segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Conversas d'Ouvido com We Sea

Iniciamos hoje um ciclo em que antecipando a edição deste ano do Tremor, "viajamos" até à beleza natural dos Açores, para conhecermos alguns dos mais interessantes projectos locais. Hoje entrevistamos a banda We Sea, pela voz do vocalista Rofino. Além da voz e dos sintetizadores de Rofino, a banda é composta por Clemente (baixo, teclas), Darkim (guitarra), Dino Oliveira (bateria) e Pedro Silva (baixo, teclas). Os We Sea, têm muito mais do que uma estática pop lo-fi, há algo de profundo nas melodias que se revestem de uma certa interioridade e de um lirismo que pode não ser detectado se estivermos desatentos. Nas vésperas de actuarem no Festival Tremor 2018, fomos conhecê-los melhor em mais um lançamento das "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Rofino: Bem petiz, lembro-me de ouvir com encanto as canções que passavam na RTP Açores. Acho que a paixão pela música é uma coisa antiga em mim, embora só se tenha manifestado com significado na adolescência… 15 anos, penso. Esse despertar fez-se surgir em virtude das bandas grunge anos 90 que comecei a ouvir. Foi precisamente aí que comecei a sonhar com uma vida de rockstar… (risos)… Essa ideia que cedo se desvaneceu.

Como surgiu o nome We Sea?
A minha ideia inicial era criar um nome que refletisse uma nova etapa da minha vida, da minha música e que refletisse a forma que eu via e vejo as coisas nessa nova fase. Com a entrada do Clemente, essa ideia passou a ser no plural e então surgiu primeiramente o nome “we see”… Nós vemos… A nossa forma de ver. Decidi utilizar o “sea” porque soa a “see” e porque mais adequado seria impossível… Ilhéu que é ilhéu respeita o mar só pela sua presença. E pronto, eis que: We Sea.

Enquanto banda Açoreana, que principais dificuldades, sentem?
No nosso caso tem sido difícil porque começamos como duo e demoramos um pouco à procura do caminho que queríamos seguir para as performances ao vivo. A juntar a isso, o Clemente não reside na ilha atualmente… e é precisamente aqui que surge a integração do grande Pedro Silva (um dos músicos mais requisitados dos Açores… orgulho!). Não temos tido grandes aparições em consequência dessa travessia pela adaptação e reinvenção musical.
Falando no geral, sem ser só no que nos concerne… A nossa realidade é dura. Vou falar na realidade açoriana, porque é a realidade que mais conheço. Por um lado, é muito difícil ter-se rotação por haver ainda pouca oferta nesse sentido e, por outro lado, no caso de uma banda de canções originais, o repertório satura-se com facilidade porque não há ainda um grande fluxo de espectadores. Há que se saber dosear as coisas e isso é uma tarefa complicada. É muito difícil ter-se sustentabilidade somente via musical nos Açores e eu admiro imenso os músicos que o conseguem fazer.

Este ano vão actuar no Tremor, o que esperam desse concerto?
O Tremor foi uma coisa inexplicável que aconteceu aos Açores! Foi uma ideia e um esforço brilhante. Falo como espectador assíduo, mais do que como convidado. O Tremor conecta os Açores com o mundo da maneira mais bonita, isto é, através da música e da arte. Eleva e transporta além-mar o amor que muitos açorianos sentem pelo nosso arquipélago.
No que diz respeito ao concerto propriamente dito… por acaso escolhemos a ocasião para estrear algumas canções ao vivo, mas não sabemos o que esperar… o Tremor é sempre uma incógnita pela positiva.

Como gostas de descrever o vosso estilo musical?
Nós não temos regras estilísticas. As nossas músicas são sempre o reflexo daquilo que está a acontecer nas nossas vidas no momento da criação... sentimentos, ideias, influências… não somos muito rigorosos nesse sentido... o que sai, sai com razão de ser. Não obstante, diria que as nossas canções estão algures o pop e o lo-fi. O pop é simplesmente o que nos sai maioritariamente e sem grandes esforços… o lo-fi, porque é na minha garagem que gravamos as nossas canções com o mínimo de recursos possíveis (nós até que gostamos disso), mas estamos a tentar melhorar as nossas condições de trabalho dentro das nossas possibilidades. As nossas economias são escassas, mas o amor pela composição é mais forte! Concluindo, diria que é mais uma forma de estarmos na vida do que propriamente o nosso estilo musical.

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
No nosso projeto temos de tudo. Temos músicos apaixonados pela multimédia audiovisual, pela medicina, psicologia, entre outras coisas… somos um grupo muito requim (termo açoreano, designa bonito ou muito engraçado), interessado e muito interessante… (risos)

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Como desvantagem… talvez uma estabilidade deficiente para os que não andam por terrenos muito férteis.
A vantagem, a meu ver, é a possibilidade de se observar os sentimentos e as emoções que se esboçam e refletem no outro por obra da nossa música ou interpretação… mesmo que essa interpretação ou canção não tenha sido criada com sentido nesse outro. É incrível e faz viver!

Quais as vossas maiores influências musicais?
Como projeto, independentemente das raízes e influências de cada elemento integrante, temos como nomes imaculados: Luís Alberto Bettencourt, Zeca Medeiros, Luís Gil Bettencourt, Susana Coelho. É a questão da mística açoriana que há nas suas canções e que nós tanto gostamos. Existem mais artistas fortes para nós, mas esses são os nossos nomes gigantes.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Cd e streaming. Cd porque cresci com isso, streaming pela facilidade.

Qual o disco da tua vida?
É difícil, mas… Jimi Hendrix - "Axis: Bold as Love".

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
"Drunk" – Thundercat.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Recentemente descobri Bane’s World e Men I Trust. Ah, e redescobri o magistral projeto Funk Factory.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Não me recordo de nada em específico.

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Nem consigo responder… São tantos!

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Medeiros/Lucas ou um outro projeto com a mesma penetração de espírito e saber.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Gosto de tocar ao vivo em sítios “cozy”. Qualquer um que me oferecesse isso.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Essa é difícil, mas na memória ficaram os concertos de Bruno Pernadas e Robert Glasper Trio. Fascinantes!

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Jamiroquai!

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Woodstock 1969.

Tens algum guilty pleasure musical?
Tantos, mas não vou desvendar para não ser alvo de chacota da rapaziada minha amiga… (risos)

Projectos para o futuro?
We Sea sobre todas as dificuldades. Mais canções!

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Não me ocorre nada.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
"The Walk of The Giant Turtle" – Érik Truffaz.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Se falecesse amanhã: WE SEA – "Fardo"… que saiu precisamente hoje, acompanhada de um lindo videoclip amador feito por nós, como sempre… (risos)… estou a aproveitar para fazer publicidade.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Obrigado nós pela oportunidade! Deixo aqui um beijo especial ao Clemente, Luís, Dino e Pedro.

Antes de terminarmos, apresentamos a música dos WE SEA, com o mais recente videoclip de "Fardo"...

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