Ao segundo dia do Nos Primavera Sound Porto, todos os quatro palcos estiveram a funcionar em pleno, o destaque óbvio deste dia ia para Patti Smith que interpretava na íntegra o disco de estreia Horses, editado em 1975, no entanto este era também o dia de subirem ao palco os Belle and Sebastian, os The Replacements e Antony and the Johnsons, que teve direito a algo nunca visto, foi o único concerto a decorrer aquela hora, como consequência tínhamos à 1:40 da manhã, três concertos com início em simultâneo: Run The Jewels, Ariel Pink e JUNGLE, a escolha do ouvido alternativo recaiu sobre JUNGLE, mas sobre esse concerto falaremos mais à frente.
Banda do Mar (17:00, palco Nos) - o projecto luso brasileiro composto por Mallu Magalhães, Marcelo Camelo e Fred Ferreira, abriu o palco principal, ainda com muito sol, público deitado na relva a saborear a voz doce de Mallu em contraste com a voz poderosa de Marcelo, o concerto conquistou quem assistia, muita simpatia, bela interacção com o público e músicas que convidam a sonhar e a experimentar uns toques de "sambinha bom"
Yasmine Hamdan (17:35, palco ATP) - cantora e compositora libanesa que mistura os sons árabes com a electrónica, mistura interessante mas que precisa ser ouvida com mais atenção, devido à estranheza inicial, como seria de esperar o concerto não cativou o público que desconhecia na sua grande maioria o trabalho de Yasmine.
Giant Sand (17:55, palco Super Bock) - mítica banda americana de rock alternativo, liderada pelo carismático Howe Gelb, contam com aproximadamente três décadas de existência, e essa experiência nota-se bem na cumplicidade existente em palco e na qualidade dos músicos, existe alguma intensidade e obscuridade no som que advém dos anos e anos de carreira, o concerto esteve longe de ser hipnotizante e deslumbrante mas foi sem sombra de dúvida intenso.
Viet Cong (18:45, palco ATP) - uma das bandas que já mereceu destaque prévio no ouvido alternativo, banda canadiana de post-punk, que editou recentemente o disco homónimo de estreia. O concerto foi curto, sombrio e pouco intenso, talvez a maior desilusão deste festival, as músicas reproduzidas ao vivo perdem alguma da intensidade que adquirem em álbum, o momento alto foi sem surpresas "Continental Shelf", a música mais conhecida deste colectivo e que será um dos grandes sons deste ano.
Patti Smith and Band (19:00, palco Nos) - enchente no palco principal, público de diversas idades, mas nota-se a presença de grande franja de pessoas já com muitos cabelos brancos. O motivo desta enchente era só um: Patti Smith a lenda viva do punk rock de regresso a Portugal, e que regresso. Provavelmente o concerto mais aguardado do festival e provavelmente o melhor concerto deste Primavera Sound, um concerto que ficará na memória de todos e que perdurará para sempre como um dos melhores a que a cidade do Porto já assistiu. Aos 68 anos, Patricia Lee Smith, mantém a voz em excelentes condições, mas um concerto não é apenas voz, é entrega, sentimento, emoção e atitude e Patti Smith deu-nos isso tudo e muito mais, ela declamou, cuspiu, gritou, cantou, interpretou, incentivou o poder do povo e dedicou músicas aos malogrados Jim Morrison, Sid Vicious, Jimi Hendrix, Lou Reed, Joe Strummer e Johnny, Joey e Dee Dee Ramone entre outros e no final arrebatou-nos e emocionou-nos, algo que só uma artista com a sua longa carreira seria capaz. O momento alto foi "Gloria" cantada a plenos pulmões por público e por Patti. No entanto é difícil destacar apenas um momento de um concerto que foi memorável. Começou o concerto em grande com "Gloria", seguiram-se "Redondo Beach", Birdland", Free Money", "Kimberly", "Break It Up", "Land - Horses+Land of a Thousand Dances+La Mer(de)+Gloria", "Elegie". Saiu do palco e regressou após tamanha ovação para um encore glorioso com "Because The Night" e despediu-se ao som de "People Have the Power".
José González (20:10, palco Super Bock) - não era fácil para ninguém cantar a seguir a Patti Smith, mas José González, não se intimidou e teve direito a uma moldura humana considerável no palco secundário, o concerto foi intimista q.b. porque não nos podemos esquecer que estamos num festival de música, ou seja um concerto acústico funciona sempre muito melhor numa sala fechada, ou num concerto em nome próprio. O cantor e compositor sueco tem do seu lado o facto de possuir diversos singles conhecidos, alguns dos quais fizeram campanhas publicitárias, o concerto conseguiu aquecer alguns corações apaixonados mas também se transformou perfeito para o grupo de conversadores que assolam os festivais.
The Replacements (21:20, palco Nos) - banda histórica proveniente dos Estado Unidos da América, são considerados por muitos como uns dos percursores do rock alternativo, fundados em 1979, já se separaram e reuniram algumas vezes, a última reunião ocorreu em 2012 e dura até à actualidade, o que permitiu a passagem pelo Parque da Cidade no Porto. Apesar de não serem uma banda reconhecida em Portugal e de nunca terem alcançado o verdadeiro reconhecimento no nosso país, proporcionaram um excelente concerto, com muito rock, muito talento, muita energia e provaram que se encontram em alta rotação, foi no entanto com alguma surpresa que anunciaram neste dia que este seria o último concerto ao vivo, sorte para quem os viu e pena para quem perdeu este belo concerto.
Belle and Sebastian (23:00, palco Super Bock) - Stuart Murdoch e os seus Belle and Sebastian, ao todo eram treze músicos em palco, deram um dos melhores concertos do festival, logo no início o carismático líder e vocalista avisava num português arranhado: "Esta noite vamos ter festa" e tivemos de facto uma grande festa, é necessário antes de mais tirar o chapéu a uma banda que se soube reinventar nos últimos anos, nunca perderam a sua essência mas adaptaram-se aos tempos modernos. Na bagagem traziam o último e belíssimo disco Girls in Peacetime Want to Dance e defenderam-no com mestria, foi um concerto energético, sem momentos baixos, visualmente apelativo, e Stuart Murdoch é um autêntico mestre de cerimónias. Momento alto? foram muitos, por exemplo: "Nobody's Empire", "The Party Line" e "The Boy With the Arab Strap" onde convidaram o público a subir ao palco e juntar-se à festa. Desejamos que regressem rapidamente a Portugal para um concerto em nome próprio.
Antony and the Johnsons (00:15, palco Nos) - Antony Hegarty, regressou ao ao nosso país para proporcionar um dos concertos que mais dividiu opiniões neste festival, se houve quem ficasse indiferente, e reagi-se com estranheza, e até algum desrespeito, houve quem tivesse adorado, o ouvido alternativo, foi daqueles que adorou, concerto imaculado e mais um para figurar nos melhores deste festival. Acompanhado por orquestra, o carismático Antony ofereceu um concerto teatral, repleto de sentimento, onde o próprio se fez apresentar com uma túnica branca personificando em si e na sua voz uma carga angelical, de referir que a sua voz esteve imaculada, numa contenção que emociona e nos transporta para outro lugar bem distante de um festival de verão, ficamos com a sensação que não ouvimos mesmo assim metade do seu alcance vocal. É certo que o concerto era tudo menos festivaleiro, mas também não há razão para não educar um público para um tipo diferente de música, interpretada por uma grande voz acompanhada por uma enorme orquestra composta por pessoas que realmente estudam música. Momento alto: todo o concerto no entanto "Blind", retirada da sua colaboração com os Hercules and Love Affair recebeu maior resposta por parte do público, que já tinha ouvido "aquilo em algum algo". Único senão, vai inteiramente para alguns integrantes do público que demonstram uma enorme falta de respeito para com aqueles que querem assistir a um concerto e pelo qual pagaram um bilhete, que não é barato e se deslocam a um festival de verão para ouvir música e assistir a concertos. Essa falta de respeito e de civismo demonstram-na estando um concerto inteiro a conversar e muitas vezes de costas para o palco, nada contra quem não gosta ou não aprecia artista x,y ou z, mas simplesmente senão gostam afastem-se e dirijam-se por exemplo para a zona de refeições e não incomodem os outros.
JUNGLE (01:40, palco Super Bock) - o ouvido alternativo tinha avisado que seria um concerto imperdível e de facto foi, os JUNGLE de facto "partiram tudo". Antes de mais referimos que à mesma hora começavam mais dois concertos aguardados, o dos Run the Jewels e o de Ariel Pink, devido à sobreposição de horários optamos por JUNGLE e não estamos nada arrependidos. Projecto musical londrino que editou o auspicioso disco de estreia em 2014, e que foi uma autêntica "pedrada no charco" na música actual, a soul moderna com resquícios de anos 70, convida à dança, se havia alguns cépticos, e algumas dúvidas em relação ao potencial ao vivo, as mesmas ficaram desfeitas e ninguém ficou indiferente, o palco secundário teve aqui uma das suas maiores enchentes, e o público reagiu em êxtase saltando, cantando e dançando sem parar até altas horas, que bem se enquadraram os JUNGLE a esta hora, onde habitualmente a opção é limitada. O ouvido alternativo ficou sem dúvidas, os JUNGLE vieram para ficar. Momento alto: "Busy Earnin'", o concerto acabou e o público saiu a cantar: "You think that all your time is used To BUSY EARNIN' You can't get enough"
Movement (03:00, palco Pitchfork) - uma agradável surpresa, talvez devido ao nosso desconhecimento relativamente a este projecto musical proveniente da Austrália e composto por Jesse James Ward (voz e baixo), Lewis Wade (voz e teclas) e Sean Walker (bateria). A sua música seduz-nos como a noite e vem carregada de uma carga obscura, que nos convida e incentiva a dançar subtilmente ao som dos ritmos nocturnos, será com certeza uma banda que merecerá a nossa atenção futura.
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