sábado, 27 de outubro de 2018

Conversas d'Ouvido com Llama Virgem

Renato Roque (2018)
Entrevista com a banda nacional Llama Virgem, trio composto por Rui Gonçalves (voz), Daniel Pinheiro (baixo, caixa de ritmos) e Pedro Januário (guitarra). Os Llama Virgem são uma banda portuguesa com forte carácter provocatório que explora os sentidos e nos instiga a pensar. Indie rock/pop ora desconcertante ora revolucionário, onde a palavra demonstra todo o seu poder. Lançaram recentemente o debut "desconseguiste?", que serviu de mote para mais uma edição das "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Llama Virgem: Não conseguimos precisar. Deve ter partido da percepção da possibilidade de produzir algo que não seja grotescamente banal e calculável.

Como surgiu o nome Llama Virgem?
Levianamente, num café depois de uns copos. Dizem que o llama (llama glama) é um animal praticamente indomesticável, conhecido por cuspir nos humanos, pareceu-nos bem. 
Llama Virgem - "desconseguiste?"
Editaram recentemente o disco “desconseguiste?”, para quem ainda não ouviu o que podemos esperar?
Se odiarem é bom sinal, ouviram o disco do início ao fim. Se gostarem, perfeito.

As vossas músicas denotam preocupações sociais e políticas, é “dever” do músico apelar às consciências? Ou apenas entreter? 
Achamos que não é uma questão de dever, tão pouco existe uma música de entretenimento em oposição a uma música mais ou menos engajada com uma ideia. Há temas aparentemente inofensivos que com o tempo e circunstâncias se tornaram subversivos, lembramo-nos imediatamente do cancioneiro tradicional espanhol recolhido por García Lorca, mais tarde adaptado como hino dos combatentes anarquistas e comunistas na Guerra Civil espanhola.
Deixamos os apelos às consciências para os padres.

Quais as vossas maiores influências musicais?
Depende da altura do ano e da temperatura. A influência implica sempre um contágio que por sua vez implica um contacto e uma fragilidade que permite o contágio. Posto isto, os nossos gostos são variados, é possível que tenhamos poucos discos em comum nas nossas colecções. 

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
PREC-Rock ou PREC-Pop, como quiserem, estejam à vontade.

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
Muitas, exceptuando a de Cristo.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
As desvantagens são comuns a todo um conjunto de pessoas que têm de fazer pela vida para sobreviver (i.e. trabalhar). No entanto acreditamos que o mundo da música é um caso particular no que toca à implementação deste new-labour, pouco ou nada remunerado, baseado na economia da atenção. Não nos parece normal que um músico toque em troco de exposição, tão pouco que alguém te convide para tocar a troco de nada. 
As vantagens são muitas, por exemplo: saber que uma criança anda a trautear o "Beto" ou que um artista plástico monta uma exposição ao som do "Curador" é reconfortante. 

Como preferem ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Ao vivo, ou num cartucho de 8 pistas, só pelo inconveniente.

Qual o disco da vossa vida?
"Another Green World" (Brian Eno), "Traz Outro Amigo Também" (Zeca Afonso), "The Contino Sessions" (Death in Vegas)

Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
"Racing Team" (Império Pacífico), "Pedra Papel" (Gume), o EP da Catarina Branco, que ainda não saiu mas já ouvimos ao vivo.
Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
Debandada geral do público. Já nos disseram que é bom sinal, aceitamos com algumas reservas essa leitura dos acontecimentos.

Com que músico/banda gostariam de efectuar uma parceria?
Temos uma música em particular que gostávamos de gravar no futuro com um Coro daqueles gigantescos com muita gente, todos vestidos de igual.

Em que palco (nacional ou internacional) gostariam um dia de actuar?
Capela dos Ossos, Évora.

Qual o melhor concerto a que já assistiram?
No youtube? vários, no Coliseu: Beck (1998), Faith no More (1998), Radiohead (2001).

Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
Maurice Ravel.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostariam de ter estado presentes?

Têm algum guilty pleasure musical?
Não ligamos muito a essas coisas cristãs do binómio Culpa / Dívida (Schuld). Não há peso na consciência de quem tem os ouvidos abertos. 

Projectos para o futuro?
Fazer um empreendimento flutuante em forma de palmeira ao largo das Berlengas que possa ser visto do espaço. Gravar um disco com músicas para genéricos de telenovelas.

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
De quem é o Carvalhal?
É Nosso!

Que música de outro artista, gostariam que tivesse sido composta por vocês?
"Agente Único" (GNR), "BeBop" (Pop Dell' Arte), "Em Directo (Para a Televisão)" (Mão Morta) e uma ou outra dos Abba por uma questão de receitas de direitos de transmissão. (risos)

Que música gostariam que tocasse no vosso funeral?
"Requiem für Llama Virgem" Consultar o testamento da banda, em anexo.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
De nada, força nisso.

O melhor fica para o fim e terminamos ao som do álbum "desconseguiste?", que se encontra disponível para escuta através da plataforma Bandcamp.

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