quarta-feira, 26 de abril de 2017

Conversas d'Ouvido com Jacintho


Estivemos à conversa com o músico brasileiro Murilo Henrique Jacintho. O seu projecto reveste-se de uma certa tropicalidade latino-americana, ao qual decidiu chamar "simplesmente" Jacintho. Actualmente o colectivo é composto por Jacintho (voz), Alyne Suesique Zica (voz), Marcos Godoy (guitarra), Marcos Zaniboni (contrabaixo), Lucas Gilli (bateria), Adonias Fonseca (trompete) e Joni do Santos (trombone). Actualmente encontram-se a preparar a edição EP homónimo, momento ideal para ficarmos a conhecer melhor Jacintho, em mais uma edição das "Conversas d'Ouvido"... 


Como surgiu a paixão pela música?
É um pouco estranho, pois nunca tive referências musicais dentro da minha família, nenhuma pessoa com interesse em música ou qualquer outro tipo de arte. Mas de toda forma, me recordo desde muito cedo a brincar, de cantar, a ter desejo em aprender a tocar instrumentos e foi nessa curiosidade que comecei a efetivamente me envolver com a música em todos os aspectos, começando pelo canto.

A vossa música apresenta uma forte carga visual, para vocês a música e a estética visual devem caminhar juntas?
Sem dúvidas. Da mesma forma que o ritmo e direção musical que proponho carrega uma identidade, acredito que visualmente estabelecemos esse laço também e, que acaba sendo muito natural, é onde estabelecemos o conceito. É minha identidade plena, que se caracteriza desde o ritmo à estética. Essa leitura visual sempre acontece, as pessoas se identificam, conseguem identificar de alguma forma a proposta musical e essa junção de música e estética cria o todo, o conceito, a identidade e potência da proposta.

Preparam-se para editar novo EP, já podes antecipar um pouco sobre o que podemos esperar? 
Claro! O EP na verdade é o apanhado das 4 canções que gravamos em vídeo e que lançamos no mês passado. Esse EP traça um pouco da proposta geral do projeto, apresentando canções que carregam esse apelo tropical baseado na música latino-americana.

Como gostas de descrever o vosso estilo musical?
Entendo que ele é uma verdadeira mistura de ritmos. Mas em essência é uma grande pesquisa sobre a música brasileira e, sobretudo a música latino-americana. Eu e a banda que me acompanha crescemos em uma realidade musical pautada no rock n’roll, mas que de alguma forma estavamos atentos ao cenário da música brasileira aplicada em suas mais variadas vertentes de ritmos. Hoje defino, com uma grande investigação sobre a música do norte e nordeste do Brasil, e claro, passando também pelo samba carioca e paulista. Enfim, gosto de falar que a principal influência são os ritmos tropicais e passionais que encontramos na américa-latina, com um toque de intensidade roqueira.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Além de músico sou artista visual. Possuo diversos projetos dentro dessa linguagem artística onde pesquiso e exploro a prática da fotografia, foto-colagem e intervenção urbana.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Vantagem: Cantar os seus sonhos e pesadelos
Desvantagem: Muitas vezes não ter abertura e espaço para cantar os seus sonhos e pesadelos.

Quais as tuas maiores influências musicais?
Neste momento considero a música latina de modo geral, passando pelo samba, forró, carimbó, cúmbia, salsa. Mas no decorrer do processo como músico são várias e que vêm de todos os lados, países e línguas.
Como compositores que me influenciam ainda hoje, sem dúvidas Caetano Veloso e Jards Macalé.

Como preferes ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
Gosto muito do exercício de se ouvir o vinil, mas também me contento e gosto de ouvir em streaming de alta qualidade.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Acredito que salvando. É uma possibilidade que surgiu e que tem dado voz aos artistas independentes. É meio democrático e prático de se transmitir e captar músicas. As plataformas físicas monopolizam o mercado, concentrando o conhecimento e a música na mão de grandes empresas que muitas vezes pouco se importam com a qualidade artística.

Qual o disco da tua vida?
Não consigo listar só um, então vai 3 discos:
Só Morto Burning Night – Jards Macalé
A Tábua de Esmeralda – Jorge Ben
Transa – Caetano Veloso

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Duas Cidades – do grupo brasileiro BaianaSystem.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Atualmente tenho ouvido alguns grupos de eletrocumbia latino-americanos e tento acompanhar tudo de novo que sai no cenário independente brasileiro, às vezes são artistas novos fazendo grandes discos, ou artistas já consagrados fortalecendo mais ainda sua carreira.

ChocQuibTown – Colômbia
Bomba Estéreo – Colômbia
Chico Trujillo – Chile
La Yegros – Argentina
Mahmundi – Brasil
Liniker e os Caramelows – Brasil
Pinduca – Brasil
Francisco, el hombre – Brasil
Carne Doce - Brasil 

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Caetano Veloso

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
No Brasil nos festivais Rec-Beat de Recife – Pernambuco
E Bananada em Goiânia - Goiás
No exterior no Primavera Sound em Baracelona - Espanha

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Show do disco MetaL MetaL da banda brasileira - Metá Metá 

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Chico Trujillo - Chile

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Não seria um concerto, mas sim um movimento. O movimento da Tropicália no Brasil nos anos 60/70.

Qual o teu guilty pleasure musical?
Acho que não tenho. Existem artistas que um dia tiveram minha admiração ainda quando mais jovem e hoje não significam nada pra mim, pois não corresponde minhas expectativas musicais, políticas e sociais. Não me envergonho de nada que ouço na atualidade.

Projectos para o futuro?
Lançar o EP nas plataformas digitais e muito provavelmente no início do segundo semestre devemos lançar um single anunciando a chegada do disco. Mas por hora estamos trabalhando no agenciamento de shows pelo Brasil.

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta. 
Por que do nome “Jacintho”?
Jacintho é meu sobrenome, o qual eu sempre tive receios em utilizá-lo devido aos bullyings que passei no período escolar, piadas de cunho homofóbico e machista. Escolher o meu próprio nome para representar essa entidade musical e poética que criei, foi uma manifesto de libertação e de autoconhecimento. Ainda mais por Jacintho ter a fonética do verbo sentir em forma conjulgada, o que é de uma sensibilidade enorme. Nessa busca de me entender, passando pelo meu nome, descobri que Jacintho é o nome de uma flor proveniente da mitologia grega. Onde a paixão de Apolo causou a morte de um homem terrestre, pelo qual era apaixonado. Com o sangue desse homem, ele fez uma flor e batizou-a de Jacinto. 

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Terminamos agora, com o som de Jacintho e do mais recente single "Edredom"

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