quarta-feira, 19 de junho de 2019

Conversas d'Ouvido com Mi Kaev

Entrevista com Mi Kaev, projecto da cantora e compositora brasileira Milena Godolphim. Indie pop, com relevos de experimentalismo e nuances folk. Proveniente de Niterói, já nasceu apaixonada pela música. Entre as maiores influências encontramos os nomes de Sade, Kate Bush e Lana Del Rey. Num futuro próximo planeia a edição do primeiro Ep, com produção de Natália Carrera. Nesta descontraída conversa, falamos do passado, de inspirações, embaraços, discos de uma vida e projectos futuros entre outras coisas que podem descobrir nas linhas que se seguem...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Mi Kaev: Acho que já nasci com paixão demais por música. Desde muito pequena sempre fui fã, tinha sempre um ídolo pop do momento. Muito cedo eu era louca pela [apresentadora infantil e cantora] Xuxa, sonhava em vestir aquelas botas brancas e cantar. Aos 8 anos eu virei fã da Alexia (Uh la la la) - sabia tudo sobre ela e contava para os amiguinhos na escola – e das Spice Girls, que eu imitava muito: cantava igual a elas, mesmo sem saber nada de inglês.

Como surgiu o nome Mi Kaev?
Meu nome é Milena, eu queria usar o apelido de infância 'Mika', mas já existiam outros artistas com esse nome artístico. Busquei inspiração em deusas pra complementar esse nome e encontrei Maev, guerreira intoxicante da cultura celta, com a qual sempre me identifiquei. Comecei a trabalhar com Mika Maev, mas senti que faltava o lado africano da minha ancestralidade, e resolvi homenagear Ewá no nome, unindo e reduzindo para Mikaev, que eu entendo contemplar as duas influências. Depois fui orientada pelo meu Babalorixá a separar o nome “Mi Kaev" para este projeto, e assim foi. Mas nada impede uma variação em próximos projetos. 
Mi Kaev - "Rivers"
O teu single “Rivers”, integra a Colectânea SÊLA, que procura dar uma maior visibilidade a produções femininas, consideras que na indústria musical, ainda há muito sexismo?
Claramente há muito machismo no meio musical. Eu sempre fui muito fã de música pop e acredito que há um preconceito grande com o pop justamente por ser um meio, no qual as mulheres protagonizam, então é depreciado por revelar mais o feminino, enquanto o rock é mais masculino. Eu vejo essa tentativa de depreciação do pop, por aqueles que detêm os meios e o lugar de fala de dizer o que é bom e o que é ruim, como uma manifestação cultural do machismo.

Segundo lemos, “Rivers”, estabelece um paralelo com a história de opressão que o Brasil viveu durante alguns períodos. No mundo actual quais as tuas maiores preocupações?
"Rivers" é uma distopia. Estabelece um paralelo com a opressão, no Brasil e no mundo. A intolerância, a falta de empatia e de valor à vida me abismam.

Este ano planeias a edição de um EP de estreia, já podes levantar um pouco o véu sobre o que podemos esperar?
Podemos esperar músicas pop, sintetizadores, gritos, sonhos, ancestralidade, viagens no tempo, e outras pirações. Vem aí uma mistura de influências e uma revelação bem íntima através do som.

Quais as tuas maiores influências musicais?
Sou especialmente fã da Kate Bush - a obra dela comunica profundamente comigo. Mas tenho como referências outras tantas mulheres incríveis como Erykah Badu, PJ Harvey, Sade, Amy Winehouse, Joni Mitchell, Nina Simone, Solange, Tori Amos, Tracy Chapman, Madonna, Lana Del Rey, ABRA, Kali Uchis, Nelly Furtado, Rihanna, Mariah Carey, Marina Lima, Angela Ro Ro, entre outras.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Amo o cinema, a dança, a literatura.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Ouço música no streaming. Vinil em momentos especiais.

Qual o disco da tua vida?
"Aerial", Kate Bush.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
"Negro Swan", Blood Orange.

Qual a tua mais recente descoberta musical?
Teyana Taylor.
Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Esquecer a letra da música, é um horror.

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Blood Orange

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Kamasi Washington.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Tori Amos.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Gostaria muito de ter visto um show da Kate Bush.

Tens algum guilty pleasure musical?
Acredito que bom e ruim é uma questão de gosto pessoal. Eu amo tudo que é mainstream, amo o que é brega, amo o que o povo ama ouvir, os greatest hits. Não consigo ter vergonha de nada que eu gosto, então não entendo muito esse conceito. Sempre brigo pra defender meus gostos musicais, é uma das questões que mais me colocam em discussão. (risos)

Projectos para o futuro?
Produzir um álbum bem dançante.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
Qual a música mais linda do mundo? "The Morning Fog", Kate Bush.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
Todo o álbum "ROSE", da ABRA.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
"Landslide", Fleetwood Mac. Essa música sempre me coloca em algum lugar entre vida e morte.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Obrigada vocês, amei responder às perguntas.


Antes de terminarmos, ficamos ao som do single "Rivers"...

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