Estivemos à conversa com Batida, nome com que o músico e produtor Pedro Coquenão assina o que faz, nascido em Angola, mas criado nos subúrbios de Lisboa, a sua música reveste-se de raízes africanas numa sonoridade à qual é impossível ficar indiferente. Se há músicas que nos convidam a dançar, as de Batida literalmente obrigam-nos... Pedro confessou-nos que entre as suas paixões se incluem a dança, o cinema, o documentário e a conversa, é caso para dizer que esta "Conversas d'Ouvido" é imperdível...
Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Batida: Desde que me lembro. Compunha shows com os meus 2 primos mais próximos, mais tarde a minha prima bebé, e passava o tempo a gravar cassetes da rádio e a espreitar tudo o que os mais velhos tinham.
Como surgiu o nome BATIDA?
Estava em Luanda quando recebi a resposta de que o meu projecto de programa dedicado a nova música de dança inspirada ou feita nas principais cidades Africanas tinha sido aceite na Antena 3. Foi lá que em conversa com amigos, acabei por perceber que este nome simbolizava muito do que queria comunicar. Batida era usado como nome para compilações piratas de música de dança, divulgavam novos artistas, no dicionário o significado também me agradava e, acima de tudo, era um nome simples e que podia ser o que quisesse ser mais tarde. Essencialmente escolhi por comunicar muita coisa com que me relaciono e tenho interesse em partilhar. Quando fiz as primeiras tentativas de músicas, foi neste programa e por isso, e por a coisa ter evoluído por minha culpa para algo mais pessoal, acabei por aceitar este nome como o melhor para assinar tudo o que vou fazendo nestes últimos anos.
Para além da música, t ens mais alguma grande paixão?
Comunicar no sentido mais aberto possível. Acho que a música faz parte disso mas também a dança, o cinema, o documentário, a conversa. Numa outra perspectiva, se pudesse, estava sempre dentro de água. Pode ser que um dia arranje um projeto que me ponha nessa posição.
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
É sempre uma vantagem fazeres o que gostas. Só posso falar por mim. Há várias formas de se ser músico e viver disso. Eu nem me sinto à vontade com essa designação. Sinto-me só uma pessoa que se tenta exprimir ou comunicar através de várias ferramentas e artes. A música é uma delas. Não sei se sou a pessoa certa para responder. Fico-me com o início da resposta.
Quais as tuas maiores influências musicais?
Toda a música que ouvi e vi na televisão, que na altura era muita canção de intervenção, brasileira, angolana, cabo verdiana, mas também os genéricos dos programas mais ou menos infantis. O “Sítio do Picapau Amarelo” era sempre um momento alto. Mais tarde o que gravava na rádio. Heróis do Mar. O Variações chamava a atenção. Ouvia muito anos 60: Alguns singles da minha mãe, Otis Redding. Stevie Wonder e coisas que ia apanhando. O que os meus primos mais velhos ouviam: Electro, Break Dance, clássicos dos 70. Mais tarde muito punk e coisas mais Indie. Quando comecei a por discos comprei muito House e também tive de mergulhar na cena mais Hard Rock. Depois voltei ao reggae, ao funk e acabei por misturar tudo e encontrar o que me é mais próximo.
Como preferes ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
Como calha. Mais do que o meio, o contexto: gosto de ouvir o som espalhado pela casa, especialmente quando o chão é de madeira, a viajar de carro, num que tenha um bom grave, ou num clube com bom som.
O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
A música não morre nunca. Pode matar o negócio, a indústria. Como tudo, depende de nós, como músicos e ouvintes. Mas isso aplica-se a quase tudo. Mas sem dúvida que a música tem de ser valorizada. Há muito entretenimento assente em música e os músicos têm uma fatia muito pequena disso.
Qual o disco da tua vida?
Não tenho um. Houve uma fase em que já tinha preparada resposta para esta pergunta mas agora prefiro deixar em aberto.
Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Ultimamente são mais músicas soltas. Os EP's do Nigga Fox.
O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
O E.P. do Nazareth. Bazaar.
Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
O laptop desligar-se numa Arena esgotada em Amesterdão. Estava a fazer a abertura do Stromae. Tudo acabou bem com o amor do público.
Com que músico gostarias de efectuar um dueto/parceria?
O Paul (Stromae ou num outro personagem).
Para quem gostarias de abrir um concerto?
Gosto mais de ideia de participar. Como no fecho do Roskilde com o Africa Express.
Qualquer sala bonita de teatro com bom som, vídeo, luz, palco, equipa e um público aberto a ouvir, conversar e partilhar.
Qual o melhor concerto a que já assististe?
Basement Jaxx no Sudoeste, Radiohead na Brixton Academy, Noite Body & Soul em NYC, De La Soul no Coliseu, Tom Zé no Sines...
Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Clash
Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostavas de ter estado presente?
Eram tantos. Incluiria festas de rua mas também discos em Nova Iorque, como o Paradise Garage ou bares turbulentos como o CBGB, o Hacienda em Manchester, o Shrine em Lagos mas também salas mais escuras onde pudesse ouvir Blues, Jazz, RnB, o Rock'n'Roll antes de o ser e coisas sem nome ainda, bem como as festas em Luanda nos anos 60 e setenta de que ouço falar onde se começou a desenhar o futuro. Mas sou feliz em perceber que vivo coisas importantes agora.
Qual o teu guilty pleasure musical?
Já não tenho : ) É sempre bom ser afectado por algo fora do nosso universo habitual.
Projectos para o futuro?
Sobreviver a este verão. Para depois de Outubro fazer novo disco e show.
Próximos concertos?
Após ter actuado em Glastonbury e Nairobi, segue-se Madrid (14 Julho), Lisboa no SBSR e a festa de jardim do Barbican em Londres.
Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Dispensava a cerimónia.
Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Obrigado eu pelo interesse. Boa sorte.
Ficamos agora ao som de "Luxo", extraída do seu disco Dois.
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