quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Conversas d'Ouvido "com" Reverence Santarém 2017

O festival Reverence 2017, está a chegar com o melhor da música underground. A quarta edição do Reverence mudou-se para Santarém, mas a qualidade musical manteve-se intacta. Este é um festival para quem realmente gosta de música, onde não há distrações, nem brindes, isto não é uma feira-popular, é um festival de MÚSICA. Estivemos à conversa com Alexandre Travessas (programação e produção do festival) e falamos sobretudo de música, quisemos ainda saber como tudo começou, quais os destaques para a edição deste ano e projectos para o futuro. Esta edição das "Conversas d'Ouvido", é exactamente como o Reverence Portugal, "imperdível para quem gosta de música"...


Ouvido Alternativo: Antes de mais, como surgiu o nome Reverence?
Alexandre Travessas: Reverence é reverência à música ao vivo e ao rock feito por guitarras, desde o psych e neo-psych ao shoegaze e dreampop, passando pelo metal (stoner, doom, death, post) e pelo post-rock, mas também pela darkwave, pelo post-punk… pelo indie, na sua generalidade. O Reverence é, acima de tudo o resto, uma sentida vénia às guitarras e à distorção, um ritual de adoração ao riff num ambiente idílico e muito descontraído. Acrescente-se que, o Reverence é uma ideia original do Nick Allport, fundador e promotor das primeiras edições em Londres (2005, 2009, 2010) em parceria com o ClubAC30. A sua vinda para Portugal em 2009, e o começo das Cartaxo Sessions, acabaram por originar esta ideia de trazer ao Ribatejo algumas sonoridades muito pouco habituais por estas bandas, dando início a esta aventura a que chamamos Reverence Portugal. O resto, desde 2014, é história!

Quais as dificuldades que se sente quando se decide organizar um festival desta dimensão?
As maiores dificuldades passam, essencialmente, por encontrar parceiros certos para tornar o evento real. Um festival da magnitude do Reverence envolve largas dezenas de pessoas e, além de se “construir” o cartaz e gerir tudo o que envolve fazer dois ou três dias de espectáculos, são precisos muitos meses de trabalho para – entre palcos, bandas, toda a logística, burocracia e promoção – reunir as condições necessárias para conseguir captar a atenção das pessoas que estão interessadas em ver boas bandas num ambiente idílico e de paz.

Este ano o Reverence mudou-se para Santarém, é verdade que esta foi uma das localizações pensadas para a 1.ª edição?
Sim. Com o decorrer das Cartaxo Sessions e o impacto que estas acabaram por ter no underground português, a ideia de se fazer um “evento maior” começou a germinar na cabeça do Nick e a Ribeira de Santarém foi, efectivamente, o primeiro local onde se pensou fazer o primeiro Reverence em Portugal. No entanto, a relação de proximidade que o Nick já tinha com Valada, essencialmente por viver lá perto, acabou por ditar que a primeira edição acontecesse no Parque de Merendas da aldeia ribatejana.

Num mercado repleto de festivais de verão, o que é que o Reverence tem de diferente?
Além da mistura de géneros mais indigentes, do culto ao riff, do local idílico e da paz que queremos que se sinta – sem distracções de brindes e marcas –, fazemos questão que a música não pare durante o evento. É por isso que pensamos o cartaz com concertos non-stop desde cedo e pela noite dentro.

Comenta a nossa afirmação, “Hoje em dia vive-se a moda dos festivais de verão, muitos dos festivaleiros actuais, nem conhecem o respectivo cartaz musical. No Reverence, porém quem lá vai, vai por causa da música”.
Os festivais são cada vez mais eventos sociais em que se mistura muita coisa para além da música. Infelizmente, pelas piores razões. Hoje em dia é normal ir-se aos grandes festivais e os concertos (pelo menos até ao headliner do dia) serem ofuscados pelas ofertas das marcas e pelas distracções para que não se faça o que é suposto quando se vai a um evento de música, criando-se um ambiente quase de praia, onde todos conversam e os que querem assistir à sua banda preferida têm de estar a mandar calar os outros... não há paz, o interesse para se conhecer bandas novas é nulo e o interesse em passar um bom bocado a disfrutar de boa música acaba por ser reduzido também. O que parece interessar é “meter” o máximo de pessoas possíveis no recinto para que isso seja notícia e gere patrocínios. O Reverence tenta ser diferenciador no que toca ao conceito, afirmando-se como um festival de MÚSICA, apoiado num cartaz com muitas bandas. Entre nomes consagrados, promessas e artistas mais “fora da caixa”, passando pelo legend slot até por uma jam ao nascer do sol, o que importa realmente aqui é a música. O objectivo do Reverence é, como sempre foi, de resto, apenas um – ter boas bandas em palco e propiciar bons momentos ao público.

Em apenas três edições já tiveram no vosso festival nomes como Hawkwind, Moon Duo, Electric Wizard, The Jon Spencer Blues Explosion, The Horrors, The Brian Jonestown Massacre e The Sisters of Mercy, entre tantos outros, como foi possível tanto em tão pouco tempo?
Basicamente foi possível com uma mistura de loucura e muita vontade de fazer acontecer as coisas. O que nos move é a paixão pela música, pelos concertos e por ter perto amigos e conhecer novas pessoas.

Sabemos que é uma pergunta ingrata, mas do cartaz deste ano, o que é que não podemos mesmo perder?
Este ano destacamos o último espectáculo de celebração dos 25 anos de carreira dos Moonspell. Sabíamos de antemão que seria uma escolha polémica, mas dada a importância que a banda tem no panorama português – porque abriram, de facto, muitas portas lá fora para outros – foi uma opção que assumimos com toda a força e algo que quisemos muito fazer. Posso, inclusivamente, afirmar que nos sentimos extremamente honrados por receber este evento no Reverence e acreditamos que este será um momento verdadeiramente único. Por outro lado, além da visita dos Gang of Four, que são lendas vivas do post-punk, de um alinhamento de peso que inclui Amenra, Oathbreaker, Mono e os surpreendentes Sinistro, temos uma quota psych que muita alegria vai trazer aos fãs do género. Os Träd Gräs och Stenar são também lendas, mas do kraut sueco dos 70's; vamos receber o único concerto que os misteriosos HILLS vão dar em 2017 e celebrar o 5.º aniversário da FUZZ CLUB – a editora que “descobriu” os 10000 Russos no Reverence 2014 – mostrando o melhor que o seu catálogo tem para oferecer. The Underground Youh e The Janitors, por exemplo, são concertos imperdíveis. Há depois também uma grande variedade de novas bandas portuguesas que vale muito a pena ver ao vivo.

Que artista/banda ainda sonhas trazer ao Reverence?
Há tantas... Pessoalmente gostava muito de trazer Tool, Nick Cave, Jesus & Mary Chain, ZZ Top, King Crimson, entre centenas de outras bandas. Também gostava, por exemplo, de voltar a trazer os The Black Angels, Red Fang, Sleepy Sun, The Asteroid #4 e muitas outras que já passaram pelo palco do Reverence.

Para quem nunca foi ao Reverence, diz-nos o que andam a perder?
Andam a perder o verdadeiro conceito de festival de música. No Reverence há boas bandas, há campismo com praia, há um ambiente muito descontraído e concertos non-stop. Não há distracções além dos palcos e da paisagem envolvente.

Podes contar-nos alguma história inusitada que tenha acontecido em alguma edição anterior do Reverence?
A maior desvantagem de se promover um festival é que não se consegue ver grande parte dos concertos, temos de dar atenção a outros assuntos para garantir que tudo corre pelo melhor. O ano passado ouve uma situação com uma banda (e não vou mencionar nomes) que chegou cinco horas atrasada ao recinto, tempo durante o qual não respondeu a telefonemas nem a nenhum contacto que tenhamos feito para saber do seu paredeiro. Chegaram literalmente em cima da hora de tocar, deram o seu concerto e... Voltaram a desaperecer. Umas horas mais tarde, quando o hotel em que deveriam estar alojados nos informou que nenhum elemento da banda ou da sua comitiva tinha feito check-in, resolvemos ir à procura deles... Corremos tudo e, às tantas, percebemos que estavam a dormir na parte de trás do escritório da produção… (risos)

Agora falemos um pouco de ti.
Como surgiu a paixão pela música?
Surgiu desde que a descobri, ainda muito novo. Os meus pais compraram uma aparelhagem numa promoção em que ofereceram 100 vinis… Apaixonei-me pelas rodelas, disco dos The Beatles, Neil Young, Credence Clearwater Revival, Bob Dylan e por aí fora.

Qual o disco da tua vida?
Não há um preferido, há muitos para vários momentos da vida.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
«Last Place», dos Grandaddy. E o «Death Song», dos The Black Angels.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
De momento ando a ouvir os Grandaddy

Qual o melhor concerto a que já assististe?
São muitos concertos, nem por ano consigo dizer qual o melhor. Há uns mais marcantes, como Pink Floyd em Alvalade, Tool no Restelo ou Nirvana e Smashing Pumpkins em Cascais, mas também há Whores no Sabotage Club ou A Place to Bury Strangers no Reverence.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Quero muito ver Grandaddy, The Moonlandingz, At the Drive In, The Ghost of a Saber Tooth Tiger, entre muitas outras bands.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Jimi Hendrix no Saville Theatre, 1967 em Londres.

Qual o teu guilty pleasure musical?
Há um tema ou outro de sonoridades que não costumo consumir, alguns artistas de Hip Hop, R&B, Soul.

Projectos para o futuro?
O projecto de futuro é fazer o Reverence crescer e tentar promover mais eventos além do festival.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Pergunta: O que é que vos passou pela cabeça, para realizarem quatro edições de um festival independente de música alternativa sem grandes apoios institucionais ou de grandes marcas?!?
Resposta: Demonstrar que existem muitas pessoas com verdadeiro amor à música, e que é possível fazer algo desta dimensão pela simples relação com estas artes, sem estar refém das máquinas de comunicação das grandes marcas.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Não tenho preferência, não vou estar lá para assistir…

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
O Reverence Santarém realizar-se-á nos dias 8 e 9 de Setembro. Podem consultar a seguir o cartaz completo do Reverence 2017. Relembramos que os passes gerais custam €55 se adquiridos até dia 31 de Agosto, a partir dessa data passam para €60 e encontram-se à venda aqui.

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