Aproveitando a passagem por Portugal, o Ouvido Alternativo esteve à conversa com o australiano Arne Heeres, fundador dos Magnus, juntamente com Denis Hionis (baixo) e Giulio Albanese (bateria). Os Magnus são um projecto que descrevem a sua sonoridade como "stoner rock jazz à moda antiga com uma pitada de goth". Arne revelou-nos a sua paixão pelos The Doors e Jimi Hendrix, descobrimos ainda que gostava de ver os Black Sabbath ao vivo e colaborar com Josh Homme dos QOTSA, mas isto é apenas um aperitivo de tudo o que podem desvendar em mais uma edição de Conversas d'Ouvido...
Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Arne Heeres: Desde sempre o meu pai teve um interesse muito especial por guitarras. No seu tempo livre aprendeu a arte de fabricar o instrumento, e passava longos dias na garagem a aperfeiçoar a sua técnica de construção. Numa noite de primavera, ao acabar uma das suas guitarras, sentou-se na varanda e começou a tocar o único refrão musical que sabia. Eu, sentado no jardim, olhava atento e curioso. O som da guitarra era mágico e cativante; foi neste momento que me enamorei pela musica e decidi aprender a tocar guitarra.
Durante anos fui encorajado a aprender guitarra clássica mas senti que nunca tive uma ligação forte com o instrumento, ou talvez com o método de ensino. Quatro anos depois de ter iniciado a aprendizagem o meu professor de guitarra não tinha fé que alguma vez fosse ser capaz de tocar o instrumento com confiança e habilidade.
Um tempo depois, antes do início das férias do verão, os meus avós ofereceram-me uma guitarra elétrica com um amplificador. A partir desse momento descobri o meu instrumento de eleição, o instrumento que me dava prazer tocar. Nessa altura aprendi a tocar cancões das minhas bandas favoritas e passava dias a tocar sem parar.
Como surgiu o nome Magnus?
Fizemos uma lista com mais de cem nomes. Estávamos à procura de um nome com um significado especial e uma individualidade forte. Nós queríamos criar uma entidade que contrastava o género musical comum nos nossos dias: apático, com uma inteligência musical pobre e duvidosa, "música para consumo das massas".
Em latim Magnus significa "o grande" enquanto que em Norueguês antigo, Magnus significa algo com grande energia, força ou poder.
Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
A Música consome a maior parte do meu dia-a-dia e é incontestavelmente a minha maior paixão, mas estaria a mentir se não mencionasse o meu gosto por motorizadas.
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A vida de um músico tem as suas vantagens e desvantagens. É um trabalho muito duro que não paga as despesas do dia-a-dia sobretudo no início da carreira musical; é um investimento emocional muito grande que carece de constante dedicação e preparação. Por outro lado, a música oferece uma vida de aventura completamente oposta a rotina do escritório. Em tour conhecem-se pessoas com histórias interessantes, pessoas com paixão pelo seu trabalho e dispostas a partilhar as suas aventuras. Quando estou no palco a interagir com a audiência sinto-me feliz e realizado.
Desvantagens... as minhas restrições financeiras não me permitem comprar todas as guitarras, pedais, amplificadores e 'gadgets' que gostaria de ter.
Quais as vossas maiores influências musicais?
A influência musical mais importante para mim é The Doors. Existe algo na melodia que me atrai: a melancolia, a estranheza do ritmo e som e a diversidade musical. Há muitas outras influências para além deles: Queens of the Stone Age, Nick Cave, The Mars Volta ...
Como preferes ouvir música? CD, Vinil, K-7, Streaming, leitor mp3?
Espero que o mp3 desapareça mais cedo ou mais tarde juntamente com o streaming de baixa qualidade porque faz doer os ouvidos!
Na maior parte as vezes oiço arquivos de alta qualidade no computador ou telefone usando auscultadores de alta qualidade. Quando estou em casa uso alto-falantes profissionais que tem uma definição áudio superior, embora para mim a melhor experiência sonora seja em vinil. Quando oiço um disco em vinil a minha atenção é incondicional; sento-me no sofá atento e examino a arte gráfica da embalagem enquanto me deixo seduzir pelo som.
O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Streaming tem lados bons e lados menos bons.
É conveniente, através deste serviço é mais fácil de descobrir novos artistas e tendências musicais embora também haja muito 'lixo'. O serviço precisa de um funcionário de loja de discos - como existiam antigamente - que possa fazer uma primeira seleção de acordo com a teu gosto musical e a partir daí te possa recomendar novos álbuns e artistas.
O streaming permite poupar tempo a ouvir um artista desconhecido embora seja muito fácil 'saltar' canções e nunca realmente começar a compreender o significado do trabalho artístico.
Finalmente, ainda não foram estruturadas formas de pagamento aos artistas pelo uso da sua obra. Só o futuro dirá se o streaming ajudará ou destruirá o artista.
Qual o disco da tua vida?
O disco que nunca me canso de ouvir: The Doors - "L. A. Woman".
Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Eagles of Death Metal - 'Heart On'. Todas os cancões do álbum são cativantes e a produção musical é genial: todos os sons do álbum são deliberados e perfeitamente capturados durante a gravação.
O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Acho que estou numa fase de redescoberta. Recentemente comprei o álbum em vinil de Pearl Jam 'Ten' que inclui o re-mix por Brendan O'Brien. O álbum é sombrio e incrivelmente intenso. Imagino que eles tenham gravaram tudo como uma banda ao vivo e sem o suporte tecnológico que permite a manipulação sonora.... Atingir uma qualidade musical desta envergadura é muito difícil, é necessário que o músico ou o grupo esteja no auge da sua carreira.
Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Tivemos um baixista que uma vez decidiu sair do palco durante o concerto, procurou um sítio confortável no canto e sentou-se, enquanto o resto da banda estava a tentar o seu melhor para criar uma performance convincente e energética.
Com que músico gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Sem dúvida Josh Homme dos Queens of the Stone Age; tenho um grande respeito pelo seu trabalho. A música que ele desenvolve não tem limites, para mim esta liberdade absoluta ao criar permitir-me-ia descobrir uma nova realidade musical.
Para quem gostarias de abrir um concerto?
Para mim, a melhor e mais assustadora experiência seria abrir um concerto para mestres como Nick Cave, Queens of the Stone Age, ou Nine Inch Nails. Nesta situação teria que dar o tudo por tudo para poder chegar aos calcanhares destes artistas.
Em que palco (nacional ou internacional) gostarias de um dia actuar?
Mais uma vez a lista é longa, no entanto o ambiente natural do Red Rocks Amphitheatre nos EUA proporcionaria uma performance espetacular.
Qual o melhor concerto a que já assististe?
Alguns anos atrás fui ver os Stone Temple Pilots duas noites consecutivas. Na primeira noite assisti ao concerto num estádio gigante e posso dizer que a performance foi média. Na segunda noite o show fez-se num espaço muito mais pequeno, íntimo, onde eles tocaram horas a fio. As músicas não tinham começo e final distinto e estavam interligadas de uma formal fluida e mágica, foi um show incrível!
Que artista ou banda mais gostarias de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Black Sabbath.
Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) que gostarias de ter estado presente?
Qualquer um dos concertos dos The Doors. Alice in Chains quando ainda tinham o vocalista original. Jimi Hendrix actuando 'Killing Floor' ao lado de Cream. E a lista continua ...
Qual o teu guilty pleasure musical?
A versão de Art Garfunkel 'I only have eyes for you'... muito bom!
Projectos para o futuro?
Continuar a criar e a gravar sobretudo em colaborações com outros músicos.
Próximos concertos?
Este mês eu vou viajar por Portugal e fazer alguns shows em acústico.
Hoje - Lisboa : EKA Palace
17 junho, 22h30 - Beja : Galeria do Desassossego
18 junho, 22h00 - Vila Nova de S.Bento (Serpa) : Prestígio
24 junho, 21h30 - Silves : Art'aska Lounge caffe
25 junho, 16h00 - Albufeira : Fnac - Fórum Algarve
26 junho, 16h00 - Faro : Fnac Faro
Em Setembro a banda esta a preparar um tour pelo sul da Australia já que temos uma residência musical no Cherry Bar em Melbourne, um dos bares mais emblemáticos na história do Rock'n'Roll Australiano.
Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Arne Heeres encontra-se em Portugal para uma digressão a solo, apresentando o primeiro LP dos Magnus "I", editado em Março deste ano e que pode ser ouvido através da plataforma Bandcamp.
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