Chegou ao fim a 10.ª edição do Nos Alive, que este ano contou com um cartaz de luxo, o Ouvido Alternativo esteve presente por conta própria, assim tal como qualquer festivaleiro, tivemos que fazer opções e não podemos assistir a todos os concertos que gostaríamos. Assistimos a concertos medianos, grandes concertos e alguns que ficarão na memória de quem lá esteve presente, o ouvido alternativo apresenta uma lista com os melhores concertos da edição de 2016...
Vintage Trouble - (7 de Julho, 19h15, Palco Heineken)
Os americanos deram um dos melhores concertos do primeiro dia. "Vamos fazer disto, não uma festa de música, mas uma festa de dança", prometeram e cumpriram. A sua mistura de soul, blues, r&b e rock'n'roll conseguiu transformar o palco secundário numa verdadeira pista de dança. Vestidos a rigor os Vintage Trouble demostraram ser excelentes músicos, onde é impossível não destacar o efusivo, por vezes provocatório vocalista Ty Taylor, que possui uma voz impressionante, e é um autêntico animal de palco. "Nadou" por cima do público, enrolou-se na bandeira portuguesa e colocou todos os presentes a dançar e a cantar "One, Two, Three, push your pelvis, with me".
Queríamos sair para ir assistir aos Biffy Clyro, mas não conseguíamos porque o ambiente estava ao rubro.
Wolf Alice - (7 de Julho, 22h15, Palco Heineken)
A estreia dos Wolf Alice em Portugal serviu para comprovar e dissipar todas as dúvidas, relativamente ao talento e ao impacto causado pela banda londrina. A banda britânica de rock alternativo editou o seu debut, My Love is Cool, em 2015, e que sucedeu aos EP's Blush (2013) e Creature Songs (2014). O disco de estreia mereceu a atenção da crítica especializada, o reconhecimento do público e foi eleito um dos melhores discos do ano passado para o Ouvido Alternativo. Ao vivo o quarteto apresenta-se em grande forma, com um som irrepreensível, uma postura que reflete um misto de timidez e confiança. O público recebeu-os de braços abertos e reagiu entusiasticamente. A banda retribuiu com elogios aparentemente sinceros, assegurando que este foi um dos melhores concertos da digressão até ao momento. Ellie Rowsell é intensa e possui em encanto alicerçado na sua voz poderosa, por vezes doce, por vezes agressiva. As guitarras potentes e a bateria irreverente completaram o cenário ideal. Temas como "You're a Germ", "Freazy", "Bros" e "Lisbon", foram recebidos com euforia, perto do fim do concerto não faltou um dos seus primeiros grandes êxitos "Moaning Lisa Smile", o concerto terminou ao som de "Giant Peach" e ficamos com a certeza que voltaremos a vê-los em breve no nosso país.
Tame Impala - (8 de Julho, 21h00, Palco Nos)
Já não há a mínima dúvida, os Tame Impala são uma das bandas do momento. O seu mais recente disco Currents é simplesmente viciante, relembramos que foi eleito o melhor disco internacional de 2015, para o Ouvido Alternativo. A banda australiana deu provavelmente o seu melhor concerto em Portugal e um dos melhores, se não mesmo o melhor de todo o festival. Ao vivo o seu rock psicadélico assumiu contornos mais efusivos do que é habitual, numa harmonia perfeita entre público e banda. Os Tame Impala tiveram provavelmente o melhor público do festival, mas fizeram por merecê-lo. Mais comunicativos, mais simpáticos, mais dançantes, os Tame Impala tiveram direito a momentos de loucura por parte do público com algumas "mamas à mostra" (sim a palavra correta é mamas e não seios). Kevin Parker não se importou e como "estávamos num festival podíamos fazer o que quiséssemos, mesmo despirmo-nos". O alinhamento foi certeiro, a postura efusivamente controlada e a sonoridade vibrante e alucinante. Embarcamos numa autêntica viagem espacial ao universo Tame Impala. O alinhamento revistou os três LP's da banda, logo no início levaram o público à loucura com aquele que viria a ser o tema do festival "Let it Happen", seguiram-se temas como "Mind Mischief", "Why Won't You Make Up Your Mind?", "Elephant" e "The Less I Know the Better". Ouve ainda espaço para "Daffodils" de Mark Ronson que conta com a colaboração especial de Kevin. Para o fim ficou guardada "Feels Like We Only Go Backwards" com direito a chuva de confetis, a banda despediu-se visivelmente feliz ao som de "New Person, Same Old Mistakes".
Father John Misty - (8 de Julho, 21h40, Palco Heineken)
Joshua Michael Tillman, já havia pisado o palco secundário do Alive, com os já extintos Fleet Foxes, contudo quem o viu no registo indie folk dificilmente poderia imaginar o "animal enjaulado", que habitava por debaixo daquela figura barbuda e esguia. O "paizinho", é tudo menos fraternal, no palco transforma-se num ser provocante, sedutor, irreverente, por vezes a roçar a loucura, mas sempre entusiasmante. O palco reveste-se apenas de uma cortina encarnada, por breves momentos sentimo-nos a assistir a um concerto dentro de um qualquer cabaret francês. Father John Misty possui um alcance e uma textura vocal impressionante, canta, serpenteia-se pelo palco, deita-se e rola no chão, abraça o público, recebe o carinho dos fãs, e chegou mesmo a terminar o concerto com um soutien preso ao microfone. Da setlist fizeram parte temas de ambos os seus discos, destacamos "Hollywood Forever Cemetery Sings", com honras de abertura, "Only Son of the Ladiesman", "Chateau Lobby #4 (in C for Two Virgins)", "Bored in the USA" e "I'm Writing a Novel". Para o fim do concerto ficaram reservadas a brilhante "I Love You, Honeybear" cantada em uníssono e "The Ideal Husband". Despediu-se delicadamente acenando e enviando beijos aos fãs. A nós só nos apeteceu gritar "We Love You, Father John Misty".
Radiohead - (8 de Julho, 22h45, Palco Heineken)
Eram provavelmente a banda mais aguardada desta edição do Nos Alive, não será por acaso que o dia 8 de Julho se encontrava esgotado há muito tempo. Os Radiohead não deixaram os seus créditos por mão alheias. Este concerto pode ser dividido em três actos. O primeiro mais introspectivo, mais intimista, onde pudemos assistir até a algumas desistências. Ao nosso lado um fã britânico reclamava "mais uma vez uma set-list só a pensar neles próprios", o que não deixa de ser verdade, mas os Radiohead são uma das maiores bandas do mundo, que se têm reinventado ao longo dos anos, a sua sonoridade sofreu algumas mutações mas o âmago da banda continua igual e continuam a compor canções com uma profundidade inigualável. Logo a abrir "Brun the Witch", primeiro single extraído do mais recente A Moon Shaped Pool. Seguiram-se "Daydreaming", "Decks Dark", "Desert Island Disk" e "Ful Stop", todas presentes no disco editado este ano. Chegamos ao início do segundo acto onde a banda de Thom Yorke, revisitou a sua carreira intercalando temas mais ou menos conhecidos com alguns grandes êxitos, pudemos ouvir temas como "My Iron Lung", "Talk Show Host", as vibrantes "Lotus Flower" e "Ideoteque", as brilhantes "Exit Music (for a Film)" e "Everything in Its Right Place". A Moon Shaped Pool continuou bem presente com "The Numbers" e "Identikit". A banda apresentou-se como sempre em grande forma, até porque os Radiohead conhecem e dominam como ninguém o palco, não sabem dar maus concertos, Thom Yorke hipnotiza com a sua voz e contagia com os seus movimentos corporais, qual cobra encantada, no entanto ficamos sempre com a enorme vontade de os voltar a ver numa sala fechada num concerto em nome próprio. A qualidade do som nem sempre foi a melhor, variando muito consoante o local onde nos encontrávamos. A segunda parte ficou concluída ao som de "Street Spirit (Fade Out)" de The Bends. A banda saiu do palco mas faltava o encore, e então regressaram para iniciarem o terceiro e último acto no qual deram aos fãs o que eles há muito queriam ouvir. O tal "miminho" que faltou há quatro anos, só que desta vez não foi uma simples prenda foi um autêntico deleite servido ao som de "Bloom", "Paranoid Android" (um dos momentos mais altos do concerto), "Nude", "2+2=5" e "There There". Despediram-se e sairam de palco com o público feliz, mas regressaram para um segundo encore e então deixaram o público verdadeiramente conquistado e rendido ao som de "Creep" e "Karma Police". Já que é para pedir, só faltou "High and Dry" e "No Suprises" para ser perfeito, assim sendo foi simplesmente maravilhoso.
Calexico - (9 de Julho, 18:55, Palco Heineken)
Admitimos que conhecíamos pouco dos Calexico, banda americana de rock alternativo com influências que vão desde o country ao folk, no entanto tínhamos curiosidade para os ver, motivo pelo qual às 18h55 estávamos a marcar presença no palco secundário. Os Calexico celebram este ano duas décadas de existência e talvez por esse motivo o concerto foi uma autêntica celebração, uma verdadeira festa. O público deixou-se contagiar pelos ritmos latinos, as incursões pelo jazz e as sonoridades cubanas e dançou sem parar. A banda demonstrou-se visivelmente feliz e isso notou-se na música alegre e contagiante. Joey Burns, Jairo Zavala e companhia ofereceram-nos um concerto recheado de ritmos alucinantes servidos por bateria, guitarra, acordeão, trompete e muita percussão. Vieram apresentar o oitavo disco Edge of The Sun, editado no ano passado, mas o nosso destaque vai para músicas como "Inspiracion", "Crystal Frontier" e "Guero Canelo". Despediram-se do público português que estava completamente rendido e cansado de tanto dançar, mas antes tiveram ainda tempo para desejar "Good Luck Portugal for the Eurocup final Tomorrow", não sabemos se nos deu sorte mas o que é certo é que somos Campeões da Europa.
Arcade Fire - (9 de Julho, 22h45, Palco Nos)
Acabou o concerto morno dos Band of Horses e o público começava a aglomerar-se, aguardando com ansiedade o nome maior desta noite, os canadianos Arcade Fire. Praticamente à hora marcada o colectivo que ao vivo se apresentou com mais de uma dezena de músicos abriram as hostilidades com "Ready to Start". Se era uma questão, o público respondeu que sim e em êxtase recebeu-os. Com quatro discos editados, não se esqueceram de percorrer todos os grandes êxitos de Funeral, Neon Bible, The Suburbs e Reflektor. O palco estava arquitectado com oito espelhos gigantes que reflectiam o ambiente eufórico que se vivia no palco e alastrava para o público. Seguiu-se "Sprawl II" onde a angelical Régine Chassagne assume o devido destaque. Win Butler foi intenso como sempre, os Arcade Fire mantêm a habitual dança de instrumentos durante todo o concerto (os membros vão rodando pelos mais variados instrumentos musicais), no entanto neste concerto essas passagens nem sempre fluíram como é habitual. Do alinhamento fizeram parte "Reflektor", "Afterlife", "We Exist", "Normal Person", "Keep The Car Running", "Intervention", "My Body is a Cage", "We Used to Wait", "No Cars Go", "Ocean of Noise". A sequência final conteve "Neighborhood#1", "Neighborhood#3", "Rebellion (Lies)" e "Here Comes the Night Time". O concerto terminou ao som de "Wake Up", sem direito a encore, mas também não era preciso, tinha sido tão bom. Compete-nos fazer um apontamento, os Arcade Fire foram brilhantes como sempre no entanto para quem já os viu outras vezes, como nós, este foi o concerto menos bom que a já assistimos. Denotamos um certo cansaço acumulado na banda, menos eufóricos do que é habitual, por vezes pareceu-nos que se perderam no palco, as passagens de instrumentos não decorreram tão fluidamente como noutras ocasiões, podemos descrevê-los como euforicamente cansados. Para quem nunca tinha assistido a um concerto dos Arcade Fire, deve colocar-se a questão: "Se realmente estavam cansados e deram um concerto assim, imaginem como foram os concertos anteriores da banda em Portugal???
Grimes - (9 de Julho, 01h30, Palco Heineken)
Claire Elise Boucher, estreou-se finalmente em Portugal, já não era sem tempo, mas valeu bem a pena a espera, porque a noite foi sua. Grimes é uma das mais excitantes artistas da actualidade e combina na perfeição pop, electrónica e muito experimentalismo. Já editou quatro álbuns, o último dos quais, Art Angels (2015) foi eleito pelo Ouvido Alternativo o 5.º melhor disco internacional do ano passado. Apesar de se ter estreado em 2010, foi dois anos depois, que o mundo lhe deu a devida atenção com o lançamento de Visions. No Nos Alive, Grimes fez-se acompanhar por duas bailarinas hipnotizantes e uma backing vocal, no entanto Claire domina o palco e ofusca tudo à sua volta. À sua espera tinha uma verdadeira multidão que lotava por completo o palco secundário. A bandeira "arco-íris" a servir de capa, desta super-heroína que quando comunica denota uma certa inocência angelical e uma voz delicada, mas assim que se iniciam as batidas, ela transforma-se numa espécie de Alien sedutor, servido por doses elevadas de loucura. A sua música é explosiva, irreverente e vislumbramos um certo espírito japonês, Grimes parece uma personagem saída de um qualquer livro de Manga. Teclas, sintetizadores, guitarra e ternemim, tudo passa pelo seu talento, o alinhamento foi certeiro e vibrante, logo a abrir "REALiTi" de Art Angels, do qual ainda ouvimos "Flesh Without Blood", "Venus Fly", "Artangels", "Scream", "World Princess II" e a explosiva "Kill v. Main" que encerrou o concerto. Ouve tempo para revistar Visions ao som de "Be a Body", "Oblivion" e "Genesis". Destacamos ainda uma versão experimental do clássico "Ave Maria". A estreia tardia em Portugal de Grimes foi recebida com estrondo o que nos leva a crer que o seu regresso será para breve.
Menções Honrosas
O revivalismo de Robert Plant and The Sensational Space Shifters, fez-nos perceber que a música dos Led Zeppelin é e será imortal, hinos como "The Lemon Song", Black Dog" e "Whole Lotta Love", foram recebidos com entusiasmo. Para quando um reencontro entre Robert Plant e Jimmy Page?
Os Pixies são uma verdadeira instituição do rock alternativo e esta sua segunda vida faz todo o sentido e hoje em dia a sua sonoridade é tão actual. Black Francis manteve-se sóbrio e discreto até porque a música dos Pixies não precisa de grandes artefactos e fala por si só. Descarregaram músicas atrás de músicas, falaram pouco mas tocaram muito. Alinhamento composto por quase trinta canções, como seria de esperar há músicas que toda a gente conhece e temas como "Monkey Gone to Heaven", "Where is My Mind?" e "Here Comes Your Man" foram cantados a uma só voz.
Os portugueses The Happy Mess, são um valor seguro da nova música portuguesa e ao vivo conseguem converter os infiéis. Miguel Ribeiro e Joana Duarte fazem recair sobre si os holofotes mas toda a banda reflete a ligação especial que os une, ao nosso lado ouvimos em bom português "estes gajos tocam muito...". O segundo disco Half Fiction não é apenas um belíssimo álbum de estúdio e resulta muito bem ao vivo.
Os Foals são um dos nomes que mais apreciamos actualmente, não foi por acaso que What Went Down foi eleito por nós o segundo melhor disco de 2015. Ao vivo são competentes, com esporádicos rasgos explosivos. O alinhamento não terá sido muito bem pensado, com algumas quebras de ritmo, no entanto temas como "My Number" e "Mountain at My Gates" levaram o público ao rubro. O final foi apoteótico com Yannis Philippakis a cantar "What Went Down" no meio do público.
A música dos Two Door Cinema Club convida à dança e aos saltos, a banda proveniente de Irlanda do Norte não defraudou as expectativas. Após o concerto dos Radiohead, o ambiente estava calmo de mais, para alguns e o Palco Heineken tornou-se pequeno para tamanha multidão que lá se concentrou. Ambiente ao rubro, em alguns momentos parecia que a "tenda" iria ceder e colapsar perante tanto entusiasmo. Concerto em formato best-of sem grandes pausas e sempre em alta rotação, os hits não faltaram e por isso ouvimos e saltamos ao som de "Sleep Alone" (que abriu o concerto), "Undercover Martyn", "This is The Life", "Come Back Home", "I Can Talk" e "What You Know" que encerrou um dos concertos mais celebrados desta edição.
Ainda não tínhamos recuperado do "estalo" que levamos ao som de Two Door Cinema Club e já estavam em palco os Hot Chip, prontos para nos "agredirem" com a sua electrónica vibrante. Concerto non-shop sempre a abrir, dançamos, cantamos, levantamos as mãos bem alto, nós e todo o púbico presente. Os Hot Chip nunca desiludem e mais uma vez apresentaram uma set-list de luxo, puxaram pelo público, dançaram sem parar. Por momentos sentimos que estávamos num ringue de boxe com Alexis Taylor e companhia, à primeira vista o seu ar franzino e aspecto nerd, levam-nos a pensar que o combate está ganho à partida. No entanto os Hot Chip atacam com "One Life Stand", "Night & Day", nós aguentamos o impacto e continuamos firmes, eles ripostam com "Over and Over" e "Need you Now", vamos ao tapete, mas levantamo-nos, estamos combalidos mas não desistimos. Até que eles "disparam" uma sequência de golpes com "Ready for the Floor", "I Fell Better" e "Dancer in the Dark" (cover de Bruce Springsteen), ficamos estatelados no chão e não mais no levantamos, os Hot Chip vencem por K.O.
Antes do fim convém efectuarmos a seguinte ressalva, entre os concertos a que não assistimos por sobreposição de horários, destacamos um que tivemos imensa pena, falamos de Courtney Barnett, no entanto sobreponha-se aos Foals, no entanto rezam as críticas de quem assistiu que foi um belíssimo concerto.
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