quinta-feira, 11 de maio de 2017

Conversas d'Ouvido com Gragoatá

Estivemos à conversa com a banda brasileira Gragoatá, formada por Fanner Horta, Rebeca Sauwen e Renato Côrtes. O trio editou recentemente o seu novíssimo disco homónimo, após uma bem sucedida campanha de crowdfunding. Aproveitamos o lançamento do álbum, para uma entrevista descontraída, onde falamos de influências, discos de uma vida, outras paixões e muito mais, para descobrirem, nesta edição das "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Fanner Horta (FH): Difícil ser preciso. Acho que essa paixão já nasceu comigo. Minha vida sempre esteve ligada à música. Lembro de uma fita K7 que minha avó guardava lá na casa dela e nessa fita eu, ainda muito pequeno, cantava "Hey Jude", a versão em português do Kiko Zambianchi, a plenos pulmões. Parecia que já era o que eu mais gostava de fazer.
Rebeca Sauwen (RS): Paixão pela música sempre existiu comigo, não sei quando surgiu.
Renato Côrtes (RC): Cresci vendo meus pais e tios tocarem em família. O ambiente sempre foi muito músical.

Como surgiu o nome Gragoatá?
FH: Gragoatá é nome do Bairro que abriga a Universidade Federal Fluminense e foi onde começaram os encontros musicais entre Renato e Rebeca. Por acaso, é o mesmo bairro em que conheci os dois, antes mesmo de entrar para a banda.

Editaram recentemente um álbum homónimo, para quem ainda não o ouviu o que podemos esperar? 
FH: Acho que o disco é uma descoberta. Descoberta do que queremos fazer enquanto músicos. Aquela coisa de procurar nossa identidade como banda, o que na minha opinião, deixou o disco mais colorido e bem fluido. Sempre tivemos a água como elemento principal do disco e acho que isso diz muito também.
RS: O álbum é água. As composições de Renato são de água do mar; as de Fanner, de rio. O álbum se divide por densidade, mas todas as músicas se unem por uma essência em comum.

O apoio financeiro para o lançamento do álbum foi conseguido através de uma bem sucedida, campanha de crowdfunding, como foi sentirem tamanha receptividade por parte do público?
FH: Foi muito importante pra gente. Não é muito fácil conseguir sobreviver na cena independente, e saber que o público está ali com a gente, querendo saber o que temos para apresentar e acompanhando a nossa caminhada, acabou fortalecendo essa nossa vontade de fazer música, de seguir nisso que nos move.
RS: Sentimos que é um ótimo começo! Isso nos motivou bastante a tocar com o projeto. É muito gratificante ver quanta gente se identifica com a nossa música. Essa troca é o mais importante. 

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
FH: Eu gosto de não saber como descrever o nosso estilo. A gente acabou juntando tanta influência que eu já nem sei dizer onde começa um estilo e termina o outro. O que eu sempre digo pras pessoas é: "Escuta aí e me diz você qual é o nosso estilo". E é sempre muito engraçado. 
RS: Categorizar a nossa música é um tanto difícil pra nós. Ao mesmo tempo que temos semelhanças, possuímos muitos gostos individuais que de certa forma compõem a sonoridade da Gragoatá. Fanner e Renato gostam bastante de música regional e samba. Fanner e eu gostamos de Lorde, David Bowie, Beatles, Devendra. Também gosto, assim como Renato, de reggae, groove, Fat Freddy's Drop, Matt Corby, Dezarie. Todos gostam de Clube da Esquina e Gilberto Gil. É difícil definir (risos). 

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?  
FH: Fora o futebol e o meu Fluminense? Também gosto muito de cinema e literatura.
RS: Viajar.
RC: Gosto de plantas e do mar. 

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
FH: Acho que a maior vantagem é poder pensar música e em música quase que o tempo todo. Desvantagem talvez seja não saber ou não cogitar a possibilidade de se ter que fazer outra coisa da vida.
RS: Maior vantagem é a troca com o público e estar constantemente conectado com sua essência, redescobrindo-a. Não consigo pensar em desvantagem.
RC: Fazer o que ama mas não ter a certeza de um respaldo financeiro.

Quais as vossas maiores influências musicais? 
FH: As maiores, sem dúvida, são Gilberto Gil e David Bowie.
RS: Influências musicais.. Gosto bastante de R&B alternativo, Ibeyi, Frank Ocean, Solange, The Internet, Matt Corby. Pro lado de cá ouço Céu, Milton Nascimento, Gilberto Gil e Caê, e diversos artistas da cena independente. 
RC: Bob Marley, Milton, Gil, Dave Matthews, Caetano e Sá, Rodrix & Guarabyra

Como preferem ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
FH: Já ouvi muita músicas em todas essas mídias. Gosto muito do vinil, mas tenho ouvido muito mais por streaming. O catálogo é extenso e fica mais fácil carregar com você. De qualquer forma, ainda guardo alguns CD's, K7's e Vinis na minha casa.
RS: Plataformas de Streaming.
RC: Atualmente utilizo as plataformas de streaming, pela comodidade.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música? 
FH: Acho que é uma grande coisa pro lado positivo. Ouvi muitas coisas boas por streaming que talvez não tivessem chegado a mim de outra maneira. Eu, como músico, quero mais é que a música saia por aí e chegue ao maior número de pessoas possível. Matar a música nunca, talvez o mercado musical esteja em dificuldade por conta disso, mas aí já é uma outra conversa. Pra mim é questão de adaptação. De se encontrar outras maneiras de explorar essa nova ferramenta e conseguir se manter fazendo música.
RS: Acho que seria um erro não se adaptar às novas formas de veiculação da música na atualidade. As plataformas de streaming possuem um grande acervo musical, onde podemos descobrir música que nunca pensaríamos em conhecer. O spotify por exemplo, com o esquema de playlists e artistas relacionados abre uma rede infinita de descobertas musicais. Isso é muito importante pra nossa música rodar por aí. 

Qual o disco da vossa vida? 
FH: O disco do Gilberto Gil de 1968.
RS: Impossível uma geminiana responder isso.
RC: Under the Table and Dreaming - Dave Matthews Band

Qual o último disco que vos deixou maravilhados? 
FHDAMN. do Kendrick Lamar certamente foi o último que me deixou maravilhado. 
RS: DAMN. do Kendrick Lamar
RC: DAMN.

O que andam a ouvir de momento/Qual a vossa mais recente descoberta musical?
FH: Tenho ouvido Metá Metá, Douglas Germano, Mac DeMarco, Gal Costa, Kanye West, Pixies, Lorde, Lou Reed, Sabotage. A mais recente acho que foi o Mac DeMarco mesmo.
RS: Tenho ouvido bastante o Cd do Kendrick Lamar, DAMN., A Seat At The Table da Solange e Blonde do Frank Ocean, “É” da Duda Brack e o CD da Ibeyi. Descobri o EP da Maiah Manser e não paro de ouvir também. 
RC: Syd Arthur, Slow Train Soul, Fat Freddy's Drop, BaianaSystem.

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
FH: Lembro de uma vez que troquei o captador da guitarra pra fazer um solo e o volume estava fechado. Toquei a nota com a maior vontade e não saiu nada e eu não tinha percebido que era esse o problema. Acabei fazendo só o final do solo esse dia.
RS: Em um show da Gragoatá, o técnico de som não sabia mexer no som e colocou vários reverbs na voz e nos instrumentos.. ficou tudo muito louco.
RC: Uma vez meu amplificador "queimou" no palco e tive que sair pra encontrar outro ampli."Queimou", entre aspas, pois eu descobri depois, que ele estava funcionando.  

Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria? 
FH: Tem alguns que eu adoraria, mas tenho que escolher o Gilberto Gil.
RS: Céu.<3 span="">
RC: Juçara Marçal.

Para quem gostariam de abrir um concerto? 
FH: Gilberto Gil sem sombra de dúvida. 

Em que palco (nacional ou internacional) gostariam um dia de actuar? 
FH: Gostaria muito de me apresentar no Vive Latino
RS: Lollapalooza 
RC: Lolla.

Qual o melhor concerto a que já assistiram? 
FH: Não sei se foi o melhor, mas fiquei muito feliz com a apresentação dos Novos Baianos.
RSIbeyi no Circo Voador
RC: Dave Matthews.

Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
FH: Os Mutantes
RS: Fat Freddy's Drop
RC: Fat Freddy, Matt Corby

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostariam de terem estado presentes? 
FH: Acho que teria sido bacana assistir o Hendrix em Woodstock.
RS: Algum show do Queen.
RC: Bob Marley Live at St. Barbara.

Qual o vosso guilty pleasure musical?
FH: Certamente o grupo de pagode dos anos 90 chamado Soweto.
RC: Raimundos. 

Projectos para o futuro? 
RS: Nosso projeto para o futuro é poder fazer uma bela turnê do disco. Passando por todos os lugares que quiserem nos assistir, com muito amor. 

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
FH: Gostaria que me perguntassem qual música eu gostaria de ser. E respondo. "Barca Grande" do álbum de 1968 do Gilberto Gil.

Que música gostariam que tocasse no vosso funeral? 
FH: "Barca Grande" do Gilberto Gil 
RS: Nunca pensei nisso, não consigo romantizar a morte. 
RC: "Testamento", Milton Nascimento.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
RC: Nós que queríamos agradecer o espaço e queremos mandar nossas saudações aos ouvintes de Portugal. Nos apresentarmos em terras lusitanas é um sonho que esperamos realizar em breve.

Enquanto aguardamos com ansiedade a estreia em Portugal, terminamos ao som do single "Café Forte", extraído do disco homónimo, editado este ano.

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