O terceiro e último dia de festival contava com algumas actuações muito aguardadas, entre elas o destaque ia para a última digressão dos Foxygen, a estreia dos Death Cab for Cutie, Damien Rice e Ride, entre outros.
Manuel Cruz (17:30, palco Super Bock) - mais uma vez o dia começa em português e começa muito bem, o músico portuense apresentou um concerto fundamentalmente em formato experimental, como já nos vem habituando. Apresentou canções novas e percorreu músicas de Pluto, Supernada e Foge Foge Bandido, de fora ficaram como seria de esperar as canções dos Ornatos Violeta. A assistir ao concerto, notava-se a presença do Presidente da Câmara do Porto, que aplaudiu a "prata da casa"
Baxter Dury (18:40, palco Nos) - a inauguração do palco principal no último dia ficou a cargo de Baxter Dury, músico independente inglês actualmente com 43 anos e uma carreira cimentada, ao vivo a sua música é descontraída e despretensiosa e bem disposta, a sua postura essa é interactiva e às vezes provocadora, um misto entre Stuart Staples (Tindersticks) e Jarvis Cocker (Pulp).
Foxygen (19:50, palco Super Bock) - o ouvido alternativo tinha também destacado este concerto como um dos imperdíveis nesta edição, e na verdade superou todas as expectativas, segundo a própria banda esta será a última digressão antes do fim da banda. Os Foxygen, são um duo de indie rock americano que ao vivo se apresentam em formato banda e contam até com três vozes femininas de suporte que são muito mais do que vozes de apoio, são bailarinas e participam no teatro montado. Ao vivo a banda assume o concerto como um espécie de circo musical, onde há direito a interpretações, dramatizações e muito arrojo. O vocalista Sam France é imparável, é um louco à solta e faz de tudo um pouco atira-se para o chão, despe-se, provoca, instaura um caos em palco, navega em cima do público, simula brigas com os restantes elementos da banda e a própria banda simula discussões, havendo mesmo espaço para um espectáculo de espadachim. Parece estranho? E é, é bem estranho mas cativante e é impossível ficar indiferente. Não há como não nos lembrarmos dos Rolling Stones e de Mick Jagger se este actualmente tivesse vinte e poucos anos. Se for verdade o fim da banda, até sempre Foxygen e obrigado por este espectáculo.
Damien Rice (21:00, palco Nos) - um dos concertos mais aguardados pelo ouvido alternativo e não desiludiu, podemos descrever Damien numa só palavra, GENIAL, é certo que mais uma vez houve público que aproveitou a calma do momento para por a conversa em dia e perturbar este momento único. Damien Rice enfrenta o maior palco do festival, sozinho com apenas uma guitarra e um pedal de Loop (onde grava sons de instrumentos e voz, e posteriormente os mistura) e não é preciso mais nada. O cenário era idílico, e Damien é mágico, poucos sabem mas esta foi a segunda visita de Damien ao nosso país após em 2003 ter feito a primeira parte de Lamb no pavilhão atlântico, há muito que o público português ansiava por uma visita deste cantor e compositor irlandês. Ao vivo a voz não tem falhas, parece que estamos a ouvir um disco gravado em estúdio, o repertório esse como seria de esperar devido à falta de tempo deixou alguns êxitos para trás tais como: "Amie", "Cold Water", "Volcano", "Coconut Skins" e o fabuloso single do último disco "I Don't Want to Change You". Assim sendo o concerto iniciou ao som de "Delicate", e passou por "Cannonball", "9 Crimes", "The Box", "I Remember", "Elephant", "Trusty and True" e "The Great Bastard", a seguir a tão aguardada "The Blower's Daughter" cantada em uníssono e para terminar, Damien guardou o melhor para o fim com "It Takes a Lot to Know a Man", o momento alto de um concerto inesquecível, que teve direito a um final "BRUTAL". O ouvido alternativo continua a aguardar ansiosamente um concerto em nome próprio em sala fechada.
Nota: este vídeo não é gravado no Nos Primavera Sound, mas é o mais parecido que encontramos para retratar como foi o final do concerto
Death Cab for Cutie (22:10, palco Super Bock) - finalmente a tão aguardada estreia em Portugal dos míticos Death Cab for Cutie, a enchente junto ao palco secundário não enganava, este trata-se de um dos concertos mais esperados e muito provavelmente merecedor do palco pricipal. Ninguém entende o porquê de ter demorada tanto a estreia no nosso país, mas o Death Cab for Cutie fizeram questão de relembrar que deveriam ter tocado neste mesmo festival na primeira edição, concerto esse que acabou por ser cancelado devido às condições atmosféricas. A banda afirmou estar muito feliz por estar a tocar neste festival, enalteceram a beleza da cidade e afirmaram que andaram a passear uma semana de carro pelo Porto. Mas do concerto propriamente dito, o que temos a dizer é que foi magnífico, de certeza que não fizeram novos fãs, mas também não era esse o objectivo, mas sim proporcionar aos fãs de sempre, que cresceram a ouvir a música alternativa do Death Cab for Cutie, o prazer de finalmente os ver ao vivo e cantarem todas as músicas a uma só voz. O repertório percorreu os mais de 15 anos de existência da banda com especial atenção para o novíssimo Kintsugi, editado este ano. Não faltaram os êxitos "Soul Meets Body", "I Will Possess your Heart" e "You Are a Tourist", bem como o mais recente "Black Sun".
Ex Hex (22:30, palco Pitchfork) - foram a razão para não termos assistido ao final do concerto dos Death Cab for Cutie, e foi muito bem empregue o tempo despendido para ver e ouvir o trio americano de punk rock no feminino Ex Hex, ao vivo são explosivas e incendiárias, a música é curta e vai directa ao assunto sem rodeios nem meias palavras, usam e abusam das guitarras e dos riffs e são uma das surpresas agradáveis deste festival. A banda liderada por Mary Timon, teve que lidar com a concorrência de Death Cab for Cutie e Einstürzende Neubauten e mesmo assim conseguiram uma moldura humana respeitável que ficou rendida a estas senhoras.
Ride (23:20, palco Nos) - cabeças de cartaz deste último dia, os Ride são uma mítica banda inglesa de rock alternativo, fundada em 1988 e que foram um dos percursores de um movimento que viria a desencadear a Brit Pop, já se separaram e reuniram um par de vezes, a última reunião aconteceu no ano passado. O concerto foi competente e coeso, mas não deslumbrou, muito por força do facto de nunca terem alcançado em Portugal o sucesso e reconhecimento que obtiveram na sua terra natal, não são caso único, e fazem lembrar o que sucede com The Libertines e The Stone Roses, que tiveram nos últimos anos passagens discretas pelo nosso país, com discretas não queremos afirmar passagens insignificantes, até porque no ano transato os The Libertines deram um enorme concerto no Nos Alive, mas que passou ao lado de grande parte do público. Esta noite aconteceu o mesmo com os Ride, que receberam de grande parte do público, indiferença, no entanto não podemos afirmar que tenha sido um mau concerto, muito pelo contrário, os Ride provaram que se encontram em excelente forma e não será completamente descabido imaginar que pode estar a caminho disco novo.
The New Pornographers (00:35, palco ATP) - a banda canadiana de indie rock teve direito a uma das maiores enchentes que se viu no palco ATP, e não desiludiram os inúmeros fãs e curiosos que acorreram em massa. Consigo traziam o último disco editado em 2014 Brill Bruisers, que recebeu críticas extremamente positivas. Ao vivo não são competentes, não comprometem e completam tudo com um empenho assinalável, o concerto foi no entanto prejudicado pela electrónica ruidosa com décibeis acima do aceitável que Dan Deacon descarregava pela mesma hora no Palco Super Bock e que levou à histeria do público presente, no entanto prejudicou significativamente quem queria apreciar apenas uma concerto de cada vez e neste caso concreto os The New Pornographers.
Underworld (01:35, palco Nos) - o duo inglês de música electrónica, apresentou na íntegra o disco de 1994, dubnobasswithmyheadman, percorreram o tecnho e a house progressiva e talvez tenham sido uma das maiores desilusões apresentando um concerto pouco coeso, que só a espaços conseguiu a devida reacção por parte do público, alternaram o morno com o quente, mas só no final conseguiram "incendiar e queimar" o público com o hino que toda as pessoas queriam ouvir "Born Slippy" e que fez parte da banda sonora do filme Trainspotting, foi um final épico para um concerto que só por momentos entusiasmou.
HEALTH (02:45, palco Pitchfork) - noise rock americano, os HEALTH, encerraram o nosso festival não com chave de ouro, mas com chave de prata, esperávamos mais, mas não ficamos completamente desiludidos, apareceu-nos no entanto que o som do palco Pitchfork, nem sempre era o mais nítido possível o que pode ter influenciado a nossa perspectiva. Os HEALTH preparam-se para editar novo disco em Agosto, Death Magic, e algumas das novidades foram ouvidas esta noite, como por exemplo a nova "New Coke".
Chegou ao fim mais uma edição do Primavera Sound, que este ano bateu o recorde de assistência, o evento regressa em 2016 à cidade invicta e já tem datas marcadas, 9, 10 e 11 de Junho e manterá a ligação à Nos e à Câmara Municipal do Porto. Há muito que o Porto precisava de um festival assim, que se vem assumindo ano após ano como o paraíso da música alternativa. O ouvido alternativo aproveita para dar os parabéns à organização pelo excelente trabalho desenvolvido e melhorias que se vão notando. Este é sem dúvida um festival que merece ser visitado e sentido.
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