quarta-feira, 24 de abril de 2019

Conversas d'Ouvido com Hate Moss

Entrevista com Hate Moss, inesperado duo italo-brasileiro, sediado em Londres. Foi precisamente na capital britânica que se conheceram e desde então a cumplicidade musical tem vindo a crescer. Tina (voz, sintetizadores) e Ian Carvalho (bateria, voz), percorrem os caminhos do electroclash, post-punk. Este ano planeiam a edição do álbum de estreia "Live Twothousandhatein", enquanto aguardamos por esse dia fomos conhecê-los melhor, com mais um lançamento das "Conversas d'Ouvido"...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Ian: Meu pai é músico; ele toca jazz e bossa nova. As primeiras lembranças que tenho da minha infância são de eu e meu gêmeo dormindo embaixo ou atrás dos palcos onde meus pais tocavam. Meu pai tocava piano e minha mãe cantava. Mas não gostava de instrumentos melódicos quando era criança, sempre fui apaixonado pelos instrumentos rítmicos, por isso acabei tocando bateria e percussões. A Tina que sempre foi apaixonada por música, começou com esse projeto para produzir ao invés de só escutar, digamos. 

Como surgiu o nome Hate Moss? 
Ian: (risos) Esse nome estava na minha cabeça já faz muitos anos.
O dialeto de Florença (Itália) que foi o que mais influenciou a língua italiana, tem uma peculiaridade: o italiano-regional de Florença e na realidade de quase toda a Toscana costuma transformar os “C” e “K” intervocálicos em “H”, digamos, fazendo virar um som explosivo foneticamente falando. Coca Cola se transforma em “Coha hola”. Kate Moss se transforma em “Hate Moss”, que em inglês tem um sentido bem interessante, mas sem querer se levar muito a sério. Gostamos de brincar muito e somos muito auto-irónicos.

Como é que vocês se conheceram de foram parar a Londres?
Tina: A gente trabalhava no mesmo restaurante italiano em Londres, na verdade eu comecei a trabalhar lá e conheci Ian só um ano depois, enquanto ele estava tocando no Brasil com seu projeto Novonada. Aí, nos conhecemos e começamos a tocar juntos só um ano depois.

Este ano vão editar o álbum “Live Twothousandhatein”, o que podemos esperar? 
Ian: Não tem que esperar nada (risos). Escutem sem preconceitos, esse será um álbum muito simples e sincero, com vários estilos todos ligados entre si, por serem filosoficamente punk.
Tomem uma cerveja ou um copo de vinho, ponham o disco enquanto estão cozinhando ou, não sei, fazendo sexo no carro dos pais. Aproveitem a música e só isso (risos). 

Quais as vossas maiores influências musicais? 
Ian: Escutamos de tudo, mas nesse álbum, posso sim dizer umas referências mais fortes: TV on the Radio, Massive Attack, Fugazi, The Mars Volta, Brian Jonestown Massacre, Slaves, Fat White Family, Fabrizio De André, Os Mutantes, Spinetta, Cornelius, Savages etc... 

Conheces alguma coisa da música portuguesa? 
Ian: Conheço José Afonso.
Fotógrafa: Eleonora Rossi
Para além da música, têm mais alguma grande paixão? 
Ian: Não sei, todas as paixões que temos são ligadas à música. Por exemplo, viajar ou fotografia, desenhar, fazer vídeos, ou fazer festas... Tudo isso tocando se transforma em tour, flyers, videoclipes, eventos, etc.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3? 
Tina: O melhor é o vinil, tenho um toca-discos, que talvez não seja o melhor, mas cria uma sensação diferente. Contudo, na maioria das vezes fico escutando música em plataformas de streaming, para mim é o jeito mais fácil para conseguir conhecer novas músicas, além de poder mudar a música que estou ouvindo dependendo do meu humor.

Qual o disco da tua vida?
Ian: Não existe apenas um disco. Como a Tina disse na pergunta anterior, o humor é uma variável bem importante. Agora mesmo, estou com vontade de escutar "Play", de Moby, mas se você me fizesse essa pergunta daqui a dez minutos a resposta poderia ser "Grace", de Jeff Buckey (risos).

Qual o último disco que vos deixou maravilhados? 
Tina: O último disco que descobri é "Primal Swag", do INKY. Não é novo, mas pra mim foi muito legal ouvir um som que é uma mistura de rock e eletrónica, também como HATE MOSS. 
Ian: Para mim, é um disco que não saiu ainda. É de um duo italiano que mora em Londres, eles se chamam In a Sleeping Mood. Me pediram para lançar o álbum deles com o nosso selo, a Stock-a.
Não sabia o que esperar desse disco, mas quando o botei para tocar fiquei muito feliz e o escutei 5 vezes seguidas. Fiquei muito maravilhado também porque o deles é um género que não estou acostumado a ouvir.

Qual a tua mais recente descoberta musical?
Ian: Black Midi é uma banda que está fazendo sucesso agora e acho que merecem. Daughters é outra banda muito boa que descobri com o último álbum, além de eles já serem uma banda com uma grande história.

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
Tina: Meu primeiro show da vida foi o primeiro show para HATE MOSS também. A gente estava tocando em Campo Grande, cidade maravilhosa com bandas incríveis como os Peixes Entrópicos, Alquimistas, então no primeiro show eu estava com medo de errar e também com medo do público, pois ninguém tinha ouvido os HATE MOSS ao vivo, não sabia qual poderia ser a reação. Então estava tremendo tanto que lançando samples no pad errei apertando o único botão que fazia sair todo o som. Foi horrível (risos)! Agora isso é muito engraçado, mas naquele momento fiquei paralisada, felizmente Ian tinha um monte de experiências de shows e foi capaz de recuperar, mas foi horrível! (risos)

Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria? 
Ian: The Kills, Beck, Nick Cave, Aphex Twin - acho que sairia algo muito bom já com esses.

Qual o melhor concerto a que já assististe? 
Ian: Entre muitos, acho que ainda Tool e Nine Inch Nails foram os que mais me deixaram com aquela vontade de voltar no Garage e tocar sem parar.
Fotógrafa: Eleonora Rossi
Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Tina: Uma banda que teria gostado muito de ver ao vivo é Prodigy, infelizmente acho isso nunca vai acontecer, mas acho que teria sido incrível. A música deles transmite uma energia muito forte só escutando pelo fone de ouvido, você não pode parar de se mover, imagina! 

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente? 
Ian: Mozart e Joy Division, talvez juntos (Risos)

Têm algum guilty pleasure musical? 
Ian: Temos vários!!! Isso dá pra ver quando, no final das festas, estamos cantando e dançando Backstreet Boys e Spice Girls (risos)!

Projectos para o futuro?
Ian: Tocar, tocar e tocar. Em qualquer lugar, de qualquer jeito!

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
Ian: Vocês acabaram de fazer e nós acabamos de responder.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por vocês? 
Tina: "Seven Nation Army", do White Stripes. Acho essa música tão simples e tão bonita. Uma pena que foi saturada pelo mercado. 

Que música gostariam que tocasse no vosso funeral? 
Ian: Já escrevi uma música para isso, se chama “Funerale” e estará no álbum “Live Twothousandhatein”. Aliás, a letra dessa música foi influenciada pelo poeta português Camilo Pessanha (grande amigo de Fernando Pessoa).

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Ian e Tina: Nós que agradecemos e esperamos ver-vos nas terras lusitanas. Um grande abraço.

Para o fim deixamos a música dos Hate Moss, nesta "Hidden Session", do tema "Londres", gravado num estúdio em Florença.

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