Conversas d'Ouvido com Alan Lopes

Entrevista com o multi-facetado músico brasileiro Alan Lopes. Compositor, produtor, guitarrista e ex-membro da proeminente banda Medulla. Após anos como guitarrista de outras bandas e dedicando-se à produção, chegou o momento de deixar falar o seu próprio "eu", aventurando-se a solo. O primeiro avanço "This House Is on Fire", já pode ser ouvido e descoberto nas principais plataformas. A seguir, podem ficar a conhecer melhor Alan Lopes, o homem e o músico, nesta edição das "Conversas d'Ouvido"...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?

Alan Lopes: Certamente o amor por tocar veio da necessidade adolescente de ser e fazer alguma coisa para me expressar. No Ensino Médio tive as melhores más amizades que se podia ter. Na época, matávamos aula sempre que podíamos e corríamos para a casa de um amigo para ouvir os discos lançados, cada pessoa podia sugerir um. Não demorou muito, dessa galera saíram as minhas primeiras bandas de colégio.

Após anos como guitarrista de outras bandas e dedicando-te à produção, como surgiu a vontade de te aventurares a solo?

Após a minha “saída” do Medulla, eu passei dois anos sentindo essa necessidade de me conectar ao meu “eu interior” por meio da música. Eu era o típico cara de banda que visava o interesse colaborativo, antes mesmo de me preocupar com as minhas necessidades. 

Quanto a produção musical, ela somente aflorou esse desejo de compor e lançar minhas músicas, por dois motivos: primeiro, porque a coisa que eu mais gosto é produzir; segundo, é esse gostinho de construir algo a partir do nada e jogar isso para o mundo.

Alan Lopes feat. Edu K - "This House Is On Fire"

Queres apresentar-nos quem são os músicos que te acompanham neste projecto?

Na música “This House Is On Fire” optei chamar os músicos amigos que mais têm a ver com a atmosfera que a música passa.

Na voz, Edu K (DeFalla), que é um dos ídolos da minha fucking boring adolescência. Ter o prazer de conhecer, construir uma amizade e dividir a composição desta track com o Edu, é um dos pontos altos da minha realização pessoal.
Na bateria, meu grande e fiel amigo, Daniel Martins. Parceiro de formação dos Medulla, que comprou meu barulho em todos os aspectos. Eu costumava dizer que nós éramos a cozinha dos Medulla (risos), nossa bateria e guitarra sempre andaram em sincronicidade, e por isso, ele sempre compôs comigo. É um “Ás na manga” quando se fala em bateria. No baixo, convidei meu companheiro de café e papos musicais, Celso Lehnemann, que toca baixo na banda Menores Atos. Celsinho é um cara de extremo bom gosto e cuidado, quando pensei nele para gravar sabia que eu poderia confiar 100% no empenho minucioso dele.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?

Alternativo é bom. É um termo bem globalizado, que não me remete muito a um estilo musical, e sim um estado de espírito.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?

Mil.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?

A maior vantagem é o prazer de realização, é tão difícil hoje em dia, ainda mais no Brasil, que no final dá esse gosto heroico na boca. A desvantagem é que é tudo muito lúdico e pouco palpável, a gente luta até aonde o braço alcança, mas o tiro que a gente leva vem de longe.

Quais as tuas maiores influências musicais?

Metric, Alice in Chains, Cake, Incubus, Eliot Sumner, Faith no More, The Mars Volta, Red Hot Chili Peppers, Deftones, Nirvana, Soundgarden, Pearl Jam...acho que posso falar até amanhã.... (risos)

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?

Ouço do jeito que der, mas prefiro ouvir no Headphone.

Qual o disco da tua vida?

Pergunta difícil pra mim, não sei se o Curtains ou The Empyrean, ambos do John Frusciante

Qual o último disco que te deixou maravilhado?

Blak and Blu, do Gary Clark Jr.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?

"Fever Daydream", do The Black Queen. Que é um projeto do vocalista do The Dillinger Escape Plan.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?

Uma vez eu fiz um solo de guitarra em cima do P.A, e ao descer pulando, com a trepidação o fusível do amplificador queimou. Fui da glória ao fundo do poço no mesmo dia (risos).

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?

Assim....essa pergunta é muito abrangente, eu poderia largar um Steven Tyler aqui e sair de fininho né? Mas vou lançar um mais palpável: Ney Matogrosso, seria incrível!

Para quem gostarias de abrir um concerto?

The Mars Volta, ou qualquer banda derivada (risos).

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?

Nacional: Rock in Rio, Internacional: Austin City Limits

Qual o melhor concerto a que já assististe?

Deftones, no SXSW 2016.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?

The Mars Volta

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?

Festival Pop de Monterey, dia 18 de Junho de 1967.

Tens algum guilty pleasure musical?

Tocar guitarra alto.

Projectos para o futuro?

Para o futuro quero estar produzindo muito disco e trabalhando com o mercado da música de forma executiva, não só tocando ou produzindo... venho descobrindo outros prazeres e estudando eles de um tempo para cá.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.

Gostaria de mandar um beijo para minha mãe, meu pai e outro especialmente para você, pode?

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?

"Smells Like Teen Spirit", do Nirvana

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?

"Rain When I Die", do Alice in Chains, óbvio.

Antes de terminarmos ficamos precisamente com o tema "This House Is On Fire", produzido por Alan Lopes e que conta com a voz de Edu K.