segunda-feira, 16 de maio de 2016

Conversas d'Ouvido Com Sax On The Road

Os Sax On The Road", projecto musical do saxofonista António Ramos (Torré), actualmente em formato trio com Jorge Nunes (percussão) e António Pinto (trompete), participaram no "Conversas d'Ouvido". Podemos desde já adiantar que gostaria de efectuar um dueto com o saxofonista dos Morphine, Dana Colley, mas a "conversa" não se ficou por aqui...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Sax On The Road: Desde que existo, a música fez sempre parte da minha vida, primeiro como ouvinte e mais tarde como executante e ainda mais tarde como criador. O meu pai tocava tuba numa banda filarmónica, era o hobbie dele, era vivido com grande paixão, ao ponto de ser o fundador de uma banda filarmónica em Lisboa, Banda Musical e Artística Charneca. Ele comprou-me um saxofone-alto e insistiu para que eu fosse aprender a tocar na escola da banda filarmónica, não gostei da ideia porque não me identificava com o repertório das bandas filarmónicas, acabei por ir, por volta dos 14 anos, encontrei lá um grupo fabuloso de amigos da mesma idade, foi o meu pontapé de saída enquanto músico.

·       Para além da música, qual a outra grande paixão?
Viajar, se pudesse andava meio ano a viajar e outro meio era para estar em casa a digerir a viagem e a criar novas músicas.

·       Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A música é uma linguagem universal, permite “falar” com qualquer pessoa no planeta, já várias vezes comprovei isso, permite conhecer muita gente, enriquecemos a alma, sentimo-nos parte deste planeta. A desvantagem, no meu caso concreto, em Portugal, não poder ganhar dinheiro que me permita viver desta atividade, tenho de ter outra atividade fora da música, sou professor de Biologia/Geologia.

·       Quais as tuas maiores influências musicais?
Ao longo dos tempos isso foi variando, atualmente eu ouço algum indie, jazz e world music, em especial a música africana. É um bocado complicado cingir-me a um ou outro estilo, o espectro de gostos é muito vasto, já tive projetos musicais ligados a várias áreas. Em 2013 estive em São Tomé e Príncipe com uma banda de Spokenword, ainda recentemente estive no MIA – Encontros de Música Improvisada de Atouguia da Baleia, com cerca de 80 músicos de 14 nacionalidades a tocar os mais diversos instrumentos alguns inventados por eles, por outro lado toco numa banda filarmónica e tenho o Sax on the road...

·       Como preferes ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
A maior parte das vezes em CD e continuo a ouvir em Vinil (atualmente compro muitos discos de jazz em vinil)

·       O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Isso é complicado de responder, eu sou de uma geração que comprava discos, raramente ouço discos na net, às vezes ouço para ver se vale a pena comprar, gosto muito do objeto vinil e de todo o ritual, gosto do CD em digipack, detesto as capas de plástico, acho importante a parte “física” da música... As novas tecnologias trazem sempre vantagens e desvantagens e cada um usa-as da melhor maneira, é algo que não se pode proibir, há que encontrar novas soluções e acima de tudo temos de saber filtrar a informação, os dias continuam a ter 24 horas...

·       Qual o disco da tua vida?
Isso não existe, isto é um processo contínuo, continuo a descobrir discos importantes, por vezes alguns que foram feitos quando eu nasci. No entanto há uma banda e um álbum que me marcou, os Morphine com o disco Good. Até aí eu tocava sax numa filarmónica, era um mero executante, e tinha uma banda onde tocava guitarra e cantava num registo pop rock, mais ou menos por essa altura entrei para o Coty Cream e comecei a explorar o sax, influenciado pelos Morphine, usando riffs, uma mistura de jazz/rock/groove. Até hoje os Morphine continuam no meu altar.

·       Qual o último disco que te deixou maravilhado?
É complicado responder porque compro muita música dos mais variados géneros, uma mais recente e outra menos atual. Deixo aqui dois discos que ouço regularmente, o último dos Tindersticks - The Waiting Room, estão como o vinho do Porto, quanto mais velhos melhor, é uma banda que sigo desde o início, já os vi várias vezes e continuam em grande forma, o outro é o disco do Toumani & Sidiki Diabaté, representam o filão africano que eu vou descobrindo.

·       O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Yusef Lateef (The Blue Yusef Lateef)

·       Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Eu fazia parte de uma banda, os New Connection onde tocava guitarra, sax e teclas. Fomos tocar no Teatro da Malaposta (Odivelas) e na véspera tínhamos tocado no norte, dormimos pouco, mal chegamos Odivelas fomos jantar, demorou algum tempo e fui comendo uns salgadinhos e bebendo “vinho” branco à pressão, fez o seu efeito. Pouco antes de começar o concerto não sabia da minha bolsa onde estavam os apontamentos com os sons do teclado e o alinhamento, mesmo assim toquei e passei o concerto meio à toa a improvisar...no final do concerto encontrei a bolsa no chão ao lado de um monitor

·       Com que músico gostarias de efectuar um dueto/parceria?
O Dana Colley, saxofonista dos Morphine

·       Para quem gostarias de abrir um concerto?
Para os Tinariwen

·       Em que palco (nacional ou internacional) gostarias de um dia actuar?
Palco nacional no Festival de Música do Mundo de Sines, palco internacional no Festival au Désert no Mali.

·       Qual o melhor concerto a que já assististe?
É complicado escolher, já vi tantos, e continuo a ver, actualmente concertos mesmo mainstream, talvez o primeiro do Tricky no Coliseu dos Recreios em 1999 com uma luz muito ténue durante todo o concerto, a voz envolvente da Martina Topley-Bird e o público a acompanhar o ritmo acendendo e apagando os isqueiros.

·       Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Os Primal Scream, gostava de ter visto a digressão de comemoração do vigésimo aniversário do Screamadelica, gosto muito deles, fazem aquilo que lhes apetece, gosto muito do ar “junkie” da banda, é rock para sacudir o esqueleto.

·     Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostavas de ter estado presente?
Ravi Shankar, Woodstock 1969

·       Qual o teu guilty pleasure musical?
Talvez os Dire Straits...

·       Projetos para o futuro?
Já comecei a gravar o terceiro disco de Sax on the road, está a andar lentamente porque há pouco dinheiro. A partir do momento que comecei a levar o projeto mais a sério estabeleci como meta gravar pelo menos 3 discos, é preciso paciência e determinação, uma coisa que hoje em dia pouca gente tem e por isso muita coisa fica pelo caminho. Já tenho ideias para o quarto e espero que este projeto se prolongue por muitos anos. Além dos discos quero tocar muito por cá e se for possível lá fora.

·       Próximos concertos?
Em 2014/15 após o lançamento do primeiro fizemos 20 concertos, em 2015/16 após o segundo disco fizemos uma dúzia e já devia ter gravado o terceiro, como tal estamos mais parados, por outro lado não queremos repetir os mesmo sítios, o único que temos agendado para já é em julho num Festival de média dimensão que ainda não podemos divulgar.

·       Que música gostarias que tocasse no teu funeral?

Obrigado pela atenção, boa sorte para o futuro.
Relembramos que o último disco de Sax on The Road, Kif-Kif Van, está disponível para escuta e download através da plataforma Bandcamp.

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