terça-feira, 20 de junho de 2017

Conversas d'Ouvido com Victor Mus


Entrevista com o músico e produtor brasileiro Victor Mus. Victor percorre os caminhos da MPB, revestindo-se de influências rock, jazz e folk. O seu talento espalhou-se pelo universo independente brasileiro, captando a atenção da produtora Rebuliço. Integrou a colectânea Garimpo com o carimbo da prestigiada publicação cultural Brasileiríssimos. Este ano editou o EP Chão de Terra e agora "chega" a Portugal pela mão do Ouvido Alternativo, para mais uma edição das Conversas d'Ouvido...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Victor Mus: A paixão surgiu ainda criança. Eu gostava muito de ouvir música, e sempre fingia ser cantor no banho, criando bandas imaginárias. Depois, aos 13, ganhei meu primeiro violão. Assim, consolidou-se minha vontade de ser músico.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Eu descreveria como um estilo versátil, que permite o diálogo entre os diversos estilos populares, e entre as pessoas. Gosto de pensar em uma música que não se encaixa em formatos pré-concebidos, mas sim no tamanho do coração de quem ouve.

Editaste este ano o Ep “Chão de Terra”, para quem ainda não o ouviu o que pode esperar?
Os ouvintes podem pensar em algo plural, que apresenta várias facetas minhas. O EP tem faixas bem pessoais, e escritas em diferentes fases da minha vida, o que torna as faixas diferentes entre si, sem perder a heterogeneidade de que o trabalho necessitava. Além disso, transbordo minha pessoalidade por amor e aceitação, ao longo das faixas. “Encrespa” é a faixa em que falo da aceitação da negritude e da cultura negra, do cabelo negro. Em “Chão de Terra”, “Castelo”, “Preguiça” e “Carambola”, abordo o amor em diferentes prismas: na primeira faixa, falo de um relacionamento em ignição; na segunda, do reencontro com o amor; na terceira, faço uma declaração de amor, e na última, falo da aceitação do fim, e de que isso não é, necessariamente, prova de que aquela relação não deu certo.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Tenho várias! Filosofia, sociologia, cinema, literatura, futebol e natureza. Se conseguíssemos juntar tudo isso em um mesmo lugar, eu nunca sairia de lá!

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Creio que a maior vantagem seja as experiências que se vive neste meio artístico. É fantástico viver e conviver com artistas, fugir da visão pragmática e realística da vida. Estar com pessoas que sabem ler a vida de forma poética, saindo da literalidade, é uma salvação, é uma liberdade imensa. Já essa vida não te dá muita garantia, então, há de se pagar um preço por essa liberdade. O pássaro que voa sabe que nem sempre há chão pra pousar.

Quais as tuas maiores influências musicais?
Tenho muitas influências musicais. Comecei no Rock, ouvindo de Rage Against the Machine (que é minha banda preferida do estilo até hoje) a Blink 182. E sempre gostei do Rock. Depois, entrei em uma MPB mais pop, e fui abrindo o leque de influências. Hoje ouço muito Secos & Molhados, Fela Kuti, Metá Metá, Gilberto Gil, Chico César, entre outros. Internacional posso listar Oshun, Ibeyi, HRVRD, John Butler. Ouço muito pop, também, mas por prazer, e não como influência.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Sigo a tendência de ouvir em MP3, mas todas as formas tem sua delícia.

O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
Acho que os dois. Poder ouvir com a portabilidade e a personalização que o streaming oferece é um grande avanço, mas também te impede de abrir horizontes e ouvir coisas novas. Isso não quer dizer que antigamente a música era mais democrática – as rádios também tendiam à concentração no estilo em voga, que gerasse mais lucro. O bom é que agora podemos ouvir o estilo que queremos, apenas, sem precisar brigar com as rádios. Além disso, o streaming ajudou a diminuir o prejuízo dos artistas com a pirataria. Os avanços chegam e é nosso dever nos adequarmos a eles!

Qual o disco da tua vida?
É uma pergunta muito complicada, mas eu listaria “Estado de Poesia”, de Chico César; “Convoque seu Buda”, do Criolo, e o álbum de 73 dos Secos & Molhados.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Os dois últimos discos que ouvi, e ouço até hoje, são “DAMN”, do Kendrick Lamar; e “Galanga Livre”, do Rincon Sapiência.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Os mesmos dois da pergunta acima. Kendrick fez um álbum maravilhoso, misturando samplers e letras incríveis, e o Rincón Acredito que será um dos novos ídolos brasileiros, ele é maravilhoso!

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Uma vez comecei um show com minha banda, e havia cerca de 100 pessoas na casa. Na terceira música, apenas 10 pessoas estavam. Quando terminamos, apenas 3. Foi bem embaraçoso. 

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Com Chico César, com certeza!

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Gostaria de abrir um show do Gilberto Gil. Seria incrível!

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Acho lindo o Red Rocks, Denver. Seria incrível tocar lá!

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Ainda não assisti um show que me levasse a dizer que foi o melhor, mas posso dizer que até agora, foi o show do SOJA, em 2015, na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Eu gostaria muito de ver o show do Earth, Wind & Fire!

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Woodstock, sem dúvidas.

Qual o teu guilty pleasure musical?
Gosto muito de funk brasileiro, é bem divertido!

Projectos para o futuro?
Continuar trabalhando meu EP, e pensar no disco. Agora é só trabalhar e consolidar a carreira!

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Nunca pensei sobre isso, mas já me fizeram tantas perguntas ao longo do trabalho, que não penso em algo que deveriam me perguntar. Só no que NÃO DEVERIAM! (risos)

Que música de outro artista, gostarias de ter sido tu a compor?
“Caracajus”, do Chico César, ou “Todas Elas Juntas Num Só Ser”, do Lenine! São maravilhosas!

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
"Black Creme", da banda HRVRD, de fato!

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Eu que agradeço o espaço e a atenção!

Ficamos agora ao som do mais recente single de Victor Mus, "Preguiça", extraído do Ep Chão de Terra.

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