Hoje deslocamo-nos ao leste da Europa, para entrevistarmos a cantora e compositora AGU. Após assumir o papel de vocalista em diversos projectos, decidiu aventurar-se numa carreira a solo. Percorrendo os caminhos do indie folk, estreou-se com o Ep "Towards the Light", onde vislumbramos uma delicadeza e suavidade na sua voz, pincelada com melodias sonhadoras. AGU, nasceu na Polónia, viveu em Praga, reside na Irlanda e "viaja" agora até Portugal para a mais recente edição das "Conversas d'Ouvido"...
Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
AGU: Acho que é algo que já nasceu comigo. A minha família diz que aprendi a cantar primeiro do que aprendi a falar.
AGU é mesmo o teu nome ou um pseudónimo?
Ambos. O meu verdadeiro nome é Agnieszka. Em polaco a abreviatura seria Aga. Quando me mudei para a República Checa os meus amigos começaram a chamar-me Agu e eu gostei. Tem uma certa inocência inerente pois é uma das primeiras palavras que uma criança aprende a dizer, independentemente da língua materna dos seus pais.
Nasceste na Polónia, viveste em Praga e actualmente resides na Irlanda, sentes que vais absorvendo influências dos diferentes locais por onde passas?
Claro que sim, viajar enriquece-nos de tantas maneiras, e ser capaz de viver no seio de uma cultura completamente diferente por uns anos e conhecê-la ao pormenor, proporciona-nos uma perspectiva completamente diferente. Cresci muito como pessoa e como artista.
Após algumas experiências noutras bandas, como surgiu o desejo de te aventurares a solo?
As bandas são fantásticas, mas quanto mais pessoas, mais dificil é de gerir a logística dos ensaios. Além disso, sempre quis criar algo que fosse 100% meu. Que viesse do meu “eu” mais profundo. Houve uma altura na minha vida em que eu andava completamente às escuras e foi aí que comecei a escrever muito. A música foi o meu escape. Escrever músicas tornou-se a minha terapia e trouxe luz e esperança para a minha vida.
Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Esta é sempre uma das perguntas mais difíceis, porque consegues encontrar diferentes elementos de diferentes estilos em vários pormenores do meu trabalho e é dificil de colocar tudo no mesmo estilo. Como tal, dei nome ao meu próprio estilo, “Zen-core”, como que um oposto do “Hard-core”. Uma suave e calorosa música que vêm do cerne da tua alma.
Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Adoro um bom livro, arte, longos passeios perto do mar, estar com o meu gato e sou a maior fã de luzes de feiras. A minha casa está toda decorada o ano todo, não só no natal.
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A instabilidade financeira é uma desvantagem. Estar longe de casa por períodos extensos e sentir saudades dos meus familiares e amigos também é uma grande desvantagem. Andar em tour pode tornar-se um pouco solitário, apesar de conhecermos sempre muitas pessoas pelo caminho. Por outro lado, ser capaz de viver esta paixão pela música todos os dias é uma benção e vale todos os esforços. Não me consigo imaginar a fazer outra coisa na vida.
Quais as tuas maiores influências musicais?
São demasiadas para contar. Na realidade, posso mencionar alguns de quem gosto mesmo muito como Ólafur Arnalds, Sigur Rós, Björk, Pink Floyd, Jan Garbarek, Anna Maria Jopek, Biosphere, Daughter, London Grammar, entre outros.
Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Sou viciada no Spotify.
Qual o disco da tua vida?
Pink Floyd - "Dark Side of The Moon".
Qual o último disco que te deixou maravilhada?
Ólafur Arnalds - "Island Songs"
O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Eu descubro música nova todos os dias. Gosto de andar no Spotify a explorar playlists e descobrir novos e inspiradores artistas, por isso são demasiados para contar.
Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
É sempre estranho quando tenho que “provar” ao técnico de som que eu realmente percebo dos equipamentos que uso e que sei o que fazer com eles. Ser uma mulher neste mundo pode ser desafiante.
Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Cantar com Ólafur Arnalds seria um sonho concretizado. Espero que ele leia estas entrevistas um dia. (risos)
Para quem gostarias de abrir um concerto?
Novamente, Ólafur, Daughter, Björk, London Grammar ou algum dos outros artistas que admiro.
Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Para mim, qualquer palco em que as pessoas estejam dispostas a assistir. Seria ótimo atuar no Glastonbury ou algum festival da mesma dimensão, ou esgotar um estádio. Mas eu gosto de conexões pessoais com a minha audiência, seja em clubes íntimos ou bares.
Qual o melhor concerto a que já assististe?
Możdżer/Danielsson/Fresco trio em Hybernia, Praga. Experiência inesquecível.
Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Ainda não tive oportunidade de ver Ólafur Arnalds nem Sigur Rós. Espero que isso aconteça. Farei a primeira parte deles (risos).
Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Woodstock 1969!!!!
Tens algum guilty pleasure musical?
Encontrarei alguns ;)
Projectos para o futuro?
Num futuro próximo, o segundo álbum e outra tour. E também, ser feliz.
Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
Daughter - "Still" and Björk - "Hyperballad". Eles preenchem-me bastante.
Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Adoraria que os meus amigos se juntassem todos e tivessem a maior e mais feliz sessão de improviso de sempre. Não quero que ninguém fique triste nem quero ninguém vestido de preto. Quero que se vistam de branco, que se embebedem, e ponham a tocar músicas felizes enquanto celebram o facto de eu sempre ter tentado viver a minha vida ao máximo. Por isso, não há necessidade de ficarem tristes nem de dramatizarem a situação. A morte é apenas uma etapa da vida.
Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Muito obrigada! Agradeço muito a entrevista!
Antes de terminarmos ficamos ao som do single "Mouthful of Bread", extraído do EP de estreia "Towards the Light"
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