Entrevista com o projecto nacional de rock alternativo RARA. Banda composta por Andreia Carreiras (voz), Sérgio Borges (guitarra), Diogo Melo (teclas), Pedro Sereno (baixo) e Bruno Coelho (bateria). Os RARA, são provenientes de Lisboa, a sua sonoridade, assenta numa forte componente lírica, cantada na língua de Camões. Em 2017 venceram o concurso Cabreira Rock, no futuro planeiam a edição de um novo EP, enquanto esse dia não chega, temos o presente e esse faz-se com mais uma edição das "Conversas d'Ouvido"...
Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Pedro Sereno (PS): A paixão pela música surgiu muito naturalmente, desde muito novo vivi rodeado de música. O meu avô tocava Banjo, o meu primo mais velho tocava teclas e guitarra e o meu pai sempre comprou bastante vinil para podermos ouvir em casa. Lembro-me bem quando o meu pai chegava a casa e trazia um novo vinil para ouvirmos. Era um momento mágico. Recordo-me também de estar em casa do meu primo a assistir aos ensaios da banda dele e no final lá ia eu fazer uns poucos de sons na guitarra eléctrica. A minha paixão pela viola/guitarra vem daí. Por volta dos meus doze anos tive o contacto com a minha primeira viola clássica. Recordo-me como se fosse hoje, estávamos no Alto Alentejo a terra do meu pai (Montalvão) e decidimos ir até Espanha comprar caramelos. Numa das montras vi uma viola e fiz uma "birra" tão grande que o meu pai e a minha mãe preferiram comprar a viola do que me estar a ouvir a chorar e a fazer uma "birra" sem fim.
Como surgiu o nome RARA?
O nome da nossa banda surge a partir do tema "Moda Rara", que contém em si uma contradição entre algo que é aceite pela maioria (moda) e algo que é extraordinário, fora do vulgar, pouco comum (rara). Como sentimos que o nosso som é de alguma forma diferente e não se encaixa nos parâmetros do mainstream, achámos que Rara seria o nome ideal.
Como é que vocês se conheceram?
O Bruno e o Pedro já tocavam juntos e já se conhecem há muitos anos. Colocaram um anúncio online e foi assim que conheceram o Diogo e a Andreia. O Sérgio apareceu depois e já era amigo e vizinho da Andreia.
A vossa sonoridade é fundamentalmente rock, mas não se fecha no estilo em si, abrindo-se a outros estilos, como gostam de descrever o vosso estilo musical?
Rock alternativo cantado em português.
Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
Há outros interesses, mas a música é a paixão mais forte de todos.
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Conhecer pessoas interessantes e viajar são aspetos que nos agradam muito. A maior desvantagem será a instabilidade financeira.
Quais as tuas maiores influências musicais?
Bruno Coelho (BC): Sinto grande afinidade com as bandas dos anos 60 e 90. The Doors, Led Zeppelin, Pink Floyd e Radiohead são referências muito fortes. Gosto de vários géneros fora da esfera do rock, como o jazz (mais instrumental e alternativo) e a world music genuína.
Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
PS: Apesar de o mp3 ser bastante mais prático, actualmente ainda prefiro ouvir um bom Cd com qualidade e desfrutar da capa.
PS: Apesar de o mp3 ser bastante mais prático, actualmente ainda prefiro ouvir um bom Cd com qualidade e desfrutar da capa.
Qual o disco da tua vida?
PS: Um disco dos Cocteau Twins sem dúvida. É difícil escolher qual deles será o disco da minha vida, mas pode ser o "Garlands", uma vez que tem uma das minhas música favoritas.
PS: Um disco dos Cocteau Twins sem dúvida. É difícil escolher qual deles será o disco da minha vida, mas pode ser o "Garlands", uma vez que tem uma das minhas música favoritas.
Qual o último disco que te deixou maravilhado?
BC: Eu fiquei completamente maravilhado com o "Blackstar" do David Bowie. Não sou fã do trabalho dele mas adorei este disco, a sonoridade muito inovadora e a qualidade e criatividade dos músicos entusiasmaram-me bastante.
O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Diogo Melo (DM): Ando sempre à procura de algo diferente. Não consigo ficar a ouvir um álbum por muito tempo, mas tudo o que sai da editora Erased Tapes é sempre fantástico. A vertente electrónica tem de estar lá!! Talvez agora esteja a passar mais vezes lá por casa Daniel Brandt “Eternal Something” ou o álbum de Floating Points “Elaenia”. É uma onda sobretudo de rock psicadélico que aprecio e que associada ao uso de instrumentos menos convencionais, quer electrónicos quer acústicos, tornam o álbum único. Mas tento ouvir música portuguesa ao máximo e cada vez ouço mais, por exemplo, nunca me canso de passar e mostrar a amigos os álbuns de Sensible Soccers.
Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Sérgio Borges (SB): Exceptuando o facto de ter partido a guitarra após finalizado o concerto da final do concurso de bandas Cabreira Rock (do qual saímos vencedores), um dos momentos mais caricatos ocorreu também no âmbito de um concurso de bandas onde tive o infortúnio de partir 3 cordas em apenas 3 dos temas apresentados. Para piorar, tinha apenas uma guitarra e um só conjunto de cordas suplente, o que resultou em que tocasse maioritariamente só com 5 cordas. Numa perspectiva colectiva ou de banda, destaco a nossa primeira viagem a Vieira do Minho em que a muito poucos km's do local o carro do Diogo decidiu não querer andar mais, posto isto, tivemos, ainda antes de tocar, a perguntar a toda a gente, incluindo a malta da organização e das bandas a concorrer, se nos poderiam dar boleia (e obviamente a todo o nosso material) até ao Porto... De salientar que todos, sem excepção, se mostraram disponíveis em ajudar-nos, portanto, creio que apesar de tudo, foi um episódio que nos marcou bastante pelo imprevisto e pela positiva. Aproveito para agradecer a todos eles.
Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Andreia Carreiras (AC): A Janis Joplin? O Bob Dylan? O Jeff Buckley? É difícil escolher, a minha lista é longa. Contudo, se tentar prestar, em primeira instância, o devido valor à música nacional, a minha primeira opção seria o Manel Cruz. Como alguém cujo trabalho desenvolvido junto dos RARA também envolve a composição das letras em português, tento muitas vezes absorver influências de artistas, que sob o meu ponto de vista, não só conseguem estar intrinsecamente ligados à língua mãe como ainda a utilizam como força da liberdade de expressão. Escrever em português tem os seus desafios. A nossa língua estende-se sobre uma imensidão de palavras, todas elas com um carácter muito próprio. Ter a capacidade de criar um tema onde a consciência seja soberana sobre quase tudo o resto? Onde poder questionar cada atitude ou gesto do ambiente que vivemos é efectivamente um acto real? Conseguir descrever o quotidiano comum sempre com uma boa dose de ironia romântica? É dos contornos que provavelmente mais ambiciono que constem nesta vertente da composição musical. O Manel é certamente dos artistas nacionais que melhor nos abraça na arte de escrever em português. Partilhar o palco com ele seria surreal.
Para quem gostarias de abrir um concerto?
PS: Gostaria de ter aberto um concerto para o Mr. David Bowie. Talvez numa outra vida ainda o consiga fazer.
PS: Gostaria de ter aberto um concerto para o Mr. David Bowie. Talvez numa outra vida ainda o consiga fazer.
Em que palco (nacional ou internacional) gostariam um dia de actuar?
O Coliseu de Lisboa, pela sua história e dimensão, seria um local a apontar como favorito de todos.
Qual o melhor concerto a que já assististe?
DM: Lembro-me dos Radiohead no Coliseu do Porto em 2002 ou 2003... não me recordo muito bem do ano. Parecia que estávamos a ouvir o álbum mas com mais dinâmica. Quer a execução, quer a sonoridade em palco estava impecável, muito melhor que o álbum. Uns meses antes, nesse mesmo ano, vi Sigur Rós no mesmo local. Ambos deram concertos em Lisboa, como é óbvio. São duas bandas que deram concertos fenomenais e que conseguem passar ao público algo de transcendente como uma “viagem musical” . E vê-las em tão pouco espaço de tempo que não festivais, torna único!
Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
SB: Infelizmente existem várias bandas das quais gostaria de ter oportunidade de os ver actuar ao vivo, contudo, a nomear teria de optar por Alice In Chains com Layne Staley enquanto vocalista, Pink Floyd, quer na voz do Syd Barrett ou Gilmour, ou talvez Stevie Ray Vaughan. Considerando as possibilidades reais, optaria por S.O.A.D., The Parlor Mob ou pelo lendário Bob Dylan, o qual espero ter a sorte de riscar da lista já no próximo mês de Março.
Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teresm nascido) em que gostariam de terem estado presentes?
Todos nós teríamos adorado estar presentes no primeiro Woodstock!
Tens algum guilty pleasure musical?
AC: O Teddy Geiger. No tempo dos meus 15 anos, metade da população feminina começou a viver intensamente o platonismo dramático do amor. Isso requeria como todas sabíamos, uma banda sonora um tanto de melancólica, um tanto de saudosista mas na sua maioria de romântica. Recordo-me que na altura tinha um rádio gigante da Sony que apesar de já conter leitor de CD, não tinha a opção de repeat. Como resolução, gravei um CD com 8 faixas, com um único tema do indivíduo. Para quando quisesse reconfortar-me na magia do Teddy. Confesso que ainda hoje, quando surge "For You I Will" numa playlist icónica, carregada de pop dos anos 2000, começo a rir na sequência da lembrança da minha radiosa entrada na adolescência. E isto enquanto activo o repeat.
Projectos para o futuro?
Para breve teremos um EP disponível, queremos continuar a rodar pelos palcos nacionais e divulgar ao máximo a nossa música. No futuro, desejamos tocar fora de Portugal e gravar vários discos.
Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
A pergunta seria relacionada com o que nos move no processo de composição, e a resposta seria que o nosso grande objetivo é fazer a música que mais nos agrada, fugindo a clichés e procurando novas sonoridades e caminhos musicais. Achamos que essa é a forma mais genuína de criação artística, inovando e provocando as pessoas, fazendo-as sentir e pensar sobre coisas mais ou menos mundanas.
Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
BC: Qualquer uma do Patrick Watson.
Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
AC: Inevitavelmente, teria que ser uma versão acústica e ao vivo do tema "Quantas Cores o Vento Tem", do filme da Disney "Pocahontas". Pactos de juventude...
Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Ficamos agora ao som dos RARA, cuja música se encontra disponível para escuta através da plataforma Bandcamp.
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