Entrevista com a banda brasileira Stereophant, conjunto de rock alternativo, proveniente do Rio de Janeiro. Quinteto composto por Alexandre Rozemberg (voz), Vinícius Tibuna (guitarra), Thiago Santos (guitarra), Bernardo Leão (bateria) e Fabrício Abramov (baixo). Após quase três anos de produção os Stereophant editaram recentemente o aguardado disco "Mar de Espelhos", agora chegou finalmente a altura de se estrearem no Ouvido Alternativo para mais uma edição das "Conversas d'Ouvido"...
Como surgiu a paixão pela música?
Thiago Santos (TS): A memória mais antiga que eu tenho de me sentir realmente tocado pela música vem da minha mãe escutando discos de vinil. Lembro que ela escutava discos do Richard Clayderman, Raul Seixas, e Novos Baianos. O primeiro impacto pra mim realmente aconteceu quando conheci Nirvana. A primeira vez que escutei músicas como "Smells Like Teen Spirit" e "Something in the Way" foi uma coisa muito forte. Aquela sensação de que aquilo falava diretamente comigo me fez escutar aquele disco sem parar. Foi o que me fez comprar meu primeiro violão.
Como surgiu o nome Streophant?
Alexandre Rozemberg (AR): É um nome meio sem significado, tínhamos outro nome péssimo anteriormente e decidimos mudar. Começamos a viajar nesse lance de animais e nos demos conta que o elefante é um bicho incrível e nosso grande amigo Hericley sugeriu Stereophant e assim nos batizou.
Editaram recentemente o disco “Mar de Espelhos”, que não é “apenas” um conjunto de músicas, é uma história contada ao longo de 15 canções?
AR: Sim, nos propomos a contar a história de um “Homem” através das 15 músicas que compõem o álbum. Foi algo que surgiu de uma forma orgânica, compomos a canção “Homem ao mar” e percebemos que ela tinha um tom narrativo e naturalmente começaram a surgir outras que se complementavam. Quando chegamos num grupo de 5 músicas que se conectavam decidimos voltar todas as energias para fazer o disco todo dessa forma.
Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
AR: Essa é a pergunta que nunca sabemos responder, por que a gente não quer mesmo limitar as possibilidades do que podemos fazer com música, desejamos essa liberdade de não estar restrito a um estilo ou dois.
Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
TS: Muitas. Cinema, literatura, fotografia e arte de uma maneira geral.
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
TS: A maior vantagem é a possibilidade de se expressar e se comunicar com as pessoas, construir pontes de uma maneira muito peculiar, e fazendo algo que realmente amamos. A maior desvantagem é aquele clichê que não se aplica só à música, mas à arte de maneira geral. A maioria das pessoas acha que o músico não é um trabalhador. Acham que música é diversão e pronto. Isso acaba se estendendo em várias questões problemáticas tanto em nossas vidas pessoais como na própria vida da banda. Ainda mais quando nos propomos a fazer algo novo, um trabalho autoral. A dificuldade da família entender que aquilo é uma coisa séria ou até mesmo no retorno financeiro que a banda alcança. Mas o que eu posso fazer se o meu trabalho também é o meu lazer?
Quais as tuas maiores influências musicais?
TS: Minhas maiores influências são o Punk Rock, hardcore, e o indie rock.
Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
TS: Prefiro essa coisa mágica e misteriosa que é o disco de vinil.
O streaming está a “matar” ou a “salvar” a música?
AR: Acho que a música não morre e nem precisa ser salva, quem pode morrer e talvez precise de salvação é a indústria da música. Mas acho que o streaming é só mais um jeito que eles arranjaram de capitalizar a música remunerando mau o artista. Não sei no que vai dar mas parece que é uma forma de ouvir que está se estabilizando, cabe a nós artistas independentes lutar por esses meios de chegar nas pessoas, que cada vez mais estão na mão das grandes empresas, e conseguir de alguma forma capitalizar nosso trabalho. Mas não consigo afirmar que esse meio de ouvir música é o que mais beneficiará o artista, sou um pouco cético.
Qual o disco da tua vida?
TS: Eu já fui muito de ter um disco favorito, um disco da minha vida, um filme, um livro. Mas hoje em dia essa ideia me parece um pouco absurda. Temos discos, livros, filmes que nos tocam mais em determinadas fases da nossa vida. O disco da minha vida já foi o Nevermind, já foi o London Calling, e hoje em dia é A Tábua de Esmeralda do Jorge Ben.
Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
AR: Já rompi o ligamento cruzado anterior do meu joelho direito dando um salto durante um show, situação patética que me custou um bom tempo de recuperação. Mas fiz o show até o final mesmo sem ligamento.
Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
AR: Tem alguns, mas acho que seria legal fazer uma parceria com o Rodrigo Lima do Dead Fish e outra com o Caetano Veloso. Dois grandes caras.
Para quem gostarias de abrir um concerto?
AR: Gostaria de abrir um show de Arcade Fire, estou viciado neles ultimamente.
Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
TS: Meu palco favorito é o Circo Voador. Já tocamos lá duas vezes, espero que aconteça com muito mais regularidade.
Qual o melhor concerto a que já assististe?
TS: Show do Streetlight Manifesto. Muito punch, energia e metais incríveis.
Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
TS: Gostaria de ver um show do Gilberto Gil e ainda não consegui.
Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
TS: Seria importante pra mim ter assistido a qualquer show The Clash ou dos Ramones.
Tens algum guilty pleasure musical?
TS: Meu maior guilty pleasure musical deve ser Blink-182. Como todo mundo eu escutava na adolescência, mas adoro até hoje.
Projectos para o futuro?
AR: Lançamos há bem pouco tempo o disco “Mar de Espelhos” e queremos trabalhar bastante. Temos dois clipes para serem lançados e planejamos outros, queremos fazer muitos shows pelo Brasil e quem sabe dar um pulo por aí e seguir esse barco da banda, fazendo shows e lançando discos por bastante tempo.
Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
TS: Pergunta: Você não acha que a opinião de TODO MUNDO merece ser respeitada?
Resposta: E se eu te dissesse que a minha OPINIÃO é que você é um completo idiota. Você respeitaria?
Resposta: Não.
Resposta: Sem mais perguntas.
Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
TS: Gostaria de ter escrito "The Times They Are A-Changin'" do Bob Dylan. Fico arrepiado quando ele canta: “For he that gets hurt, Will be he who has stalled (...) There's a battle outside, and it is ragin' (...) It'll soon shake your windows and rattle your wall (...) For the times they are a-changin'(…)
Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
TS: “The End”, The Doors.
AR: “Tardei” do Rodrigo Amarante
Terminamos, como habitual com música, ficamos agora ao som do disco Mar de Espelhos...
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