terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Conversas d'Ouvido com Voyagers

Entrevista com Voyagers, projecto açoreano no qual a electrónica é o bilhete para uma viagem sonora a alta velocidade. No limbo entre um colectivo de DJ's/produtores e uma banda, a nave espacial dos Voyagers é tripulada pelos músicos Pedro Sousa, Filipe Caetano e Ricardo Reis. Antecipando o concerto no Tremor 2018, preparamos mais uma edição das "Conversas d'Ouvido"; pela voz de Pedro Sousa...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Pedro Sousa: Nós estamos envolvidos com a música desde sempre. Eu estudei no Conservatório Regional de Ponta Delgada desde os 6 anos até ao final do liceu. O Ricardo sempre esteve envolvido no meio musical, principalmente como baterista e o Filipe é DJ e produz música há muitos anos.
Paralelamente todos temos outros projectos. Eu e o Filipe temos um de música electrónica ambiente/experimental, PMDS, que também actuou no Tremor o ano passado. O Ricardo toca em tantas bandas que acho que nem ele sabe enumerá-los a todos... (risos)

Como surgiu o nome Voyagers?
Temos vários motivos para o nome. Achamos que os nossos concertos são viagens sonoras e nós os viajantes, juntamente com o público. Voyager é também o nome de um sintetizador da Moog (marca icónica de sintetizadores analógicos) que um de nós tem no seu estúdio. Esta é a mesma marca do sintetizador Prodigy, motivo que deu o nome à conhecida banda, pois foi o primeiro sintetizador do seu fundador o Liam Howlett.

Esta é a questão de um milhão de euros, vocês são uma banda ou um colectivo de DJ’s?
Um DJ por definição põe música pré-gravada, independentemente do formato (vinil, CD, MP3, etc.). Uma banda produz o som no palco (infelizmente isso é cada vez menos verdade com todas as faixas pré-gravadas que as bandas levam para o palco, principalmente os grandes nomes, uma tristeza). Partindo deste princípio, achamos que estamos mais perto de ser uma banda pois todo o nosso som é feito ao vivo e à frente do público sem qualquer faixa pré-gravada. Isto é o que consideramos o mais fixe dos nossos concertos. À primeira vista pode parecer música de dança tal qual um DJ coloca mas aquilo está a acontecer ao vivo, debaixo do olhar do público. Divertimo-nos imenso. Há partes que saem lindamente e outras nem por isso. É excelente não ter rede de segurança.

Tal como afirmaram, não recorrem a sons pré-gravados, no entanto hoje em dia surgem imensos “falsos dj’s”, sentem que esses “dj’s”, desrespeitam a arte de “mixar” e “produzir”? 
Penso que ninguém pode estabelecer regras à criação dos outros. Falsos DJ's, falsos músicos são tudo ideias pré-concebidas que não temos. As coisas evoluem e ninguém sabe para onde vão. Cada um faz a sua cena e logo verá se tem quem goste ou não.

Parece-nos que a vossa música não se fixa na electrónica, explorando outras sonoridades numa mescla não convencional?
Embora o conceito não seja original, gostamos de misturar estilos musicais. Como tal, não consigo sequer responder se estamos a tocar house, techno ou trance. Depende da viagem, de como corre a nossa interacção com os outros membros do grupo. Às vezes sai uma faixa calminha com um bpm de 80 ou 90 outras vezes sai uma faixa incendiária, sempre a rasgar, que põe toda a gente em êxtase.

Enquanto projecto açoreano, que principais dificuldades, sentem?
As características dos Açores podem ser favoráveis ou não. Por um lado é fácil conhecer quem tenha os mesmos gostos que nós e juntarmos forças, por outro lado, não somos tantos assim. Em S. Miguel é mais fácil arranjar um sítio para ensaiar e por a música alto do que num apartamento numa cidade grande. Em relação ao isolamento geográfico, esse tem menos impacto hoje do que quando era adolescente. Com as novas tecnologias é possível ouvir e ler as tendências de todo o lado, sem hiato de tempo como antes.

Este ano vão actuar no Tremor, o que esperam desse concerto?
O Tremor é um festival espetacular, cheio de boas vibrações e com concertos em sítios incríveis. As pessoas circulam naqueles dias cheias de curiosidade em ouvir coisas ao vivo que não são possíveis no resto do ano. É uma lufada de ar fresco na cultura da cidade. Estamos super empolgados em participar nisso e trazer uma ou duas horas de energia contagiante a quem nos queira ouvir.

Como gostas de descrever o vosso estilo musical?
É música electrónica, feita ao vivo e sem rede, para dançar.

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
Cada um de nós tem os hobbies de outra pessoa qualquer. Uns gostam mais que outros de exercício físico... Todos nós colecionamos (menos do que queríamos) instrumentos, principalmente sintetizadores vintage. Aliás essa é uma paixão que nos une muito. Vamos inclusivamente levar um ou dois desses “meninos” de museu para o palco do Tremor.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A música não dá para viver em Portugal, pelo menos se o caminho for o da música não comercial, dirigida para as massas. As coisas são o que são, somos só 10 milhões. Mas todo o músico sente-se felizardo por ter esse amor à música, sendo ou não o principal meio de subsistência.

Quais as vossas maiores influências musicais?
Para o projecto Voyagers podemos mencionar toda a música electrónica dancável bem feita como Chemical Brothers, Prodigy, Jon Hopkins, Com Truise, Daft Punk, Four Tet.

Como preferem ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Ouvimos música em mp3, vinil e cd's. Por essa ordem.

Qual o disco da vossa vida?
Difícil para quem ouve muita música e passa por várias fases. Eu e o Filipe temos dois ou três álbuns que fazem parte da lista dos dois como "Moon Safari" dos Air, "The K&D Sessions" de Kruder & Dorfmeister e "Mezzanine" dos Massive Attack.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
"Spaces" de Nils Frahm, "Immunity" do Jon Hopkins. Mais recentemente "The Race for Space" dos Public Service Broadcasting e "Howl" de Rival Consoles.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
"The Kid" de Kaitlyn Aurelia Smith e "Dust" de Laurel Halo.

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
Não me recordo de nada de especial. Frequentes são as dificuldades técnicas antes dos concertos e a coisa correr musicalmente mal durante o concerto.

Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria?
A nível nacional com os Sensible Soccers.

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Para qualquer um dos nomes que mencionei acima.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
No que diz respeito a Voyagers é um tipo de som que se encaixa bem nos festivais que surgem por aí, onde as pessoas estão bem dispostas e querem ouvir música que as faça dançar. Temos também um fascínio por localizações improváveis com as que acontecem no Tremor.

Qual o melhor concerto a que já assistiram?
Também difícil, já vimos tantos que adorámos. Eu e o Filipe gostamos de viajar para ver concertos. Já vimos juntos muitas das nossas referências como Air, Massive Attack, Prodigy e Chemical Brothers.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Björk.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Se formos muito para trás gostava de ter ouvido Tangerine Dream nos anos 70.

Tens algum guilty pleasure musical?
Sim KLF e tudo o que seja relacionado com esses dois.

Projectos para o futuro?
Álbum PMDS ainda para este ano. A seguir arranjar datas e tocar ao vivo.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Gostavas de poder viver confortavelmente só a fazer música? A resposta é sim gostava muito.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por vocês?
Pelos Voyagers gostaríamos de ter feito a faixa "Sputnik" dos Public Service Broadcasting.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Qualquer álbum dos Stars Of The Lid. É música ambiente, penso ser adequado...

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Antes de terminarmos ficamos ao som da electrónica irreverente dos Voyagers.

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