terça-feira, 5 de julho de 2016

Conversas d'Ouvido com Bear Me Again


Estivemos à conversa com a banda brasileira, proveniente Belo Horizonte, Bear me Again. Projecto de indie folk, composto por Wendhell Wernek (voz, violão), Luís Lopes (baixo, backing vocal), Diego Ernane (guitarra e backing vocal) e Thiago França (bateria). No ano passado editaram o debut homónimo, aclamado pela crítica. Nesta conversa descontraída, descobrimos o desejo de colaborarem com a banda Senhor do Bonfim, ficamos ainda que recentemente têm ouvido o álbum Amianto dos Supercombo e sonham um dia poderem actuar em locais como Rock in Rio e Coachella. Porém isto é apenas uma pequena amostra de tudo o que podem descobrir em mais uma edição de "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Diego: Sempre gostei muito de ouvir música. Quando era criança brincava de tocar guitarra em vassouras, junto com os clipes que passavam na MTV. Na oitava série tive a oportunidade de começar a fazer aula de violão e me apaixonei imediatamente pelo instrumento, passava a maior parte do dia tocando. Desde então não imagino minha vida longe das 6 cordas.
Wendhell: Acho que comecei da mesma forma. Me lembro de subir nos móveis da casa quando criança, imaginando ser um palco. Colocava os álbuns do Red Hot Chili Peppers para tocar e fingia ser eu quem estava apresentando. Comecei a tocar violão na pré adolescência, mas só comecei a me dedicar verdadeiramente depois dos 17 anos. Nessa fase, eu comecei a perceber que o violão era muitíssimo mais complexo do que eu podia compreender; desde então, comecei a tocar e estudar horas e horas todos os dias - a cada hora que passava, mais fascinado eu ficava. Nesse meio tempo, eu percebi que conseguia desenvolver melodias próprias e que tinha noção de escrita. Daí em diante, não parei mais de escrever e tocar; a cada dia mais frequentemente, mais minuciosamente e mais rigorosamente comigo mesmo, tratando-se de aperfeiçoamento.
Para além da música, t que tocasse no vossomavamstiram que tocasse no teusosavas ariasêm mais alguma grande paixão?
Luís: Snooker.
Diego: Minha noiva, jogar e assistir partidas de futebol, produção musical, jogar vídeo game e desenvolvimento de software.
Wendhell: Eu, para ser bem sincero, quando penso em grande paixão, só consigo pensar em algumas poucas coisas para listar, como Deus, família, minha noiva... Eu tenho muitos interesses, acho prazer em várias coisas diferentes. Mas, “grande paixão” é um termo forte para eu citar, por exemplo, que eu gosto de desenhar às vezes, gosto de jogar vídeo game, assistir filmes, ficar sozinho de vez em quando, sair com os amigos à noite e coisas do tipo. Apesar de considerar até um pouco doentio o fato de não conseguir pensar em nada como uma outra grande paixão, preciso admitir que sou um pouco obcecado pela música, e tenho dificuldade de canalizar energia para outras coisas.
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Thiago: A maior vantagem da vida de um musico é acessar pessoas e lugares inimagináveis, ser parte das particularidades e do universal, partilhar tudo que somos e ser um só com o público. A maior desvantagem é a desvalorização do músico.
Diego: A lista de vantagens é gigantesca, mas no topo dessa lista, com certeza, é o sentimento de prazer ao fazer a coisa que mais ama. A desvantagem é a questão do preconceito, principalmente aqui no Brasil, muitas pessoas não têm ideia do quanto um músico tem que estudar, trabalhar e investir (tanto dinheiro quanto tempo) em sua carreira. Infelizmente, isso tira um pouco da magia que a música ou um músico pode oferecer para a vida de qualquer pessoa. Não consigo imaginar um mundo sem música.
Como surgiu o nome Bear me Again?
Wendhell: Esse nome às vezes causa confusão nas pessoas, por relacionarem com o substantivo, que significa “urso”. Na verdade, o verbo “bear” significa gerar, dar à luz, ou parir. A ideia vem de uma passagem bíblica, onde Jesus se encontra com um mestre da lei, chamado Nicodemos, cheio de conhecimento e de qualificação, e diz que ele teria que nascer novamente para entender as coisas. Para nós, bear me again, “me gere de novo”, significa que nunca seremos tão bons ou tão sábios a ponto de não precisar ser reinventados, ou aprender novamente, ou até desconstruir pensamentos, e sistemas para entender novas coisas e aceitar novos desafios.
Quais as vossas maiores influências musicais?
Wendhell: No início de tudo, antes de começar a compor, foi Coldplay, na época do álbum X&Y, de 2005. Até ali, tudo que eles faziam, na minha opinião, era perfeito! Então acho que foi a banda que mais me influenciou nos primeiros momentos, e que, de certa maneira, afetou de forma mais forte o meu estilo de composição. Mas sou apaixonado por Red Hot Chili Peppers, Kings of Leon, Neil Young, Johnny Cash, U2, Mumford and Sons, Bob Dylan, etc. Então, logicamente, por ouvi-los demais, creio que me influenciaram bastante também.
Diego: As principais para mim são: AC/DC, The Mars Volta, Rage Against the Machine, John Mayer, City and Colour, The Strokes…
Como preferem ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
Diego: Normalmente escuto em streaming. Gosto de ouvir faixas aleatórias e criar playlists.
Thiago: Vinil. Acho que essa mídia consegue passar uma textura musical que nenhuma das outras expressa, além da elegância.
Wendhell: Acho que não tenho muito uma preferência, mas tenho mais costume de ouvir no leitor mp3, por estar sempre à mão, ou por streaming, por ser de fácil acesso quando estou no PC.
O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Diego: Creio que nada consegue de fato “matar” a música. Atualmente, o mercado muda muito rápido e temos que nos adaptar a essas mudanças. Mas, na minha visão, os serviços de streaming dão nova vida ao mercado musical. Ninguém mais compra um álbum por ter gostado de apenas uma música, principalmente por causa de sites piratas que fornecem esses álbuns completos e de forma gratuita. O streaming une o útil ao agradável, você encontra praticamente todos os álbuns de quase todas as bandas, pagando um valor risório, e tem a possibilidade de ouvir em qualquer lugar que estiver. As bandas ganham, o ouvinte ganha e o mercado ganha.
Qual o disco da vossa vida?
Wendhell: Acho que seria praticamente impossível falar só um, por terem tantos que eu amo tanto, mas acho que ressaltaria Stadium Arcadium dos Red Hot Chili Peppers, A Rush of Blood to the Head dos Coldplay e Come Around Sundown dos Kings of Leon.
Diego: Para mim, Back in Black e Highway to Hell ambos do AC/DC.
Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
Diego: Amianto, da banda Supercombo.
Wendhell: Ouvi recentemente um disco chamado The Outisders, da banda NEEDTOBREATHE. Eu não consegui conter minha empolgação ao ouví-lo: a cada música eu tinha uma surpresa - uma mais agradável que a outra.
O que andam a ouvir de momento/Qual a vossa mais recente descoberta musical?
Wendhell: Bom, cresci ouvindo o John Frusciante tocar nos Red Hot, até à sua saída em 2009, mas comecei a acompanhar a carreira solo dele bem recentemente. Posso dizer que foi uma das melhores descobertas que fiz, apesar de já gostar dele antes de conhecer seu trabalho novo.
Diego: Atualmente estou escutando bastante duas bandas: LITE e Toe.
Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
Diego: Uma vez comecei a música “A Kite”, primeira faixa do álbum, meio tom abaixo do original. Como a introdução da música é feita na guitarra sozinha, ninguém percebeu até a entrada dos outros instrumentos. Logo depois da introdução voltei ao tom correto. O tempo todo, agindo como se nada estivesse acontecendo.
Que músico/banda já vos desiludiu a nível musical/ou em concerto ao vivo?
Wendhell: Creio que a minha maior decepção foi a mudança no estilo musical pela qual os Coldplay passaram, gradualmente, desde o album Viva La Vida até hoje em dia. Eles continuam sensacionais em fazer música, mas, honestamente, saiu completamente do meu gosto pessoal.
Com que músico gostariam de efectuar um dueto/parceria?
Wendhell: Pessoalmente, tenho vontade de fazer uma parceria com a banda Senhor do Bonfim, que faz um som de muita qualidade, aqui de Belo Horizonte mesmo. Estamos planeando algo.
Para quem gostariam de abrir um concerto?
Wendhell: Eu me sentiria no topo do mundo se pudesse tocar no mesmo palco em que alguma das bandas que citei como minhas influências na 5.ª questão. Qualquer uma delas seria algo extraordinário para mim!
Em que palco (nacional ou internacional) gostariam um dia de actuar?
Diego: Rock in Rio é um grande sonho.
Wendhell: Muitos! Lolapalooza, Glastonbury, Austin City Limits, Bonnaroo, Coachella, etc.
Qual o melhor concerto a que já assistiram?
Diego: Foram 3: um do Parkway Drive, outro do Steve Vai e um do City and Colour.
Wendhell: Difícil dizer, mas acho que um show da banda Los Hermanos em 2012, em Belo Horizonte.
Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
Wendhell: Com certeza, Michael Jackson. É muito triste saber que não tive, e nem terei essa oportunidade. Ir a um show dele seria uma experiência indescritível, que me tiraria totalmente da realidade! Na minha opinião, ele é o artista mais completo de todos os tempos.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostavam de ter estado presentes?
Wendhell: Tem dois, em especial, que me aperta o peito não ter estado presente, sempre que os assisto em vídeo: Red Hot Chili Peppers no Slane Castle, em 2003 e Coldplay em Toronto no concerto “How You See the World” em 2006.
Diego: AC/DC em Buenos Aires na Argentina, pela turnê do ano de 2009.
Qual o vosso guilty pleasure musical?
Wendhell: Para responder a essa pergunta, preciso, primeiramente, ressaltar que só os considero como “guilty pleasure” por não estarem dentro do padrão habitual do que eu, ou a maioria das pessoas que fazem parte dos meus círculos de relacionamento, costumamos ouvir; mas são grandíssimos e talentosíssimos músicos. Enfim, me pego cantando muitas músicas da Rihanna, Katy Perry e algumas outras “divas pop” do momento. Mas o “guilty pleasure” que mais tem me surpreendido é o Justin Bieber. Não consigo parar de cantar “Love Yourself”.
Projectos para o futuro?
Wendhell: Estamos com alguns projetos engatilhados, e muito empolgados com eles no momento. Só no mês de julho, começamos a gravar as primeiras cenas do nosso próximo clipe com a produtora Cambalache Filmes; entramos para o Estúdio Guerra, com o nosso grande amigo e produtor Lucas Guerra, para começar as gravações do nosso próximo EP, que será lançado pelo Music For All. Além de nosso show de reestreia, que fecha esse mês com chave de ouro.
Luís: Além disso, levar o nosso som e a nossa mensagem ao máximo de lugares possíveis.
Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Wendhell: Olha, devo confessar, que em algumas oportunidades, quando estou sozinho, fico ensaiando entrevistas e respostas que daria a algumas perguntas hipotéticas; fico sonhando com um dia em que nossa música alcançará muitas pessoas, e fico ensaiando discursos para tal época. Então uma coisa eu posso dizer, já me foram colocadas perguntas de todos os tipos… por mim mesmo.

Que música gostariam que tocasse no vosso funeral?
Wendhell: Nunca parei para pensar nisso, mas acho que talvez “Amazing Grace”.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Ficamos agora ao som de "Rose" um dos singles extraídos do primeiro LP dos Bear Me Again

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