Entrevista com Chameleo, projecto do cantor e compositor, proveniente de Curitiba, Leonardo Fabbri. Não gosta de rotular a sua música, nem seguir estilos pré-definidos, contudo a sua sonoridade flutua pela pop electrónica de referências étnicas, servida por uma estética aprumada. Este ano planeia o lançamento do EP "Utopia Taboo", um registo que levanta algumas questões profundas sobre liberdade e sobre a própria existência humana, despertando uma reflexão e uma introspecção ao ouvinte. Enquanto aguardamos esse dia, voltamos a "viajar" rumo à beleza natural do Brasil para conhecermos melhor Chameleo, nesta edição das "Conversas d'Ouvido"...
Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Chameleo: Meu primeiro contato direto com a música foi no teatro, comecei aos 7 anos e sempre achei que atuar era o que iria fazer para o resto da vida. Em uma peça chamada “Kids Rock”, tive que aprender a tocar o básico de guitarra e foi ali que tudo mudou. Descobri minha paixão pela música e comecei a estudar violão e piano. A inspiração pra começar a escrever veio aos 14 anos, quando minha tia avó, à qual eu era muito apegado, faleceu. Foi meu primeiro e o único contato com a morte até aos dias de hoje. O único jeito que encontrei de expressar toda a angústia e tristeza que eu sentia foi “vomitando” em um papel acompanhado de dois acordes no violão. Assim nasceu “Final Goodbye”, minha primeira cria. O sentimento ao escrever é tão libertador e de certa forma terapêutico, que a partir desse momento, meu caderninho, minha caneta e meu violão se tornaram meus melhores amigos, aos quais eu sempre recorria quando precisava tirar algo de dentro que me angustiava.
Como surgiu o nome Chameleo?
Vem da minha paixão pelos répteis desde pequeno, junto com meu apelido “Leo” pronunciado em inglês. Sempre achei incríveis as metamorfoses de um camaleão, que se adapta, muda de cor. É como me sinto, amo mudanças, mutações.
Planeias a edição de um EP, já podes antecipar o que podemos esperar?
O nome do EP surgiu anos antes das próprias músicas que fazem parte dele. “Utopia Tabboo” simplesmente apareceu na minha cabeça e sempre me assombrou com a certeza de que esse seria o nome do meu primeiro trabalho concreto como músico. Foi quando comecei a entender relação das duas palavras com significados muito amplos e presentes na cabeça de todos os seres humanos. Idealizamos e pensamos pelo menos uma vez em como seria um lugar perfeito, ideal. Neste EP, canto sem me preocupar sobre situações pessoais ainda são considerados “tabus”, rejeitadas por grande parte da sociedade. Utopia Taboo para mim são questões, será que é possível um existir sem o outro? Será que o nossos tabus que estão impedindo o nosso interior de se tornar nossa própria utopia? Acredito também na livre interpretação de “Utopia Taboo”, afinal cada ser que ouvir meu EP tem uma definição de utopia e tabu.
Segundo sabemos já viveste e viajaste por diversos locais, em que medida as diferentes culturas influenciam a tua música?
Pra mim, a inspiração vem de vivenciar e experenciar outras culturas. Sair da zona de conforto me colocar muito a pensar sobre tudo o que acredito, refletir e escrever sobre o que estou vivendo e as histórias pelo caminho.
Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Uma mistura de todos (risos). Não gosto de me apegar a apenas um estilo de música, seguir um padrão, mas categorizaria como chill wave, com synths bem presentes, samples, vocoder. Acho que minha música mutua entre o “pop moderno”, eletrônico, rock, experimental. Estou sempre pronto para conhecer outros estilos musicais.
Conheces alguma coisa da música portuguesa?
Não, mas seria legal fazer um intercâmbio entre os países, a mesma língua falada de forma diferente pode soar sonoro. Amo a língua portuguesa, inclusive meu próximo single será em português.
Animais (risos), répteis em especial sempre me fascinaram, achava que ia estudar herpetologia. E moda, que anda de mãos dadas com a música e com a arte de forma geral. Adoro me expressar através do que estou vestindo, “mudar de cor”.
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Por enquanto cantar é a minha maior vantagem, faço com muito amor. A desvantagem talvez seja a desvalorização de projetos independentes como o meu. Ser um artista independente é difícil, mas vejo pelo lado bom, tenho mais liberdade em construir minhas músicas.
Quais as tuas maiores influências musicais?
Pink Floyd, Hank Williams, Os Mutantes, Gorillaz, SZA, The Knife, Amy Winehouse e Elvis Presley. Não necessariamente tem a ver com a sonoridade, mas são artistas que me inspiram na hora de escrever. Porém, esta lista, assim como eu, é mutável.
Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Hoje em dia escuto muito por streaming, gosto muito de CD, tenho coleção (risos). Mas cada vez mais estão limitando e nos empurrando para o digital.
Qual o disco da tua vida?
"The Fall", do Gorillaz. O álbum foi feito todo em um iPad, acho genial, inteiro costurado e nunca sai da minha cabeça.
Qual o último disco que te deixou maravilhado?
SZA, "Ctrl".
O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Sabrina Claudio, tem uma melodia sensual pop que adoro. Rosalía, uma cantora espanhola incrível.
Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Ainda não passei por nenhuma situação embaraçosa. Mas sempre pago mico (passar vergonha) (risos), em breve no meu primeiro show, talvez.
Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
SZA! (risos).
Rosalía, Gorillaz!
Para quem gostarias de abrir um concerto?
Vou ser repetitivo, mas amaria SZA! Mas com certeza abrir o show para qualquer artista que me faz dançar, pensar, cantar, seria incrível.
Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Qualquer palco que me queira (risos). Estou aberto a possibilidades, ainda mais que estou no meu começo, muito coisa boa precisa rolar! (risos)
Qual o melhor concerto a que já assististe?
Não sei, mas quando eu era adolescente fui em muitos shows de pop, Miley Cyrus, Jonas Brothers, The Black Eyed Peas, Jeffree Star, fui no Rock in Rio. Há um tempo uma amiga minha, Jenni Mosello, uma cantora foda, me chamou para cantar nossa música “Eu Não Vou”, que abriu o show da Anitta e da Ludmilla. Adorei. Já tive o prazer também de ouvir Maria Gadú, Criolo, Caetano Veloso, Liniker…
Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Gorillaz, com certeza.
Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Qualquer versão com referência a Woodstock seria demais. Liberdade e muita música.
Tens algum guilty pleasure musical?
Sertanejo feminino (risos).
Projectos para o futuro?
Lançar meu EP “Utopia/Taboo” e começar a trabalhar no meu álbum.
Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
Não sei, mas seria legal falar sobre minha família, amigos, cidades, lugares.
Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
Atualmente, "20 Something", da SZA (risos).
Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
“I Saw The Light" - Hank Williams, uma das minhas maiores referências que cantam sobre a luz.
Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Ficamos agora ao som do single "Color Blind", que conta com a participação especial de Sampaio.
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