essas músicas sobre se sentir sozinho, essas músicas sobre ter tesão, sobre morar no subúrbio do Rio, e de alguma forma, acharam alguma coisa nelas que ressoou com elementos das suas próprias vidas, alguma coisa com a qual vocês se conectaram. Acho que isso responde sua pergunta. Essas coisas de fazer arte surgem por necessidade e eu tinha uma necessidade muito grande de me comunicar.

Como surgiu o nome Ventilador de Teto?
MG: Culpa do Elvis.
Elvis Gomes (EG): Culpa do Marcos.

Descrevem a vossa música como “Música que soa mal e não faz sentido”, nós já ouvimos e é mentira, a vossa intenção é diminuir as expectativas? (risos)
EG: Não é  isso. Auto-depreciação é meio intrigante também, porque você precisa escutar pra confirmar que é ruim, por exemplo. Funciona mais do que falar “escuta a minha banda que ela é muito boa, confia em mim”. Porque, na real, todo mundo acha que sua própria banda é boa e todos sabemos que 90% dessas pessoas estão erradas. Então, se a gente baixa as expectativas pros outros, a culpa não é nossa se nego realmente achar ruim - porque nós avisamos etc, etc. Agora, se acharem bom, tamo no lucro e é isso aí. (risos)
MG: Ah, não sei, mano. Eu sempre me achei foda, mas eu tinha medo de que as músicas soassem melhor na minha cabeça do que no mundo real. Acabamos apelando pra ironia pra despistar as pessoas - algo do qual não me orgulho -, mas a verdade é que a gente sabe que as músicas são boas. Vocês não podem se esquecer que, afinal de contas, essa é a banda cujo user no TT e no Instagram é @vdtehfoda.

Como gostas de descrever o vosso estilo musical?
EG: Rock fluid. Por muito tempo eu disse indie rock pra uns, folk rock pra outros, e ultimamente tenho usado até pop rock quando tô me sentindo mais confiante. Mas rock fluid é infalível. É engraçado e é verdadeiro. Nosso disco, o Debute, que vamos lançar ainda esse ano, pula de folk rock romântico pra indie rock e até um quase punk numa velocidade incrível. Não tem como dar um único gênero pra isso, mas como faz parte da burocracia, é só chamar de rock fluid que tá tudo certo.

Conhecem alguma coisa da música portuguesa?
MG: Só aquela música d'O Vira lá, mas é porque, não sei se vocês sabem, mas no Brasil ela foi sucesso. Tem uma versão com letra de putaria dela de uma banda chamada Mamonas Assassinas. E tem também uma música de uma banda BR, uma dos anos 70 chamada Secos e Molhados, que também se chama O Vira e que brinca com uns elementos portugueses. Inclusive, abri a Wikipédia aqui e tô vendo que Vira na verdade é uma dança típica de vocês, mas, aparentemente, é chamada de “rancho” por aí. Confere?
Confere (risos)

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
MG: Cinema. Coisa que eu mais amo. Minha verdadeira paixão são os filmes.
EG: Escrita. Tenho esse sonho de ser escritor também. Tenho uns contos escritos e um dia eu vou juntar todos eles e lançar um livro, esse é o plano. Isso porque acho que eu nunca vou me contentar com o sucesso da banda, afinal eu teria que dividir o glamour com os outros. Mas se eu publicar um livro com o meu nome e meu nome apenas, daí o mérito é todo meu. Acho que isso é um legado mais memorável do que, sei lá, ter um filho. (risos)
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
EG: A vantagem é ter o seu ego inflado o tempo todo. Acho que é por isso que tem um bando de Barbudinho-Tocador-De-Violão fazendo música meia boca por aí. Só pra dizer que tem. Porque sempre surge um pessoal falando “nossa, cara, você é talentoso.” Dica: 90% dessas pessoas tão mentindo. Só espero que não estejam mentindo pra mim também (risos)... Quanto à desvantagem de ser músico: ter que gastar dinheiro pra caralho o tempo todo.
MG: O dinheiro é foda mesmo. Esse papinho de fazer música por amor é muito bonito, mas só serve pra quem é sustentado pelo papai e pela mamãe. Eu quero mais é ser pop e mainstream pra ter dinheiro, não quero ser gênio incompreendido vivendo no porão da casa dos pais. Se fosse pra fazer música pra duas ou três pessoas eu nem faria, pra começo de conversa.

Quais as vossas maiores influências musicais?
MG: Dylan, Velvet, Beatles, Smiths, Talking Heads. Música brasileira sempre foi inteligente demais, então nunca consegui copiar. Tô nessa luta ainda.
EG: A gente plagiou uma música do Jorge Ben Jor, pô, então tu já conseguiu copiar brasileiro. Pode conferir aí: "Taj Mahal". Mesmos acordes de "Nu". Pra ser sincero, Jorge Ben Jor tem muita música plagiável. Nesse exato momento eu tô tentando plagiar "Rita Jeep" dele.

Como preferem ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
EG: Streaming. Sou escravo do Spotify. Me processe.
MG: Não tenho dinheiro pra ficar comprando mídia física das coisas. Só ouço música pela conta do Spotify da minha namorada.

Qual o disco da vossa vida?
EG: "The Velvet Underground and Nico".
MG: "Blonde on Blonde" (Dylan).

Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
EG:"Tranquility Base Hotel & Casino". O último disco dos Arctic Monkeys. Aquele lá que tá gerando controvérsia e tudo o mais. Quer dizer, eu tenho uma paixão especial por música classuda e transante, então o disco caiu como uma luva para mim. Não diria que é um 10/10 nem de longe, mas tem tanta coisa degustável nele que ele merece entrar aqui. 
MG: Tem alguns que eu peguei pra ouvir recentemente e curti: O primeiro do The Clash e o "Sandinista!"os dois primeiros do LCD Soundsystem (principalmente o primeiro); o segundo dos Stooges. Acho que só.

O que andam a ouvir de momento/Qual a vossa mais recente descoberta musical?
EG: Pinback. Descobri por acaso e a banda me pegou de primeira. Num exemplo, a faixa "Fortress" tem esse refrãozinho que começa dizendo “Pare, eu me sinto frustrado” numa voz meio aguda, falhada e gritada que me matou. Foda é que mostrei pro Marcos e ele cagou pra indicação, disse que não faz o estilo dele. Isso foi meio traumático pra mim, daí tô tendo dificuldade de continuar escutando os caras. (risos)
MG: Caralho, nem lembro dessa porra. Vou até ouvir de novo aqui quando eu sair do curso. Bagulho mais pica que eu comecei a ouvir em 2018 se chama LCD Soundsystem. "Get Innocuous!" é perfeita

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
EG: Acho que toda vez que eu tenho que passar o som no microfone e ficar falando “alô, oi, teste” e essas coisas. É sempre embaraçoso. Não importa o quanto eu tente fazer tudo certinho para a próxima vez, eu sempre acabo tentando fazer gracinha no microfone e aí todo mundo olha pra mim com cara de bunda. Nunca muda. É que nem pedir comida no Subway. Eu sempre travo quando perguntam qual o tipo de pão, mesmo que eu sempre peça a mesma coisa.
MG: Teve um evento de Dia dos Namorados e rolou correio do amor. Então eu li os bilhetes e tudo mais e acabei debochando do nome de uma menina, disse algo do tipo “caralho, que nome escroto”. Fiquei me sentindo muito mal depois, mesmo pedindo desculpas pra garota. Eu acabo sendo cuzão no palco, tenho que parar com isso.

Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria?
MG: Tom Gangue.
EG: Anna Triz. É uma menina talentosíssima que lançamos no nosso selo, a Valente Records. Ela tem um vozeirão absurdo e um estilo de composição igualmente absurdo. Uma hora rola ofeat com ela. Deus queira que seja um hit. Além disso, eu topava fácil uma parceria com o Filipe Alvim. Pena que ele só cola com gente descolada.

Para quem gostariam de abrir um concerto?
MG: Ah, mano, eu não quero abrir show pra ninguém. Tipo, se chamarem e for uma banda legal é claro que a gente vai, mas eu não passo meus dias pensando “ai, um dia ainda vou abrir show pra tal banda”.
EG: Duvido. Tá se fazendo de indiferente só porque é entrevista pra gringo. Ficou todo felizinho quando a gente abriu pra Séculos Apaixonados e agora tá fingindo que não liga pra esse tipo de coisa, vê se pode. (risos)

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
EG: Lollapalooza. Sem dúvidas. Sei lá, acho que só gosto de me imaginar pop o suficiente pra isso. Pra mim é o auge do que podemos atingir.
Qual o melhor concerto a que já assistiram?
MG: Show do Seu Jorge em 2015. O cara manda demais.
EG: Arctic Monkeys em 2014. Pode me julgar o quanto for, mas o show foi pica.

Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
MG: Eu ia gostar de ver um show do Kendrick ao vivo.
EG: The Strokes. Perdi eles no Lolla ano passado e isso deve estar no top 5 dos meus maiores arrependimentos.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostariam de terem estado presentes?
MG: O de 66 do Dylan no Royal Albert Hall.
EG: The Velvet Underground no Max’s Kansas City. Tem no Youtube. Pode pesquisar. 

Têm algum guilty pleasure musical?
MG: Não, tudo que eu gosto, eu gosto sem culpa.
EG: Ed Sheeran.

Projectos para o futuro?
MG: Gravar mais dois discos e entrar num hiato por tempo indefinido.
EG: Depois do hiato, lançar o livro que eu mencionei ali em cima. Pode anotar.

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
MG: Não sei. Eu gostei de todas as perguntas, ainda mais porque tudo que vocês falam parece extremamente formal. Aqui no Brasil ninguém diz “vós” desde o século XIX. Talvez eu quisesse que vocês pedissem pra eu falar sobre alguma letra em específico, só pra eu poder dizer que não explico letra. (risos)
EG: Nunca pensei nisso. Na real, vou mudar a sua pergunta para: “que pergunta gostaria que nunca fizessem?” E a resposta é: “por que Ventilador de Teto?”. (risos)

Que música de outro artista, gostariam que tivesse sido composta por vocês?
MG: Talvez alguma da primeira fase dos Beatles, alguma daquelas idiotas da era pré - "Rubber Soul". Acho aquelas músicas perfeitas.
EG: Já que tamo falando de Beatles: "Something"Sem dúvida.

Que música gostariam que tocasse no vosso funeral?
MGPulled Up.
EGTiny Tim - "Living in the Sunlight."

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte no futuro.
Terminamos com o irreverente som dos Ventilador de Teto e do mais recente single "Karina"

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