quarta-feira, 1 de maio de 2019

Conversas d'Ouvido com Organização do MIA 2019

O Encontro Internacional de Música Improvisada de Atouguia da Baleia, nasceu em 2010, com o intuito de invadir Peniche com as diversas vertentes do experimentalismo. Concertos, workshops, debates e muito mais entre os dias 27 de Maio e 2 de Junho. O cartaz deste ano conta com nomes como o alemão Axel Dörner, o francês Sei Miguel, a italiana Silvia Corda e o multi-facetado artista português Carlos Zíngaro. O MIA, 2019, está a chegar para aquela que será a 10.ª edição e para conhecermos melhor este festival de música improvisada, estivemos à conversa com a organização pela voz de Paulo Chagas.


Ouvido Alternativo: Como surgiu a ideia de organizar um festival de música experimental?
Paulo Chagas: A ideia surgiu em 2010, a partir da vontade de fazer um concerto do PREC em Atouguia da Baleia, terra onde nasci. O PREC (Projecto Ressonante Experimental Criativo) foi um grupo que fundei com o Fernando Simões em 2008 e conjugava em palco diversas vertentes artísticas como a música improvisada, poesia, video-art, performance, etc. Na altura era habitual termos músicos convidados nos nossos concertos e resolvemos convidar uma série de gente para participar no tal concerto em Atouguia. Entretanto apercebemo-nos de que a lista de convidados era enorme para um só concerto e decidimos expandir o evento durante um fim de semana inteiro. Nascia assim a primeira edição do MIA e, dado o bom acolhimento que se obteve, resolvemos nunca mais deixar de o fazer. Entretanto já vamos para a 10.ª edição e aquilo que começou quase de forma espontânea tornou-se num verdadeiro congresso mundial de improvisadores.

Entre música, workshops e apresentações, parece-nos que o MIA, é muito mais que um festival de música?
Desde o início tivemos sempre a preocupação de associar ao evento uma vertente formativa. Isso parece-nos fundamental, quer para ajudar ao desenvolvimento e comunicação entre os músicos envolvidos, como do próprio público. É por isso que temos sempre realizado workshops, conferências, debates, etc. Depois há o aspecto da divulgação e partilha que o MIA proprociona, pois temos tido vários lançamentos de livros, discos, filmes, instalações. Além disso, têm sido imensos os novos projectos que nasceram a partir de encontros entre músicos e trocas de experiências ocorridos aqui.

Sabemos que é uma pergunta ingrata, mas do cartaz deste ano, o que é que não podemos mesmo perder?
Estou convencido que o cartaz deste ano é totalmente aliciante para quem gosta destas músicas. Não é todos os dias que nos cruzamos por exemplo com Axel Dörner, Biliana Voutchkova, Carlos Zíngaro, Sei Miguel, Silvia Corda, Yedo Gibson, isto só para citar meia dúzia de nomes de referência a nível mundial, entre os quase cem que esperamos receber este ano. Além disso, teremos um “concerto para bebés” com um Ensemble liderado pela cantora italiana Elisabetta Lanfredini, na manhã do Dia Mundial da Criança que certamente será um dos pontos altos do Encontro.
Quais as dificuldades que se sente quando se decide organizar um festival, fora dos grandes centros?
Na verdade eu acho que é muito mais fácil organizar um festival na Atouguia da Baleia do que em Lisboa ou no Porto. As coisas estão todas mais perto e a população local gosta de receber a visita quer de artistas quer de público. Há um espírito de entreajuda e de partilha que raramente se encontra nos grandes centros.

Que artista/banda ainda sonhas trazer no futuro ao MIA?
Tantos… O John Zorn talvez… Bom, já tivemos contactos por exemplo com Fred Frith, Iva Bittová, Steve Swell, entre outros que, por uma razão ou por outra, ainda não se conseguiram materializar, mas temos esperança de que mais tarde ou mais cedo venha a acontecer.

Há alguma história inusitada que tenha acontecido nas edições anteriores?
Há dois anos atrás, na última noite do MIA realizamos uma jam session num armazém no meio do campo. A vontade de tocar e de prolongar o festival era tanta que houve uma dúzia de resistentes que acabaram a tocar e cantar cá fora enquanto nascia o sol. Dito assim pode parecer pouco significativo, mas quem participou afirma que foi das experiências mais belas das suas vidas. 

Projectos para o futuro?
A nossa entidade organizadora, Zpoluras – Associação Cultural, esté neste momento a desenvolver uma parceria com entidades similares em França, Itália e Dinamarca para criarmos um projecto europeu que possa acolher a comunidade internacional da música criativa e exponenciar a realização de eventos desta natureza e a partilha de experiências.

Um festival, ainda por cima de entrada livre, é possível graças a diversos esforços e “boas-vontades”, queres deixar algum agradecimento especial?
O segredo para o sucesso tem sido essencialmente o desprendimento e a generosidade de todos. Músicos e apoiantes, que são tantos, têm participado no MIA sempre com um grande espírito de entrega e quando assim é, tudo se torna mais fácil. Portanto é a eles que tenho que agradecer – aos músicos que vêm e às pessoas que os recebem.

Aproveitamos para desejar desde já que a edição deste ano seja um verdadeiro sucesso. Toda a informação relativa ao festival pode ser consultada em mia-festival.blogspot.com

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