quarta-feira, 4 de julho de 2018

Conversas d'Ouvido com Antiprisma

Entrevista com Antiprisma, duo brasileiro composto por Elisa Moreira (voz, guitarra, bateria) e Victor José (voz, vila caipira, baixo e percussão). A sua sonoridade enquandra-se na vastidão folk, no entanto não se limita num estilo pré-definido, navegando pelo rock e pelo psych. Nesta descontraída conversa, recuamos ao passado e ao início da paixão pela música, mas também falamos do presente. Recentemente ficaram rendidos ao trabalhos de My Magical Glowing Lens e Cinnamon Tapes, entre as maiores influências encontramos o post-punk, o rock progressivo, mas também o folk e a pop. No futuro gostariam quiçá de tocar em Portugal, ficaremos à espera para ver o que o futuro lhes reserva, por enquanto vamos conhecê-los melhor nesta edição das "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Elisa Moreira (EM): Surgiu desde sempre! Não consigo me lembrar de uma época em que não fui apaixonada por música, desde criancinha eu achava música uma coisa especial e brincava de cantar e dançar. Mas foi na adolescência, ouvindo Nirvana que comecei a pegar gosto por tocar e compor, querer formar uma banda e me expressar através da música. 

Como surgiu o nome Antiprisma?
EM: Nós já estávamos com o projeto montado e já tínhamos várias músicas e queríamos divulgá-las, mas não tínhamos um nome ainda. Nós chegamos a nos chamar “Vidro”, mas desistimos desse nome porque todo mundo dava risada e achava muito estranho quando falávamos, (risos). Além disso, fizemos a numerologia e não era muito bom, ainda bem que desistimos desse nome! Foi bem difícil escolher, passamos quase um mês inteiro pensando em nomes, até que um amigo nosso sugeriu alguns nomes, entre eles “Antiprisma”. Logo de cara esse nome se destacou e acabou combinando com a gente. 

No novo single “Fogo Mais Fogo” contam com a participação especial de Gabriela Deptulski, como foi trabalharem juntos?
Victor José (VJ): Foi incrível, a gente sabia que iria funcionar. Apesar de nossos projetos serem diferentes, nossas ideias são muito parecidas, o diálogo é fácil. Com certeza Gabi trouxe uma cor muito especial e me deixa muito feliz ouvir o que ela fez.

Este single antecipa a edição do segundo disco, já podem revelar o que podemos esperar?
VJ: Estamos em um período de expansão e com muita vontade de ver que outros frutos podem sair do Antiprisma. Então com certeza vai ter muito do que mostramos no nosso EP e no primeiro álbum “Planos Para Esta Encarnação”, que é nossa essência, mas também existem outras características na nossa personalidade e agora estamos com uma boa oportunidade para mostrar tudo isso. Ás vezes com mais elementos no som além de violões e viola caipira, outras mais experimentais. 

Conhecem alguma coisa da música portuguesa?
VJ: Curto o som de José Cid, aquele esquema prog no auge do gênero. Também gosto da Deolinda, a voz dela é muito linda.
EM: Eu não conheço muito, gostaria de conhecer mais! Mas um amigo mostrou a banda Madredeus, as músicas são bem bonitas.

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
VJ: Certamente não pensamos em nós como um duo exclusivamente folk. Creio que oferecemos mais do que o folk, que por sinal é algo que gostamos muito. Tenho dificuldade para dizer o que realmente nos define. Folk rock rural & urbano mezzo psicodélico mezzo sóbrio com um pé no post punk... que tal? 
EM: A Gabi [Gabriela Deptulski] uma vez definiu nosso som como “sonic folk”, eu gostei!

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
VJ: Livros! Adoro o livro como objeto e sempre estou lendo alguma coisa, principalmente romances e muito daquilo que chamam erroneamente de esoterismo.
EM: É uma paixão até que recente na minha vida, mas estou numa fase forte de fotografia.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
VJ: A maior vantagem é a possibilidade de você se expressar plenamente e de modo que perdure até quanto for possível, acho que poucas coisas no mundo são capazes de oferecer essa satisfação. Por outro lado, é tudo muito difícil, tudo deve ser batalhado com muito suor, mas não saberia dizer se dá para chamar isso de desvantagem. Faz parte de toda realização. O que realmente é triste e impeditivo é a falta de incentivo e de interesse pela cultura, algo que vejo crescer, de um modo geral. Estamos vivendo uma fase um tanto quanto nebulosa no Brasil. 

Quais as vossas maiores influências musicais?
VJ: Pergunta muito difícil! Tenho muito carinho pelas bandas clássicas como Stones, Zeppelin, Beatles... Estão para a música pop como Shakespare ou James Joyce para a literatura, não tem como virar as costas para isso. Por outro lado, sempre que penso em um único artista que guardo um carinho especial é Milton Nascimento. De 1967 a 1978 ele só fez discos perfeitos. Queria ter feito algo como aquilo. A cena californiana da década de 1960 também me surpreende, Jefferson Airplane, Grateful Dead, Byrds... O pós-punk do Bauhaus, Cure, Siouxsie and The Banshees... tanta coisa! 
EM: Apesar de eu gostar de muita coisa, todas essas que o Victor falou, também Velvet Underground, além do folk britânico dos anos 60 tipo Bert Jansch e The Incredible String Band... Mas acho que as duas bandas que mais pesam pra mim enquanto influência na hora de compor e estruturar a música são Pink Floyd e Sonic Youth. A simplicidade e minimalismo do pós-punk também me influenciam bastante. 

Como preferem ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
VJ: Streamings é o que tenho mais utilizado. Mas gosto de CD e LP, do formato físico, com capa, encarte etc. É uma outra experiência.
EM: Atualmente eu praticamente só ouço por streaming, mas sinto falta do “ritual” de sentar para ouvir um disco, como fazia na época dos CD's. 

Qual o disco da vossa vida?
VJ: Fico entre "Beggars Banquet", dos Rolling Stones, e "Forever Changes", do Love. Quase tudo o que mais me agrada está nas músicas desses dois discos. 
EM: Acho que "Animals" do Pink Floyd? Ou talvez "Sister" do Sonic Youth... Não sei, que difícil!
Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
VJ: Por incrível que pareça, o álbum que mais me chamou atenção ultimamente já é bem antigo, que é “Head Over Heels” do Cocteau Twins. Nunca tinha dado a devida atenção, sabe? Mas é uma coisa maravilhosa, mesmo! A meu ver, dialoga bem com muitas coisas atuais. Ele também impactou a Elisa e de certa forma vem nos influenciando em algumas composições. Gosto muito de observar o que está próximo da gente, mais até que a cena indie consolidada internacionalmente. Os discos “Cosmos”, da My Magical Glowing Lens, e “Nabia”, da Cinnamon Tapes, me cativaram de verdade. As pessoas precisam ouvir mais disso. 
EM: Nessa semana, sem querer, acabei me deparando com o disco "Nightclubbing", da Grace Jones. Nunca tinha ouvido e a capa me chamou muita atenção. Viciei, escutei diversas vezes seguidas, fazia anos que isso não acontecia comigo!

O que andam a ouvir de momento/Qual a vossa mais recente descoberta musical?
VJ: Khruangbin é uma banda muito massa, é aquele tipo de coisa que dá pra escutar o dia todo. Altin Gün também é bem legal, uma mistura bastante criativa. 
EM: Além da Grace Jones, que descobri essa semana, Khruangbin realmente me pegou também, sempre colocamos pra tocar.

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
VJ: No show de lançamento do nosso primeiro álbum - nossa apresentação mais importante até então - minha viola parou de fazer som. Chequei e vi que a bateria do captador tinha acabado. Por sorte eu tinha uma de reserva, mas na hora de trocar aquilo emperrou e não queria sair de jeito nenhum! Pensei "pronto, acabou o show", isso porque metade daquele setlist era com viola caipira. Fiquei meio sem saber o que falar, a Elisa me olhando com uma cara tensa. Sei que no desespero consegui arrancar aquilo e veio junto um bom pedaço da minha unha. Mesmo dolorido, no fim deu tudo certo, mas naquele momento o show podia ter encerrado ali por causa de uma bobagem dessas, imagina o vexame?
EM: E foi tenso mesmo, porque era em um lugar grande e ficou aquele silêncio horrível, todo mundo ficou preocupado também, dava pra ver! (risos)

Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria?
VJ: David Crosby ou Milton Nascimento.
EM: Nossa, não sei! Talvez com Melody Echo Chamber. Ou o Robert Plant, já pensou que legal? 

Para quem gostariam de abrir um concerto?
EM: Falando em David Crosby, acho que seria legal o Antiprisma abrir pra um show dele. Melhor, o show de reunião do Crosby, Stills & Nash seria foda.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
EM: Ah, acho que o Fillmore em São Franciso, na Califórnia. Pela história do lugar e também porque parece ser um lugar bem legal de tocar, não é muito grande e parece ser bem bonito. 

Qual o melhor concerto a que já assistiram?
VJ: Não sei dizer. Mas pensando sobre isso agora veio na minha cabeça um show do Mark Lannegan incrível, em que ele apenas cantava acompanhado de um rapaz tocando violão. Sem firulas, sem bis e praticamente sem falar com a plateia. A voz dele me deixou hipnotizado.
EM: Acho que foi um show do Sonic Youth, em 2005. Foi na época do disco "Sonic Nurse", um dos meus discos favoritos deles. 

Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
VJ: Warpaint me parece bastante poderosa ao vivo. Gostaria muito de ver de perto.
EM: Sim! Warpaint eu gostaria muito de ver também.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostariam de terem estado presentes?
VJ: Muitos! Talvez o Unplugged, do Nirvana, ou os Beatles, no Shea Stadium... difícil escolher! No fim das contas ficaria com Jefferson Airplane, no Woodstock.
EM: Unplugged do Nirvana, com certeza! 

Têm algum guilty pleasure musical?
VJ: Não sei bem se enquadraria nesse quesito, mas gosto demais de Carpenters. O pessoal diz que é cafona demais, mas na real é uma coisa linda! Karen Carpenter manda muito bem.
EM: Eu gosto de Hanson.

Projectos para o futuro?
VJ: Tocar mais, fazer mais músicas, tocar o sentimento de mais pessoas, conhecer mais lugares... quem sabe Portugal? No fim das contas a gente tem que se divertir, acho que essa é a nossa prioridade para o futuro.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
EM: “Qual sonho você sonhou que mais gostou?” Uma vez sonhei que estava voando por cima de umas dunas e montanhas de gelo e passei por um cara vestido de vermelho, depois descobri que era um monge tibetano e eu estava voando pelo Himalaia e foi super bonito. Eu gosto muito desse sonho e sempre quero falar sobre ele, mas ninguém quer saber. Então, obrigada pela oportunidade! (risos)

Que música de outro artista, gostariam que tivesse sido composta por vocês?
VJ: “You Set de Scene”, do Love. Ou quem sabe “Don’t Talk” dos Beach Boys...
EM: “Flaming” ou “Echoes” do Pink Floyd.

Que música gostarias que tocasse no vosso funeral?
VJ: Que sinistro! Bom, talvez eu pudesse fazer uma música exclusivamente para isso e guardar até o dia do meu funeral, que acha? 
EM: Teria que ser uma música feliz e leve, porque nossa cultura já trata o momento da morte com muita tristeza, não quero deixar meus entes queridos mais tristes do que já vão estar, (risos) Talvez "Across The Universe", dos Beatles? Na verdade, acho que prefiro sem música!

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
EMObrigada!

Antes de colocarmos o ponto final, apresentamos o mais recente single "Fogo Mais Fogo", que conta com a participação especial de Gabriela Deptulski na guitarra.

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