sexta-feira, 28 de julho de 2017

Conversas d'Ouvido com SuaveSutil

Entrevista com o músico brasileiro Kelton Gomes, que recentemente se juntou a Beto Mejía, formando o duo SuaveSutil. Ambos os músicos possuem uma reconhecida carreira a solo, por um lado Kelton prepara-se para editar a solo, o álbum Lacunar, já Beto Mejía, conhecido membro dos Móveis Coloniais de Acaju, lançou no ano passado, em nome próprio, o LP Wahyoob. O dois músicos habitualmente conectados ao indie pop/rock, demonstram com SuaveSutil, um lado mais inimista para conhecerem melhor nesta edição das "Conversas d'Ouvido"...
  
Ouvido Alternativo: Como surgiu o nome SuaveSutil?
Kelton: Esse nome veio muito por acaso. Estávamos divagando sobre que tipo de abordagem queríamos usar nesse projeto e começamos a falar nomes ao acaso. O Beto veio com “Suave” e “Sutil” e juntos nos pareceu soar bem... A sigla S2, além de representar a palavra coração em “internetês”, dá nome a uma avenida no centro de Brasília. Não sei se foi intencional da parte do Beto, mas, se não foi, é uma feliz coincidência!

Como é que vocês se conheceram e como apareceu a ideia de se juntarem num projecto tão intimista?
Conheci o Beto quando ele estava gravando seu primeiro disco solo (Abraço, de 2012). Fui convidado para gravar em algumas faixas do disco e desde então nunca mais paramos de fazer coisas juntos, seja tocando ao vivo, seja gravando nos discos um do outro. Fizemos um show em duo dois anos atrás e ali ficou plantada a semente dessa ideia de tocarmos um projeto paralelo às nossas carreiras, com essa característica “suave”.

Será que podemos esperar um disco de Suave Sutil?
Com certeza. Depois que gravamos esses vídeos surgiu uma vontade muito grande de compormos um disco de inéditas. Já estamos com algumas ideias mas começaremos a produzir esse trabalho somente após agosto, quando já terei lançado meu novo álbum solo, Lacunar.

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
Esse trabalho tem muito influência de música folk norte-americana, mas é mais pela sua instrumentação. Não nos vejo fazendo um esforço consciente para mudar o nosso jeito de compor em função desse projeto. Acho que é o mesmo tipo de canção que costumamos fazer individualmente nos nossos discos, mas com uma “embalagem” nova. Fazemos música brasileira contemporânea.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Eu gosto de cinema, design, culinária... Mas nada disso com a mesma intensidade e dedicação da música.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A maior vantagem é a mesma de todas as artes: expressar-se de forma única e ao mesmo tempo construir uma subjetividade que te tira da vida quotidiana, ao menos por alguns instantes. A grande desvantagem é que muitas vezes a música, como a maioria das artes, é vista como algo de menor importância frente a trabalhos mais “convencionais”. Uma parte do desafio do músico independente é fazer com que o seu trabalho seja reconhecido pelo que ele de fato é, um trabalho, e não um hobby ou simples lazer.

Quais as vossas maiores influências musicais?
Gostamos muito dos clássicos da música brasileira, todos os grandes nomes da MPB, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil. Mas também gostamos muito de rock contemporâneo, bandas como Radiohead, Wilco, Fleet Foxes, Grizzly Bear, etc. No Brasil hoje também há muitos artistas que admiramos: Metá Metá, BaianaSystem, O Terno, Céu, Apanhador Só, Cícero, Baleia, etc.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Escuto música em praticamente todos os formatos: vinil em casa, streaming no celular, CD no carro... Acho que só K7 não escuto mais, mas só porque não tenho fitas nem onde as tocar.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Não acho que a música venha a morrer ou ser salva por conta deste ou daquele formato de escuta. A música está além disso. Nossa demanda por arte não cessa em função do meio através do qual a experimentamos. Parece-me que o streaming (da mesma maneira que o mp3 e antes dele o CD) criou uma nova realidade para o consumo da música. Portanto, trata-se de um problema muito mais mercadológico do que propriamente artístico, embora saibamos que essa linha de separação é ténue e frágil. Acredito que o streaming põe novos desafios para todos os envolvidos na cadeia da música, desde artistas independentes como nós até as grandes gravadoras, passando por artistas consagrados que, de repente, se viram diante de uma nova forma de repartição de lucros.

Qual o disco da tua vida?
Difícil escolher um só, mas o Animals do Pink Floyd foi a grande causa do meu interesse pela guitarra.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Acabei de ouvir o novo álbum do Cigarettes After Sex, achei maravilhoso! O Crack-Up do Fleet Foxes também me deixou boquiaberto, acredito que esse disco vai influenciar muitas gerações.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Além de Cigarettes After Sex e Fleet Foxes, tenho ouvido Andy Shauf, Grizzly Bear, My Bloody Valentine, Mojave 3, Beach House...

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Esquecer por completo uma música minha no meio de um show. Ah, eu derrubei um amplificador de guitarra no show de lançamento do primeiro disco do Beto. Ainda bem que o amplificador não parou de funcionar!

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Acho que curtiria muito fazer um som com o SILVA ou com o Cícero.

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Fleet Foxes, Grizzly Bear, Marcelo Camelo, Juçara Marçal...

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
O primeiro que me veio à cabeça agora é o Primavera Sound, em Barcelona. Fui a esse festival no ano passado e foi incrível assistir aos shows. Tocar em algum daqueles palcos seria melhor ainda.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Pra mim, Roger Waters, The Wall, ao vivo em São Paulo. Um espetáculo inacreditável.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Fleet Foxes! Abrindo para eles então, um sonho!

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Pink Floyd ao vivo em Pompéia.

Qual o teu guilty pleasure musical?
Atualmente, MC Kevinho!

Projectos para o futuro?
Gravar mais discos, tocar em Portugal, adotar um gato e cuidar de plantas.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Gostaria que perguntassem meu signo e ascendente. (Sou Libra com ascendente em Capricórnio)

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
"Evidências", composta pelo José Augusto e popularizada pela dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó. Não há roqueiro que se segure quando esse hit é tocado!

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
No meu poderia ser "Fearless", do Pink Floyd.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Antes de terminarmos apresentamos o tema "Todo Amor do Mundo", gravado ao vivo no Teatro Dulcina.

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