quinta-feira, 15 de junho de 2017

Conversas d'Ouvido com Mari Blue



Entrevista com a cantora, compositora e actriz brasileira Mari Blue. Em 2011, após a formação em teatro decidiu dedicar-se de corpo e alma à sua grande paixão: a música. Desde então conta com três álbuns na sua discografia, o último dos quais Fruto da Flor, foi editado após uma bem sucedida campanha de crowdfunding. Navegando pelos caminhos do folk, do jazz e do rock, chegou até nós para participar nesta edição das "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Mari Blue: Não sei como surgiu, parece que ela sempre simplesmente existiu. Desde pequena que canto e ouço muita música. Acabei ingressando primeiro no teatro, mas aos poucos fui me direcionando para a carreira de musicista, até que esta ocupou minha vida profissional totalmente.
“Mari Blue” é um alter-ego, ou é “apenas” o teu nome?
Mari Blue é o meu nome artístico.
A tua formação de actriz ajuda-te quando estás a cantar em cima de um palco?
Acho que sim, principalmente quando tenho que interpretar canções de outros compositores.
No ano passado editaste o álbum “Fruto da Flor”, após uma bem-sucedida campanha de crowdfunding, esperavas tamanha receptividade por parte do público?
Eu já tinha um público que me acompanhava e achei pertinente, desafiador e interessante fazer uma campanha como essa.
Quais as maiores dificuldades que uma artista independente enfrenta no Brasil?
São muitas e praticamente as mesmas dificuldades que os artistas independentes enfrentam no mundo todo. O Brasil é um país que nos oferece muitos problemas estruturais pela própria história e cultura, mas também é um lugar gigantesco que com criatividade você consegue surpresas. Mas não posso falar de forma generalizada pelos artistas daqui pois tudo é muito relativo ao lugar que esse artista vive, o sexo, a raça, condições sociais, enfim, o Brasil é muito diverso. 
Iniciaste recentemente um conjunto de live sessions, no primeiro vídeo surges usando o vestido de noiva da tua mãe, algum simbolismo especial?
Com certeza. Minha mãe se casou com 23 anos, estava grávida de mim e isso foi quase um “convite” para esse casamento acontecer. Ela foi oprimida e muito julgada nesse momento, vivia em um ambiente muito conservador. Assim, acabou questionando padrões de preconceito muito repetidos por onde ela veio e me criou exatamente de forma oposta a isso. Como meu novo álbum tem muitas canções que falam muito do que ela transferiu pra mim, resolvi resgatar esse vestido para transmutar a energia, colocá-lo em um novo tempo e reformá-lo com novas ideias. Gosto muito de história e trago isso pra minha música.
Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Sem limite, seria a melhor opção. Mas isso diz muito e ao mesmo tempo não diz nada. Com certeza misturo a música brasileira com rock, jazz, blues, folk e soul.
Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Uma grande paixão eu não tenho, mas gosto muito de fotografia, artes gráficas, cênicas, plásticas e cinema. Tenho começado a roteirizar e dirigir os meus próprios clipes, por exemplo.
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A vantagem é que eu amo o que eu faço. Não tenho nenhum patrão, viajo muito e não tenho nenhuma segurança e estabilidade. E essas duas últimas vantagens também são desvantagens. A liberdade não combina muito com a maioria dos seres humanos que estão sempre com medo.
Quais as tuas maiores influências musicais?
Não tenho grandes influências, acho que tudo que gosto deve me influenciar de alguma forma, só que gosto de muita coisa diferente!
Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Hoje em dia ouço muito streaming, pela praticidade, mas amo vinil! Gosto muito de ouvir álbuns inteiros também. Hoje em dia acontece que as pessoas acabam ouvindo tudo de forma bem fragmentada.
streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Não sei responder essa pergunta. Nunca na história vivemos algo parecido com o que acontece agora, ninguém sabe o que vai acontecer, mas com certeza as coisas vão mudar muito ainda, estamos ainda aprendendo a lidar com todas essas possibilidades que estão matando uma forma antiga e por isso às vezes nos sentimos sem chão. 
Qual o disco da tua vida?
Não tenho nenhum disco da minha vida...poderia responder essa pergunta mas seria apenas uma escolha.
Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Há algum tempo estou maravilhada com o duo norueguês “Kings of Convenience”. Tem dois álbuns deles que não canso de escutar que são “Riot on an Empty Street” e “Declaration of Dependence” 
O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Tem um cara incrível da Islândia chamado Ásgeir. Tenho ouvido bastante.
Com que músico gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Difícil… com o Erlend Øye.

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Lô Borges seria legal.
Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Festival de Montreaux na Suíça
Qual o melhor concerto a que já assististe?
Não sei definir isso. Foram muito bons shows, não consigo fazer esse ranking. Posso falar de um ótimo show que assisti nos últimos meses, de um compositor jovem brasileiro que gosto muito, chamado Dani Black. O show é em trio, teclado, guitarra e bateria. O tecladista segura os baixos, com execução muito boa das músicas, que são ótimas.
Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Chico Buarque.
Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Qualquer show do Michael Jackson.
Qual o teu guilty pleasure musical?
Nenhum, estou relax com tudo que eu gosto.
Projectos para o futuro?
Quero gravar um álbum bem intimista no meio da natureza, mais especificamente na Lapinha, em Minas Gerais.
Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
Você já compôs alguma música que o público talvez nunca vai ouvir?
Sim.
Que música de outro artista gostarias que tivesse sido composta por ti?
"Clair de Lune" de Debussy 

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
"Imortal" de Sandy e Junior.
Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Antes de terminarmos, informamos que o mais recente disco de Mari Blue, Fruto da Flor, encontra-se disponível para download gratuito aqui.
Ficamos agora ao som do single "O Credo", apresentando aqui o vídeo da Live Session...

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