sábado, 7 de julho de 2018

Conversas d'Ouvido com Monema

Entrevista com a banda brasileira Monema, quarteto, proveniente de Porto Alegre, composto por Daniel Medeiros (voz, guitarra), André Medeiros (baixo), João Augusto (guitarra) e André Milhoranza (bateria). Rejeitam preconceitos e não têm medo de se aproximarem do universo pop, que mesclam com algumas das suas maiores influências, tais como Radiohead, Portishead, The Smiths, Caetano Veloso e Milton Nascimento. Recentemente surgiu o primeiro single, que antecipa o lançamento do disco de estreia. Nas linhas que se seguem, os Monema apresentam-se numa conversa descontraída, divertida e despedida de artefactos...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
João Augusto (JA): Acho que todos nós temos ligações com a música desde muito cedo. O Daniel e o André tem uma família muito musical, das artes e que sabe muito sobre e tem um gosto fantástico que colocou ambos em contato com artistas maravilhosos nacionais e internacionais. Também tive essa sorte, meus pais tem um gosto musical maravilhoso, eram DJ nos anos 80, meu pai tinha uma banda de Pós Punk chamada “razão social” então crescer nesse ambiente rodeado de discos de artistas como Smiths, Legião Urbana, uma vasta coleção de Synth Pop, New Wave e música independente brasileira fez eu ter banda desde pequeno (com 5 anos).

Como surgiu o nome Monema?
Daniel Medeiros (DM): Fiquei mais de 1 ano procurando um nome pra banda. Estávamos tocando o projeto com um nome provisório: Aeronuvem. Mas os guris nunca gostaram desse nome, e eu também não achava lá essas coisas.  Sugeri uma série de outros nomes ao longo desse período, mas sempre tinha alguém que não gostava, ou a gente descobria que já tinha outra banda com o mesmo nome ou com nome muito parecido.   
Quando o single já tava prestes a ficar pronto, e eu já tava aflito por ainda não ter um nome definitivo pra banda, resolvi me trancar no quarto em um fim de semana, fiquei lá por horas e horas, e enchi quase 15 páginas de caderno (frente e verso) com nomes aleatórios. Escrevia tudo que me aparecia na cabeça, sem pensar muito, assim, caoticamente. Lá pelas tantas, comecei a inventar palavras, combinar sílabas, tentando achar algo que fosse simples e sonoro e diferente. "Monema" foi uma palavra que eu inventei, mas que depois descobri que já existia. Quando eu procurei na internet, descobri que Monema é um conceito da semiótica, da linguística, é "a unidade significativa mínima elementar, ou uma unidade linguística de primeira articulação". Pensei: "Ótimo!! Não quer dizer nada!". E assim me convenci que deveria ser esse o nome da banda. Os guris gostaram também e ficou.

Sabemos que preparam a edição do vosso disco de estreia, já podem levantar o véu sobre o que podemos esperar?
JA: Claro, com prazer! O disco acaba vagando nesse universo do pop com a música independente. O Daniel é um compositor que naturalmente escreve maravilhosas canções pop, ama arranjos de cordas e eu acabo trazendo muito a bagagem do novo com o antigo, texturas, ruídos então acho que essas combinações estarão presentes no disco como um todo.

Conhecem alguma coisa da música portuguesa?
JA: Sim! Eu amo Ornatos Violeta. Passei boa parte da minha adolescência mostrando pra pessoas músicas como “Capitão Romance” e “Ouvi Dizer”. Realmente enchi o saco de quem era meu amigo na época. Hahaha
Nos últimos anos ouvi bastante uma banda chamada “Peixe Avião” e amei, amei amei. Esse ano tive contato com a obra de Antônio Variações por conta da versão que o Filipe Catto fez (que ficou maravilhosa) e desde então acho a história e obra do Antonio linda!

Como gostas de descrever o vosso estilo musical?
JA: Ótima pergunta. A gente tá descobrindo isso ainda porque amamos muito música pop e ao mesmo tempo amamos bandas que experimentam e se renovam como Beatles, Queen, Radiohead então acho que estamos nesse limbo do pop não óbvio. (Pretensão? Talvez, mas não com arrogância).

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
DM: Futebol! E gosto muito de ler também! Tenho lido um escritor português excelente: Valter Hugo Mãe. Escreve lindamente.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
JA: A vantagem, a gente ainda não sabe, estamos procurando. (risos) Brincadeira. Poder criar algo que já é significante demais pra si e ver que outras pessoas também se identificam é maravilhoso. A gente faz música porque amamos ela, demais então a vantagem de certa maneira é poder fazer a nossa contribuição pra que outras pessoas também sintam o que a gente sente quando vai a um show bonito ou ouvem um disco que amam. A desvantagem é que é uma vida imprevisível. Aqui no Brasil nós não temos um mercado muito amplo, ou você está no mainstream ou está à margem tendo que fazer 958867 coisas ao mesmo tempo pra ser um artista. As desvantagens são muitas, poderia ficar aqui falando e transformar essa entrevista ótima em algo chato pra todo mundo. (risos)

Quais as vossas maiores influências musicais?
DM: Algumas delas: Caetano Veloso, Milton Nascimento, Chico Buarque, Herbert Vianna, Cazuza, Lulu Santos, Duca Leindecker, Paul McCartney.
JA: Radiohead, Smiths, Chico Buarque (que o Daniel Citou), Portishead, Velvet Underground, Scott Walker.

Como preferem ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
DM: Atualmente, escuto música em streaming, mesmo. Mas ainda pretendo comprar um bom toca-disco pra poder voltar a ouvir vinil. Gosto desse ritual de colocar o vinil pra tocar, sentar do lado da vitrola, ficar olhando a capa do disco, lendo o encarte. E também de sair procurando discos antigos, clássicos. Pena que meu toca-disco não tem um som muito bom. Aí acabo ouvindo no streaming mesmo.
JA: Acabo ouvindo muito em streaming, infelizmente. É algo que funciona pra conhecer novos artistas, ter acesso a todo um acervo infinito de músicas mas sempre que possível ouço em vinil porque a experiência é outra, realmente. Pelo menos eu, quando coloco vinil, não faço outras coisas como costumo fazer quando ouço via streaming.

Qual o disco da vossa vida?
DM: Impossível escolher um só e cada vez que me perguntarem isso talvez eu tenha uma resposta diferente. Mas tenho um carinho muito especial pelo Álbum Branco, dos Beatles. Um disco deliciosamente anárquico, cheio de experimentações e de belas canções. Eu descobri esse álbum com 15 anos e lembro que foi muito marcante.
JA: Concordo com o Daniel, acho muito difícil escolher um só, mas sendo cruel comigo, diria que é "Kid A" do Radiohead.

Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
DM: Dois: "Maravilhas da Vida Moderna", da Dingo Bells, e "Melhor do Que Parece", d’O Terno.
JA: O último foi “The House” do Porches.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
JA: Tenho gostado muito desse movimento House Lo-fi/trip-hop lo-fi, então faz um tempo que tô devorando tudo que encontro. O que tenho ouvido não necessariamente é tão novo assim mas o Steve Lacy é sensacional, Porches também, o último da Elza Soares é maravilhoso, Shintaro Sakamoto…

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?

JA: A gente não fez show ainda como Monema, faremos nosso primeiro concerto dia 7 de julho mas eu, Daniel e André tínhamos uma banda chamada Capitão Mor e lembro de um show que o Daniel chegou um tanto quanto bêbado no palco e fez 1/3 do show tocando todos os acordes meio-tom acima, tive que pegar a mão dele e colocar ela “na casa” correta. Depois o show foi. (risos)
Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
JA: Internacional eu gostaria muito de fazer com Air (que está em um hiato, isso? Tomara que não),  Portishead ou MGMT mas assumo que realmente seria um sonho fazer algo com Morrissey ou Johnny Marr. Brasileiras a lista é gigantesca: Elza Soares, Dingo Bells, qualquer projeto que o Rodrigo Campos e o Kastrup participem, O Terno, Mc Fioti, Rodrigo Amarante, Marcelo Camello, Dado Villa lobos, Caetano Veloso, Chico…

Para quem gostarias de abrir um concerto?

JA: Pra quê uma pergunta tão difícil? (risos) Acho que acaba sendo os mesmos citados acima. Certamente estou esquecendo de diversos artistas, mas faz parte.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
JA: Primavera Sound, com certeza. Acho que todos esses festivais internacionais grandes seria um sonho. Nacionais, olha, a lista é grande demais também. Acho que Planeta Atlântida por uma questão geográfica/histórica. Tem muitos festivais lindos como o Coala, tradicionais como o Bananada, o Fora da Casinha… Existe todo um circuito clássicos de festivais voltado pro circuito independente que seria lindo tocar!

Qual o melhor concerto a que já assististe?
JA: Radiohead na tour do "In Rainbows".

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
JA: Eu realmente preciso assistir concertos ao vivo de: Portishead, Air, Caetano Veloso, Chico Buarque. Artistas como Chico e Caetano fazem shows com um valor absurdo e aqui vai mais uma desvantagem de ser músico no brasil: Você não tem dinheiro pra ir nos shows que gostaria de ir.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostariam de terem estado presentes?

DM: Beatles no Cavern Club, antes da fama. Um lugar pequeno, intimista. Daria pra assistir bem pertinho do palco e depois do show, ainda tomar uma cerveja com eles e bater um papo.
JA: No primeiro show do Buzzcocks.

Tens algum guilty pleasure musical?
JA: É doido isso, né? Acho que tudo que já foi Guilty Pleasure eu já não tenho mais vergonha. Bandas como Asa de Águia ou George Michael eu assumo que amo demais.

Projectos para o futuro?

DM: Lançar o nosso álbum de estreia, gravar novos clipes e fazer bons shows.
JA: Fazer com que a nossa música chegue ao seu público. No Brasil é muito complicado conseguir isso, os canais são complicadíssimos, mas acho que isso completa o que o Daniel comentou.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
JA: Acho que você fez perguntas maravilhosas, não consigo pensar em uma que não tenha sido feita e eu quisesse responder. Parabéns!

Que música de outro artista, gostariam que tivesse sido composta por vocês?
DM: Poxa, várias! Vou citar duas que me ocorreram agora: “Wave”, do Tom Jobim, e “Blackbird”, dos The Beatles.
JA: "Subterranean Homesick Alien" do Radiohead, "Desolation Row" do Dylan, "Ele Me Deu Um Beijo Na Boca" do Caetano, "Angélica" do Chico Buarque, "Karmacoma" do Massive Attack e "Lips Like Sugar" do Echo & The Bunnyman.

Que música gostariam que tocasse no vosso funeral?
DM: Pra mim, é indiferente. Eu não vou poder ouvir, mesmo.
JA: (risos) A resposta do Daniel foi ótima. Acho que “Atmosphere” do Joy Division.


Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Antes de terminarmos, ficamos ao som dos Monema e do single de estreia "Céptico", produzido por Marcelo Fruet (Dingo Bells).

Sem comentários:

Enviar um comentário