segunda-feira, 12 de junho de 2017

Conversas d'Ouvido com Santos


Entrevista com Santos, projecto do multifacetado músico Luca Santos, que dedica ainda o seu talento aos Versos Inacabados e Dogma.
Recentemente editou Sessões na Arena Dicró, ensaio gravado ao vivo, um “teatro vazio transformado numa sala de ensaio”, uma jam session especial e espacial, inserida no âmbito dos “Ensaios Abertos na Arena Dicró”. Em mais uma edição das “Conversas d’Ouvido”, ficamos a saber que entre as maiores influências musicais se encontram nomes como  Negro Leo, Ebo Taylor, Sampa The Great, Esperanza Spalding, Carne Doce, Moxine, Justine Never Knew The Rules, Ombu e Djonga. Actualmente encontra-se a preparar uma colaboração com Lxnrdo e Theuzitz, no entanto há muito mais para descobrir sobre Santos, na entrevista que se segue.

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Santos: Na infância, sendo de família religiosa, ia semanalmente a cultos na igreja e só conseguia prestar mais atenção na forma que os músicos tocavam os louvores. Meu sonho era fazer parte da banda da igreja. Quando, mais tarde, passei a deixar a fé cristã, a vontade de fazer som não passou. Aprendi a tocar violão com 14 anos, fiz aula teórica por poucos meses e desde então passei a aprender de forma auto-didata, só recentemente voltei às aulas de música. Acho que o primeiro grupo que me fez ter vontade de escrever música foi o Facção Central, grupo de rap lá de São Paulo. Eu ainda entendia pouco do que eles falavam, mas era tudo muito pesado, impactante, potente.

“Santos” é um alter-ego de Lucas Santos, ou é “apenas” o teu nome?
É só meu sobrenome, foi o primeiro projeto musical que pensei fazer. Pouco tempo depois assumi mais dois projetos, o Versos Inacabados (de rap) e o Dogma (de noise), então hoje, ainda mais agora com banda, eu tento tirar novos significados para meu sobrenome e a relação dele com o que sou e com o que o som está se tornando nos arranjos para o próximo disco cheio, por exemplo.

Para quem ainda não ouviu as “Sessões na Arena Dicró”, explica-nos o que podemos esperar?
Esse é meu segundo EP de registro ao vivo, antes foi em um estúdio, agora foi num teatro de arena, o próximo, que sai em Julho - sendo o último dessa primeira série de lives, foi em uma casa independente que eu colaboro atualmente com um evento mensal. Cada um tem uma pegada sonora diferente, a captação, a mixagem e a masterização são muito diferentes. Acho que essas Sessões na Arena Dicró são as que mais desobedecem regras. Primeiro pelo formato da banda, que foi a mistura de theremin, guitarra e violão apenas, sem percussão para guiar, sem timbres mais graves. Outro aspecto diferente foi a captação, que foi direto da master da mesa, que estava sendo regulada apenas para os monitores de retorno, então o som não estava sendo mixado para gravação, ainda deu problema no captador que eu gravei, pois só gravou o lado R, então é um disco mono ainda. É quase que um live feito nos anos 50, talvez até mais lo-fi ainda.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Essa pergunta é difícil, cada vez eu chego a uma conclusão diferente. Eu acho que o que tá presente no meu primeiro disco, o “Suor”, é muito de Salvia Palth, Elvis Depressedly, Teen Suicide... Um rock pouco melódico, gravado com pouquíssima fidelidade e muito ruído. O próximo disco que devo lançar no primeiro trimestre de 2018 (mas nas apresentações ao vivo já toco algumas músicas dele) já flerta com outras referências, tem muito de bandas brasileiras como Lupe de Lupe, Boogarins e Chico de Barro, muito mais que bandas de outros países, que só lembro mais da referência de American Football e Sonic Youth em poucas músicas.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Meus outros trabalhos são grandes paixões. No caso, a produção cultural independente, a fotografia, o audiovisual e a filosofia (minha atual área de formação).

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Acho que a vantagem de qualquer trabalho é ele ser o que melhor utiliza suas potências. Você tem um talento pra desenhar, aí coincidentemente seu trabalho é desenhar, isso faz melhor do que trabalhos que fazemos e não gostamos. Não que seja menos trabalhoso. Há a desvantagem do custo do trabalho, quando você quer fazer em estúdio, por exemplo, não necessariamente um músico autoral vai ter seu retorno depois de todo o gasto com a produção do trabalho. Aqui no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro e São Paulo, está aumentando a quantidade de artistas que conseguem viver apenas trabalhando com música, mas ainda não é um cenário ideal, muita gente está passando por muita dificuldade, é um meio ainda difícil de sustentar pessoas financeiramente.

Quais as tuas maiores influências musicais?
Isso varia muito, mas hoje posso dizer que o que mais tenho ouvido é Alicia Keys, Negro Leo, Ebo Taylor, Sampa The Great, Esperanza Spalding, Carne Doce, Moxine, Justine Never Know The Rules, Ombu e Djonga.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Ouço música por streaming, bandcamp e spotify diariamente.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
A música sempre foi algo meio morto-vivo. Sempre foi uma peneira, onde em um estilo você vai ter as poucas pessoas agraciadas e as muitas pessoas passando dificuldades. Acho que hoje, com o streaming, pelo menos a qualidade do meio de se ouvir música, em relação a possibilitar ouvir coisas novas, melhorou bastante. Eu conheço cada artista incrível pelo bandcamp, por exemplo! Coisa que eu nunca conheceria antes do streaming. Não sei se existe uma “salvação” completa da música, a gente sempre tem que lidar com os meios que surgem e se adaptar ao contexto.

Qual o disco da tua vida?
“O Espetáculo do Circo dos Horrores”, do Facção Central. Foi o que definiu mais coisa na minha vida.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
O disco que a Boogarins lançou este mês, intitulado “Lá Vem a Morte”.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Conheci recentemente uma banda chamada Moxine, eu acho que é de São Paulo. Ouvi o disco “Hot December” e viciei, é uma indicação.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Quando eu marquei minhas primeiras apresentações, como não havia casa de show interessada eu marquei em casas de amigos e amigas. Teve um dia que marquei na casa de uma amiga e não apareceu ninguém, ficamos os dois lá por uma hora esperando alguém vir, eu fiquei bastante sem graça com o acontecido na época.

Com que músico gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Com os dois com quem vou fazer: Lxnrdo e Theuzitz. Os dois têm trabalhos muito interessantes, possíveis de se ouvir no bandcamp: https://lxnrdo.bandcamp.com | http://theuzitz.bandcamp.com/ 

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Meu sonho maior por enquanto é abrir o show da banda Ventre, aqui da minha cidade. Acho que é uma das bandas mais representativas da cena da qual faço parte.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Eu sonho com o Circo Voador (Rio de Janeiro).

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Acho que é o show da Esperanza Spalding no Festival de Jazz em San Sebastian (2009).

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Lupe de Lupe, Ludovic, Papisa, Alambradas, Ombu, Lady Gaga e Lianne La Havas.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Nirvana – Live At Reading (1992).

Qual o teu guilty pleasure musical?
Não sei se tenho guilty pleasure, eu gosto de ouvir coisas bobas sem medo de ser feliz. Eu ouvi muito NeverShoutNever! e Katy Perry, por exemplo.

Projectos para o futuro?
Com o Santos, lanço dia 4 de Julho o último EP live intitulado “Sessões na Casa Aberta”. Depois, ainda esse ano, começa o processo do próximo álbum, com lançamento de dois clipes. Ano que vem lanço o álbum, intitulado “Afeto”, além de mais alguns clipes de músicas dele.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
Acho que gostaria que perguntassem mais sobre meu primeiro disco, por exemplo como ele foi gravado e mixado. No caso, foi gravado com uma interface UM2 da behringer (as guitarras) e um celular bem ruim da positivo (as vozes), a mixagem foi muito louca, eu nem lembro muita coisa hoje, mas lembro que coloquei muito overdrive nas vozes em alguns momentos, tem coisa que dá nem pra entender.

Que música de outro artista gostarias que tivesse sido composta por ti?
“Paz Imensa”, do Fábio de Carvalho

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Terminamos ao som do EP Sessões na Arena Dicró, que se encontra disponível para escuta e download através da plataforma Bandcamp.

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