segunda-feira, 7 de setembro de 2015

MagaFest 2015 - Reportagem


No dia 5 de Setembro, decorreu na Casa Independente a segunda edição do Magafest, festival de música alternativa dedicado à música portuguesa e que serve como celebração das MagaSessions, sessões musicais que decorrem desde 2012 no Saldanha na casa de Inês Magalhães, mentora e organizadora deste projecto. A segunda edição contou com uma mescla de talentos emergentes com nomes seguros do panorama musical português. Os concertos dividiram-se em dois espaços: "Tasca Tropical" (exterior) e Salão do Tigre, o ouvido alternativo esteve presente e conta-vos tudo...


18h00 - Minta and The Brook Trout

Francisca Cortesão e Mariana Ricardo, protagonizaram o início perfeito deste dia, o cenário era idílico, o público rodeou-as ora sentados no chão ora de pé e ficaram rendidos às suas harmonias vocais de vozes doces e delicadas. Relembraram o concerto que haviam dado nas MagaSessions e interpretaram algumas das músicas do álbum One Foot In The Grave de Beck, tiveram ainda tempo, para outras covers, entre elas "I Like Giants" de Kimya Dawson no  entanto o repertório próprio não foi esquecido. Primeiro concerto do dia e logo ali percebemos ao que íamos, ambiente descontraído e despretensioso, como se estivéssemos a assistir a um espectáculo no conforto da nossa casa.


19h00 - Simão

Inês Magalhães desafiou Simão a interpretar as músicas da sua banda Não Simão (trio de rock português) em formato acústico, para isso a banda separou-se por momentos, no entanto ambos os restantes membros se encontravam a assistir a este momento único. Poderia ser um momento simplesmente  agradável, mas estávamos enganados, ao segundo concerto assistimos a um dos momentos altos do dia, se não mesmo o melhor. Simão muniu-se unicamente de uma guitarra acústica e um pedal de loop, que domina com mestria, mas teve na sua voz o grande trunfo, ficamos absolutamente rendidos, voz poderosa com uma amplitude impressionante e uma capacidade de variação admirável. Tivemos ainda oportunidade a assistir a uma "modestíssima" (nas palavras do próprio) homenagem ao enorme José Afonso, que de modesta só teve o nome, acreditamos que Zeca, onde quer que esteja, ficou ou pelo menos ficaria orgulhoso com a versão de Simão.



20h00 - Filho da Mãe

Rui Carvalho, mais conhecido como Filho da Mãe é um homem com uma guitarra clássica nas mãos, mas para o ouvido alternativo o homem e a guitarra fundem-se num só e assistimos a momentos de puro deleite, exímio executante, parco em palavras mas recheado de sentimento que nos transmite à medida que vai dedilhando melodias clássicas com influências de flamengo e música do mundo. Os presentes ficaram rendidos e ao nosso lado ouvimos mesmo a expressão: "Este gajo é mesmo um grande Filho da Mãe".


21h00 - Carlos Bica e Norberto Lobo

Foi sem sombra de dúvidas um os concertos que registou maior afluência do dia, o salão do Tigre encheu-se para receber calorosamente o encontro de Carlos Bica no contra-baixo e Norberto Lobo na guitarra. Se por um lado foi improvável, por outro tornou-se num momento sublime e de rara beleza, daí não ser de estranhar que o público (onde podíamos avistar diversos músicos portugueses) tenha reagido com um entusiasmo sincero. Assistimos a uma fusão perfeita entre a música camaleónica de diversas influências, mas que no fundo soa a Norberto Lobo com o jazz de Carlos Bica.


22h00 - Lula Pena

Lulu Pena, cantora portuguesa que no fundo é uma cantora do mundo, conta apenas com dois discos editados, que apresentam ainda um fosso de doze anos entre eles, porque se desiludiu com a indústria musical. Apresentou-se sozinha acompanhada da sua guitarra acústica, e apresentou-nos músicas sentidas, sofridas pinceladas com a inquietude da sua voz. Demonstrou mais uma vez que se trata de uma pessoa de rara sensibilidade e que nos comove com a sua palavra. Não teve tanto público como poderíamos esperar mas muitos aproveitaram para jantar porque já não era cedo.


23h00 - Garcia da Selva

Garcia da Selva, um dos pseudónimos de Manuel Mesquita, encerrou a noite no palco exterior. Já a noite estava instalada e o multifacetado músico recorreu às suas teclas e sintetizadores para nos transportar para um ambiente alienígena, recheado de psicadelismo que serviu de música de fundo para alguns colocarem a conversa em dia, mas também proporcionou aos restantes presentes (se calhar só a um) momentos de loucura, contagiando-o(s) com a sua música e transformando o(s) seu(s) corpo(s) numa dança alucinante.


24h00 - Silence Is a Boy

Banda lisboeta, mas cujos membros se encontram espalhados pelo mundo, ou seja as apresentações ao vivo são sempre momentos raros e especiais. Contaram com oito músicos em palco, entre eles a colaboração especial de Minta (Francisca Cortesão). Mal entraram em palco avisaram ao que vinham: "Nós somos os Silence is a Boy e vamos partir esta m***a  toda", eles avisaram e se ficamos foi porque quisemos, e não nos arrependemos. Fizeram literalmente a festa toda ao som do seu "Cylon Folk", para perceberam ao que nos referimos soam a pop rock português dos anos 80, letras com o seu quê cómico/provocatório e um frontman carismático, o Pedro Inês. Na nossa cabeça surgiu mais que uma vez o nome Afonsinhos do Condado. O público estava em êxtase, cantou, dançou e retribuiu o empenho e energia da banda de forma calorosa, tiveram até direito a encore, onde repetiram "Vamos Para a Praia Curtir", não foi na praia, mas fomos para a casa independente curtir.


01h00 - Jibóia

Óscar Silva, ou melhor Jibóia teve o prazer de encerrar a noite e concluiu um dia inteiro de boa música ao som da sua electrónica das arábias, ou será que é asiática? Não sabemos definir mas isso também não é importante, recorreu a sintetizadores e guitarra eléctrica para elaborar os seus ritmos frenéticos e contagiantes que nos transportam para as mil e uma noites sob o efeito de estupefacientes. Teve a colaboração da "sherazade" Ana Miró (Sequin) que lhe atribui a sensualidade necessária para a cobra ficar hipnotizada. Não ficamos hipnotizados mas ficamos cansados de tanto dançar. 


Chegou ao fim a segunda edição do Magafest, como nem tudo é perfeito e seria estranho se fosse, a perfeição é algo aborrecida, vamos aos aspectos menos bons, em primeiro lugar a Casa Independente demostrou em alguns momentos que no bar/cozinha tudo fica um pouco desorganizado quando têm lotação esgotada. Em relação ao evento Magafest, gostaríamos de ter encontrado em algum local afixado em que espaço iriam decorrer os respectivos concertos, ou seja às vezes estávamos no exterior, quando no interior já havia começado um concerto, por último um pequeno apontamento para os curtos atrasos em alguns concertos e que culminaram com alguma sobreposição do concerto de Lula Pena com o de Garcia da Selva, se já não gostamos quando isso acontece num grande festival, acreditamos que aqui seria evitável nem que para isso atrasassem o seguinte. Na terceira edição deveriam tentar evitar as sobreposições. Concluindo, como podem ver os aspectos menos bons foram praticamente insignificantes face ao belo dia de concertos que presenciamos, finalmente uma palavra para Inês Magalhães, que merece um muito obrigado de todos aqueles que amam a música, como nós nos enquadramos nesse grupo, o ouvido alternativo envia um Muito Obrigado Inês Magalhães. 

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