segunda-feira, 12 de junho de 2017

Conversas d'Ouvido com O Martim


Entrevista com O Martim “alter-ego” de Martim Torres, músico que durante muitos anos foi residente no “5 Para a Meia Noite”, este ano editou o seu terceiro disco “Deixa o Tempo em Paz”…
Quais as tuas maiores influências musicais?
"(…) Quis o acaso que eu me tornasse contrabaixista do B Fachada, através dele descobri Os Pontos Negros, o Tiago Cavaco, o Samuel Úria, o João Coração, os Diabo na Cruz... É daí que nasce O Martim."
Este é apenas um excerto da entrevista que não podem perder nas linhas que se seguem...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
O Martim: Nos intervalos das aulas do 10º ano de liceu, em Lisboa de 2001.  Eu estudava artes e a minha paixão era o desenho, mas algures nesse ano veio-me parar um baixo eléctrico às mãos e não consegui pensar em mais nada a não ser tocar. 

“O Martim” é um alter-ego do Martim Torres, ou é “apenas” o teu nome?
É um alter-ego. Na verdade um super-ego. Uma versão de mim próprio amplificada, que retira (às vezes) moral de cada história que conta, em jeito de confessionário. Tem como inspiração a minha vida, é daí que nascem as canções, no entanto é frequente a amplificação ser tanta que a inspiração se transforma totalmente em ficção.

Durante algum tempo participaste no “5 Para a Meia Noite!”, como classificas a experiência enquanto músico? 
Tocar em televisão é um grande desafio, por um simples motivo: o de não ver quem nos está a ver. É completamente diferente do que tocar num palco, onde temos contacto visual com o público. A minha maior conquista no programa foi vencer o medo das câmaras. Isso, a improvisação necessária e o tocar “on cue” são coisas difíceis de conseguir. Ao longo dos quase 9 anos que lá estive trabalhei em lidar com o meu desconforto ao ser filmado, que afectava naturalmente a minha performance enquanto músico. A televisão tornou-me mais forte nesse sentido, e certamente mais versátil. 

Editaste recentemente o teu terceiro disco “Deixa o Tempo em Paz”, para quem ainda não o ouviu o que pode esperar?
À diferença dos meus discos anteriores, as canções deste disco não são escritas de um lugar de revolta. É como se eu tivesse feito as pazes com a vida, aceitando-a um pouco melhor. É um disco mais contemplativo e ao mesmo tempo pró-activo. Uma espécie de “tomar as rédeas” do meu caminho, em vez de viver ao sabor da maré como fazia anteriormente. 

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Gosto de dizer que é Pop de Rua, mas devia talvez ser Pop de Casa. Sou fã da sonoridade da produção caseira, mais do que a produção de estúdio. Há qualquer coisa de especial nas gravações feitas em home-studios, acho que me fazem sentir mais próximo de quem as grava. 

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Neste momento, (para além da minha recém-nascida filha linda) estou a descobrir uma paixão muito grande pelo vídeo e pela cinematografia. Com O Martim eu tinha a mania de fazer vídeos de estrada, diários de banda em jeito de VLOG, e isso dava-me um gozo enorme. Tenho continuado a fazê-lo recentemente, mas tentando usar uma linguagem mais cinematográfica. Ando a usar o pouco tempo que tenho livre para aprender sobre construção de guiões, storytelling e gravação. Já comprei uma câmara de filmar e tudo! 

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Vantagens consigo pensar em muitas. Acho que ser músico é como saber falar uma outra língua. No fundo é uma forma de comunicação que afecta as pessoas de maneira diferente. Ter o poder de fazer as pessoas (e nós próprios) sentir coisas diferentes é uma coisa muito bonita. Poder tocar para as pessoas, proporcionar sensações e momentos inesquecíveis, viajar pelo mundo a tocar... Desvantagem não vejo nenhuma. 

Quais as tuas maiores influências musicais?
Eu vim do mundo do jazz antes de começar a escrever canções. Tudo começou quando me mudei do Porto para Lisboa. Quis o acaso que eu me tornasse contrabaixista do B Fachada, através dele descobri Os Pontos Negros, o Tiago Cavaco, o Samuel Úria, o João Coração, os Diabo na Cruz... É daí que nasce O Martim. 

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Eu prefiro ouvir música em vinil, mas já me rendi ao streaming e ao apple music

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Nem uma coisa nem outra. Aliás, esta pergunta lembra-me uma frase, creio que de Buddha, que passo a citar : “A mudança nunca é uma coisa dolorosa, dolorosa é a resistência à mudança.”  Isto para dizer que o streaming é uma nova forma de ouvir música, uma evolução natural e que veio para ficar. O mercado adapta-se às novas leis e à mudança, e os artistas e a sua música acabam por conseguir viver com isso. Não sou contra nem a favor, mas adapto-me e tiro partido das suas vantagens. E para além disso, nada nos impede de continuar a ouvir vinil em casa. 

Qual o disco da tua vida?
Ventura”, Los Hermanos

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Melhor do que Parece”, O Terno

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Não é a minha mais recente descoberta musical, já o sigo há uns anos. Mas ando a ouvir em loop o último disco do Mac DeMarco. “This Old Dog” deste ano. Adoro a sonoridade das canções do moço. E sei que ele grava em casa, tal como eu gosto de fazer. 

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Quando tive a (não tão feliz) ideia de actuar no viking no Cais do Sodré, com um show de Strip durante o concerto. Momento que acabou por se tornar no show da Mónica, onde eu fui a cobaia... Bem, quem já foi ao Viking saberá o que isto implica. Mais não digo. (risos)

Com que músico gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Muitos dos músicos com quem gostaria de efectuar parcerias são meus amigos, mas eu sou um tipo tímido que nem sempre ganha coragem de os desafiar. No entanto há umas semanas venci a timidez e convidei o Tiago Bettencourt para vir cantar uma música comigo no concerto de lançamento do meu disco. Foi um dos momentos mais bonitos da minha carreira, para mim. (Samuel Úria, Benjamim, Tiago Cavaco, B Fachada... todos eles serão parcerias de sonho).
A nível internacional, o Marcelo Camelo ou o Rodrigo Amarante.  

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Para os GNR. 

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Eu gosto de tocar em palcos pequenos, não ambiciono encher nenhum pavilhão atlântico. Mas não querendo fugir à pergunta, acho que gostava de actuar um dia num festival como o Primavera Sound, ou o Paredes de Coura. Ambos têm um vibe fixe. 

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Já vi uns quantos concertos incríveis em termos de show, Stevie Wonder, ou Bruno Mars por exemplo, em termos de espectáculo são muito fortes. Mas a resposta final: os The Strokes. Não, Tame Impala. Pronto, estes dois. (risos)

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Essa é fácil: Los Hermanos!

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Gostava de ter visto os Weather Report, com o Zawinul, Shorter e Jaco Pastorius. Também os The Beatles, claro. 

Qual o teu guilty pleasure musical?
Acho que não existem guilty pleasures quando se trata de música, mas só para não deixar a resposta em branco: O Regula. 

Projectos para o futuro?
Quero passar o resto deste verão a promover o meu novo disco, marcar concertos, tocar as canções ao vivo. Ir gravando mais coisas. Explorar a parte dos vídeos, mostrar o percurso no VLOG. Se eu puder fazer isto em loop para o resto da minha vida, serei feliz. 

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
“Se pudesses dizer uma frase a todas as pessoas do mundo, qual seria?”
Resposta: A vida é curta, usem-na para viver!  

Que música de outro artista gostarias que tivesse sido composta por ti?
 “Monogamia”, do B Fachada. Adoro-a (aparente) simplicidade e simetria da canção.  

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
"Enquanto Esperava" d´O Martim.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Eu é que agradeço o convite, e o vosso trabalho. Obrigado por mostrarem a nossa música ao mundo! Um abraço grande, d´O Martim.

Ficamos agora ao som do mais recente disco “Deixem o Tempo em Paz”, que se encontra disponível para escuta através da plataforma Bandcamp.

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