domingo, 1 de julho de 2018

Conversas d'Ouvido com Spiralist

Entrevista com Spiralist, pseudónimo do músico Bruno Costa, que após experiências prévias em outras bandas, decidiu aventurar-se a solo. Entre as maiores influências encontramos por exemplo Nine Inch Nails, Tom Waits, Tool e Nick Cave. Spiralist, rejeita rótulos e estilos musicais limitativos, deseja apenas transpor para a música, os seus sentimentos e a sua própria visão. Editou este ano o álbum "Nihilus", um registo obscuro que mergulha nas profundezas da terra, um disco conceptual, que serve de mote a mais uma edição das "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Spiralist: Com vários momentos distintos: ser exposto à música favorita dos pais, ir para uma escola de música aprender um instrumento, desistir por falta de estímulos, descobrir finalmente algo interessante, voltar a estudar música… Foi um processo bastante longo. Mas posso dizer que a música se tornou o meu mundo por volta dos meus 13/14 anos. E assim que adquiri a minha primeira guitarra eléctrica (uma cópia de uma Les Paul que ainda uso na maioria das coisas que gravo) nunca mais olhei para trás.

Como surgiu o nome Spiralist?
Existem imensas explicações. Desde gostar da forma de espirais até essa figura no fundo servir de modelo à maneira como desenvolvo os meus projectos, até ao facto de a minha música favorita (a “Lateralus”, dos Tool) falar do assunto… “Spiralism” ia ser também um suposto livro de poesia e álbum conceptual que idealizei na adolescência mas nunca consegui concretizar e decidi alterar ligeiramente o nome. Depois de vários projectos e nomes ponderados, sinto que encontrei a minha identidade em Spiralist.

Após algumas experiências prévias em outras bandas e projectos, como apareceu a vontade de te aventurares a solo?
A necessidade juntou-se à vontade. Após uns 7 anos a trabalhar em bandas apercebi-me que não funciona para mim. Há sempre alguém com falta de tempo, há sempre lutas entre egos… prefiro depender de mim mesmo apenas, pelo menos na parte criativa. Quando a minha banda anterior acabou, senti que tinha perdido algo muito importante para mim, mas também não podia ignorar os meus impulsos criativos. E atirei-me de cabeça ao “Nihilus”.
Spiralist - "Nihilus"
Editaste este ano o álbum “Nihilus”, par quem ainda não ouviu o que podemos esperar?
Um álbum conceptual sobre depressão movido a instrumentação simultaneamente atmosférica e agressiva. Não há muita luz neste álbum, mas consegue ser uma montanha russa emocional.

Apesar do disco ser fundamentalmente metal, denotamos algumas nuances de post-rock e muito experimentalismo, é só impressão nossa, ou a tua sonoridade funde-se com outros estilos?
Sim, definitivamente! E Spiralist não é um “projecto” de Metal sequer, é o meu nome artístico, portanto tudo aquilo que me interesse fazer musicalmente, vou fazê-lo sem reservas. Sinto que a música tem de casar com a história, estética, imagética e acima de tudo com a visão que tenho na cabeça. Se isso quiser dizer que num álbum futuro tenha de recorrer a Jazz, ou Vaudeville, Drone ou o que quer que seja, é o que vou fazer. Vejo um álbum como um filme. E não esperamos que um realizador faça sempre o mesmo tipo de filme. Não entendo, portanto, porque é que haveríamos de esperar o mesmo de um compositor.

Quais as tuas maiores influências musicais?
Essa é difícil… há muitas influências que fizeram parte da minha vida e agora não têm um peso tão acentuado. Mas actualmente, em termos de bandas, diria que Tool, The Dillinger Escape Plan, Code Orange, Pink Floyd, Swans e Nine Inch Nails são influências grandes. E depois há artistas a solo que adoro, como Scott Walker, Tom Waits, Nick Cave, David Bowie… se bem que, quando forem ouvir o “Nihilus”, não vai soar a nada do que acabei de dizer. Quando criei o álbum, andava definitivamente mais interessado em Black Metal, Doom Metal, Post-Metal… géneros que, verdade seja dita, continuo a adorar.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Não sei mesmo. Experimental… “Progressive”. Vou deixar as pessoas e críticos decidir, prefiro abster-me da conversa.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Várias… dentro de áreas que consigo trabalhar, definitivamente escrita e poesia. Descobri muito recentemente o quão bem me faz escrever diariamente, e escrevo letras e poemas desde os meus 14 anos. E adoro cinema também, apesar de infelizmente não ter conhecimentos e sabedoria suficientes para explorar essa área… por enquanto (prefiro deixar a porta aberta e depois logo se vê).

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Acho que a maior vantagem é a criação de um legado. Algo que viva para além de ti e sobreviva à tua morte, coisa que nunca vais conseguir a trabalhar das 09:00 às 17:00 num emprego qualquer. Acho que nunca conseguirei relacionar-me com alguém que não compreenda a importância disto. As desvantagens são inúmeras, mesmo quando esmagadas pelas vantagens. As pessoas esperam mais entretenimento do que arte. Tens de estar sempre a provar que sabes o que fazes e dependes imenso de ti mesmo. Demoras anos a construir uma carreira e nem toda a gente a consegue efectivamente construir. Tens de rastejar na lama para chegar ao cume da montanha.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Gosto de comprar música em formato físico, mas a maioria da música que ouço é em formato mp3 no telemóvel. Se tivesse um orçamento maior, a minha colecção de CD's e vinis aumentaria consideravelmente.

Qual o disco da tua vida?
Por enquanto ainda é o “Lateralus”, dos Tool, porque mudou a minha por completo quando o ouvi pela primeira vez em 2011. Mas vai sempre a tempo de ser destronado.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Nos últimos dias tenho ouvido bastante a banda-sonora do filme “Hereditary”, do Colin Stetson.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Para além da OST do Colin Stetson, tenho mergulhado a fundo na discografia do Tom Waits. Também descobri recentemente os Youth Code e tenho gostado bastante.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Provavelmente um concerto numa antiga casa no Porto chamada Altar, em Abril de 2013, em que estava gripado e passei o concerto inteiro a tentar cantar e tocar enquanto a produção de muco crescia exponencialmente. (risos)

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Roger Waters. Mas se perguntasses amanhã, provavelmente teria outra resposta.

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Qualquer uma das influências citadas mais acima.
Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Por muito presunçoso que seja e é… nos maiores palcos possíveis. Madison Square Garden, Royal Albert Hall e por aí fora. Posso sonhar, certo?

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Escolha muito difícil… mas o concerto do Kamasi Washington na Casa da Música deixou-me em êxtase.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Scott Walker, simplesmente porque o homem não está para aí virado, mas seria um marco poder vê-lo em concerto.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Gostava de ter visto os Pink Floyd em Pompeia. Reza a lenda que uns miúdos conseguiram vê-los, escondidos algures…

Tens algum guilty pleasure musical?
Costumava ter, mas entretanto não tenho mais. Apercebi-me que ou gosto de alguma coisa ou não gosto.

Projectos para o futuro?
Muitos! Mas vou deixar que se revelem com o tempo. Posso apenas dizer que, da minha parte, tenho produzido arte para Spiralist todos os dias sem excepção ultimamente.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
Que me perguntassem porque faço o que faço. Porque é divertido. Porque me faz feliz. Porque me salvou a vida. E porque me permite testar os limites da minha mortalidade, ainda que eu nunca os venha a conhecer.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
Dei por mim a pensar nisso quanto à “Smells Like Teen Spirit” ultimamente. É histórica.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Algo meu. O corpo morre, mas o ego nunca.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Eu é que agradeço, até breve!

Terminamos precisamente ao som do álbum "Nihilus", que se encontra disponível para escuta, através da plataforma Bandcamp.

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