Entrevista com O Tarot, projecto musical brasileiro, formado em 2015, em 2016 editaram o EP Zero, actualmente encontram-se a preparar o primeiro LP. A banda O Tarot é composta por Caio Chaim (voz, teclas e percussão), Lucas Gemelli (guitarra, acordeão e backing vocals), Vítor Tavares (bateria), Victor Neves (baixo) e Vinicius Pires (guitarra). Gostam de descrever a sua música como nómada, porque mergulha em diversos estilos e influências, no entanto há muito mais para descobrir sobre O Tarot, nesta edição das "Conversas d'Ouvido" pela voz de Caio Chaim...
Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Caio: Acho que assim que nascemos... imagino que para cada um dos integrantes da banda esse apelo da música como missão de vida tenha aflorado em diferentes momentos, mas sem dúvida alguma já nascemos inseridos nessa vibração. Todos nós somos absolutamente apaixonados por música e buscamos sempre conhecer e compreender mais do universo musical, como consumidores e compositores. Sem dúvida que a música é o nosso combustível!
Como surgiu o nome O Tarot?
Essa é uma história interessante! Eu sempre tive um relação muito íntima com cartas de baralho em geral, em virtude do livro “O Dia Do Curinga”, do autor norueguês Jostein Gaarder. Costumava colecionar curingas (joker) “furtados” de baralhos que apareciam em minha vida e carregá-los comigo, dando significado a cada um deles. Em 2014, período em que morei no exterior, passei a carregar sempre comigo cartas de baralho em geral, para entregá-las para pessoas especiais que cruzavam meu caminho. A ideia era sempre entregar um carta aleatória do baralho, e convidar a pessoa a dar um nome a essa carta. A intenção era ancorar na carta a palavra escolhida, para que aquela energia retornasse sempre que a pessoa visse ou tocasse na carta.
Quando voltei ao Brasil, em agosto de 2014, o Lucas Gemelli me convidou para juntarmos nossas composições e inaugurarmos um novo projeto. Ao aceitar o convite, lhe entreguei uma carta e contei ao Lucas todas as histórias por trás dessa energia de troca. Imediatamente o Lucas veio com uma ideia muito simples: porque não nos chamarmos O Tarot¿ Afinal, um dos nossos pilares é a mensagem que carregamos e que pretendemos compartilhar, assim como fazia com as cartas. Foi tiro e queda, no primeiro minuto do projeto ela já tinha seu nome próprio! E sem dúvida é um nome que nos representa profundamente!
Segundo sabemos, encontram-se a trabalhar no vosso primeiro LP, já podem antecipar alguma coisa sobre o que podemos esperar?
Exato! Estamos a todo vapor, preparados para lançarmos o primeiro LP ainda no segundo semestre de 2017. O que podemos adiantar é que será um álbum de músicas inéditas – não revisitaremos as músicas lançadas em nosso primeiro EP (Zero – 2016). Cada uma delas tem um universo particular em si, explorando diversos ritmos, influências e temas. Cada vez mais O Tarot!
Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
Música Nómada! Migramos entre diversos estilos musicais e influências. Demoramos muito tempo para chegar nessa resposta, que passa necessariamente pelo nosso processo criativo. Temos diversas músicas já escritas e estruturadas, que dependem apenas da elaboração em conjunto da banda para adentrarem no universo d’O Tarot. Quando trazemos as músicas para o estúdio, buscamos compreender o sentido da letra para maximizar a mensagem. Como cada letra pede um ambiente diferente para si, buscamos diferentes estruturas musicais para criar esse ambiente particular. Não temos pudor de transitar do tango ao forró, do xamanismo ao pop rock, do flamenco ao indie.
Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
Tantas! Sem dúvida a arte como um todo, em suas múltiplas linguagens, é um fio condutor no que se refere às nossas paixões. Justamente por isso, procuramos fundir à nossa música e ao Tarot outras linhas artísticas, a exemplo de nosso projeto audiovisual (lançamento de vários clipes previstos para um futuro próximo), artes plásticas, cénicas, dentre tantas outras!
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A meu ver, a maior vantagem é a possibilidade de compartilhar vivências com outras pessoas, mesmo que não fisicamente. É mágico pensar que nossa arte e nosso trabalho possam maximizar sentimentos de pessoas que não conhecemos – trazer alegria, reflexões, conforto, amor, tristeza. Uma grande desvantagem são os horários, por vezes a rotina do músico é muito noturna e isso afeta um pouco a qualidade de vida.
Quais as vossas maiores influências musicais?
Essa é uma pergunta difícil de responder em nome d’O Tarot, já que a influência de cada um dos integrantes é muito diversa. Justamente por isso temos uma riqueza muito grande de referências, pois cada membro traz uma vivência e uma visão diferente da música. Pra mim, são grandes influências a Tropicália como um todo – em especial Caetano Veloso, Gilberto Gil e Os Mutantes -, Los Hermanos, Jorge Ben... de músicas do exterior, curto a tríade titânica Beatles, Led Zeppelin e Pink Floyd (esse último é quase unanimidade na banda). Amo música flamenca também, Paco de Lucía é um grande ídolo para mim.
Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
De qualquer maneira! Obviamente ouvir pela internet, por meio do streaming, é a forma mais prática. De algum tempo pra cá, tenho desenvolvido uma paixão pelo vinil, é uma maneira mais rudimentar de consumir música. Tem todo um processo, um ritual, que envolve ouvir a obra como um todo. Acho que é a minha maneira preferida de ouvir música nos últimos tempos.
O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Nem um, nem outro. A meu ver o streaming é um primeiro passo do resgate do mercado da música. Traz consigo diversas falhas, desvaloriza o músico de diversas formas e concentra o capital em grandes companhias. Mas também tirou a indústria do derretimento causado pela pirataria. Acho que é uma evolução em direção a um ambiente sustentável economicamente, tanto para quem produz música como para quem consome. Sem dúvida, ainda há muito a evoluir.
Qual o disco da tua vida?
“Transa” – Caetano Veloso
Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
Todos têm falado bastante nas últimas semanas do último disco do Vanguart – “Beijo Estranho” (2017). É um discão!
O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Neste momento, Cosmo Pyke! O cara tem 18 anos e faz uma sonzeira incrível! Não consigo parar de ouvir, fazia algum tempo que não achava uma música que me transmitia tanta energia.
Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Engolir uma mosca que havia pousado no microfone. A tosse foi inevitável, mas consegui contornar sem maiores crises.
Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Essa resposta poderia contar com uma extensa lista! Sem dúvida são sonhos de vida e carreira realizar parcerias com grandes nomes da música brasileira, como Caetano, Jorge Ben, Criolo. E o pessoal da nova geração também, a exemplo de Francisco, El Hombre; 5 a Seco.
Para quem gostariam de abrir um concerto?
Todos os mencionados anteriormente! Seria legal abrir para artistas europeus também, a exemplo do Cosmo Pyke!
Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Circo Voador, no Rio de Janeiro, casa histórica. No palco de grandes festivais do Brasil também, a exemplo do Lollapalooza e do Psicodália. Na Europa, seria um grande sonho tocar no The Cavern Club.
Qual o melhor concerto a que já assististe?
O “The Wall” – Roger Waters talvez tenha sido o maior espetáculo que já fui. Em termos de energia, o show do Francisco, El Hombre foi um dos que mais mexeu comigo nos últimos tempos.
Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Ainda não fui em um show do Caetano e do Gil, apesar de louvá-los. Espero ter a oportunidade em breve.
Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Rock in Rio 1985, sem dúvida foi um dia histórico. E Woodstock!
Qual o teu guilty pleasure musical?
Curto muito um pagodinho! Alegria pura! O Victor (baixista) se amarra em sertanejo e Avril Lavigne.
Projectos para o futuro?
Inúmeros! Somos bem megalómanos, então podem esperar bastante coisa vindo d’O Tarot. Uma das nossas características é manter tudo isso em segredo, então o máximo que podemos dizer é que tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, esperando o momento certo de vir a público!
Para quando a estreia em Portugal?
Em breve, provavelmente em 2018. Estamos muito animados com a possibilidade de tocar em Portugal e na Europa.
Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Quais os segredos que guardamos nas faixas do nosso primeiro EP – “Zero”. Existem diversos easter eggs e pequenas referências que ninguém nunca nos perguntou. Mas a resposta a gente guarda para a vez em que fizerem essa pergunta de supetão!
Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
"Bachianas Brasileiras N.º 5" – Villa-Lobos
Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Antes de terminarmos, ficamos ao som d'O Tarot e do single "Cabeceira"...
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