quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Conversas d'Ouvido com Barcamundi

Entrevista com Barcamundi, banda brasileira de indie rock, com uma toada experimental. Colectivo composto por Gabriela Autran (escaleta, sintetizadores, backing vocal), Gil Navarro (bateria), João Barreira (voz, guitarra), Leon Navarro (guitarra, clarinete, escaleta, pífano, marimba e backing vocal), Matheus Ribeiro (guitarra, trompete) e Pedro Chabudé (baixo). Este ano editaram o álbum "Disco Adulto", co-produzido por Hugo Noguchi e que serviu de mote para as linhas que se seguem, onde fomos conhecer melhor os Barcamundi...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
João Barreira (JB): Através dos meus pais, que sempre foram apaixonados por música e que já chegaram a tocar em festivais, meu pai como compositor, violonista e vocalista, minha mãe como vocalista. Além deles, minha família tem muitos músicos.
Matheus Ribeiro (MR): Descobrindo o rock internacional dos anos 90 e 2000 na adolescência ao mesmo tempo que aprendia meus primeiros acordes no violão. Mais velho, descobrindo como a música brasileira é rica e plural.

Como surgiu o nome Barcamundi?
JB: A gente queria um nome que não nos limitasse muito artisticamente, e o Nino Navarro, irmão do Gil e do Leon, sugeriu Navio Mundo. Meu pai sugeriu depois Barcamundi e ficou, mas não há nenhum significado especial no nome.
Barcamundi - "Disco Adulto"
Editaram recentemente o álbum “Disco Adulto”, para quem ainda não ouviu o que podemos esperar?
MR: Comparado ao nosso primeiro disco, é um disco mais arriscado artisticamente. Possui elementos que podem causar um certo desconforto no ouvinte em alguns momentos e pegá-lo de surpresa em outros. Ao mesmo tempo, acho que as canções apresentam uma maturidade lírica e arranjos bem desenvolvidos.

O título “Disco Adulto”, assume que vocês também amadureceram enquanto banda?
MR: Acho que sim, mas com uma pitada de ironia (risos). Acho que é um nome que reflete o momento pelo qual estamos todos passando, que carrega angústias e reflexões muito próprias, momento em que não faz mais sentido fazer uma música que não seja reflexo disso.

Quais as vossas maiores influências musicais?
MR: “Disco Adulto” em particular teve muita influência de bandas alternativas gringas como Radiohead e Wilco e de artistas brasileiros como Rodrigo Amarante e Gilberto Gil, além dos contemporâneos Posada e o Clã e Duda Brack.

Conhecem alguma coisa da música portuguesa?
JB: Sim. Eu, Matheus e Gil moramos em Lisboa por 6 meses no ano de 2012. Ouvi muito a banda Ornatos Violeta e adoro, escuto até hoje! Lembro de ouvir a banda Toranja, do Tiago Bettencourt e Deolinda também.

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
MR: Música popular brasileira (MPB), rock e folk com um pé no experimental.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Gabriela Autran (GA): Sim, sou apaixonada por arte em geral e me desafio um pouquinho em todas as “áreas”. Atualmente, tenho uma marca de decoração em que pinto cerâmicas à mão, Primavera. E me aventuro como atriz em algumas peças de teatro.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
GA: Acredito que a vantagem é utilizar a música como ferramenta para exteriorizar sentimentos e situações, uma forma de expressão, na minha opinião… Mas não tenho certeza se é uma vantagem mesmo (risos). A desvantagem seria a falta de retorno financeirotalvez.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
MR: Hoje em dia, prefiro ouvir em streaming pela praticidade em conhecer novos artistas. Durante a adolescência, no entanto, ouvi muito em CDs e tinha discografias baixadas em sites de procedência duvidosa.

Qual o disco da vossa vida?
JB: Fico entre "Alucinação"do Belchior e "Pink Moon" do Nick Drake.
MR: "Qualquer Coisa" do Caetano Veloso
Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
JB: "Aromanticism"do Moses Sumney.
MR: "The Ooz"do King Krule.
GA: "Pra Curar"da Tuyo.

Qual a vossa mais recente descoberta musical?
JB: Descobri a Maria Beraldo e a Tierra Whack recentemente e mais ou menos ao mesmo tempo.
GA: Descobri recentemente o trabalho instrumental do Vitor Araújo, muito bom.

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
JB: Já foram muitas (risos)! Nossa banda tem 6 pessoas, mas já tocamos para menos que isso em um espaço muito grande.
MR: Acho que nada supera a vez em que tocamos num palco ao lado do banheiro de um bar. As pessoas tinham que passar no meio da gente para poder ir lá e algumas baratas corriam pelos nossos pés durante a apresentação.

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
MR: Sou muito fã do trabalho do Rodrigo Campos. Acho o jeito dele de compor muito fascinante e adoraria ter essa honra um dia.

Qual o melhor concerto a que já assistiram?
JB: Difícil, mas talvez Wilco no Circo Voador. O show da Duda Brack no Audio Rebel e da Toe na Fabrique, em São Paulo, me impressionaram muito também. 
GA: Diria que foi o mais recente que fui do Radiohead no Rio de Janeiro em 2018, seguido de Arctic Monkeys no Lollapalooza Brasil.

Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
JB: Gostaria muito de ver a Laura Marling tocando o começo do disco "Once I Was an Eagle".
GA: Gostaria muito de ver o show do Bon Iver e das irmãs The Staves!

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
JB: No Festival de Música Brasileira de 1967. 

Tens algum guilty pleasure musical?
GA: Eita, um monte! Todas as divas dos ano 2000, Sandy ℰ Junior ainda tem um espaço cativo no meu coração (risos).

Projectos para o futuro?
GA: Queremos aproveitar ao máximo “Disco Adultolevando o nosso som para outros estados, talvez com show e novas parcerias. Temos planos de fazer um novo videoclipe também.

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
JB: Acho que “quais outros artistas independentes do Brasil vocês indicam?”. Eu gostaria de sugerir alguns amigos: Hugo Noguchi, que vocês já entrevistaram e que co-produziu connosco nosso CD, lançou material solo em 2018 e vai dar continuidade em 2019. Ele tem uma visão artística única. A Rebeca, vocalista da Gragoatá, está começando um projeto solo que conta com bastante participação minha, do Leon e do Chabudé (todos da Barcamundi) e vale muito a pena ficar de olho. Por fim, aposto muito na Rosabege, um coletivo de produtores de Niterói, que tenho certeza que vai chegar muito longe em breve.

Que música de outro artista, gostariam que tivesse sido composta por vocês?
JB: Por ser recente, além de linda, "Todo Homem", do Zeca Veloso.
MR: Fico entre “Zeirô, Zeirôdo Douglas Germano ou “Lágrimas Negrasdo Jorge Mautner.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
"Goodbye Lenin!"do Yann Tiersen, música tema do filme "Adeus, Lenin"

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Ficamos por fim, ao som do álbum "Disco Adulto", que se encontra disponível nas plataformas de streaming.

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