domingo, 3 de dezembro de 2017

Conversas d'Ouvido com de Turquoise

Entrevista com de Turquoise, projecto a solo do músico André Júlio Teixeira, em formato one-man-band. Com experiência profissional em teatro e como membro dos Les Saint Armand, André procurou uma certa intimidade no aconchego reconfortante da sua voz e na suavidade da sua guitarra. 
Recentemente editou o EP "Camomila" e é com este registo que se apresenta nas "Conversas d'Ouvido", para regressarmos ao passado, projectarmos o futuro e analisarmos o presente, sempre sob o foco da música...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
de Turquoise: Desde muito cedo no infantário, o contacto com a música me fascinava. Queria estar sempre envolvido com ela sempre que havia oportunidade. Mais tarde, aos 10 anos de idade um vizinho, que curiosamente é a mesma pessoa que hoje, enquanto produtor, gravou este meu primeiro EP, começou a ensinar-me a tocar guitarra. Aí abriu-se a caixa de Pandora, até hoje.

Como surgiu o nome “de Turquoise”
“de Turquoise” por duas razões. Pela cor azul turquesa, que é para mim uma cor que evoca um estado de espírito de plenitude e neutralidade, com o qual me identifico. E em Francês, por ser uma língua e cultura que está diretamente ligada a uma emancipação enquanto músico e artista.
de Turquoise - "Camomila"
Editaste recentemente o EP “Camomila”, para quem ainda não o ouviu o que podemos esperar?
Vão encontrar sobretudo, muito boa música (risos). Na verdade, gosto de pensar que a música, como expressão artística, não precisa de grandes explicações ou antecipações. Sinto, sobretudo, que o passo que dei no sentido de materializar este EP me trouxe uma renovada confiança, que creio ser o motor para uma longa de viagem. É com certeza o primeiro de muitos. O segundo está já a ser cozinhado.

No projecto “de Turquoise”, apresentas-te a solo, rodeado pelos teus instrumentos, nunca te sentes sozinho em palco? Ou mais vale só que mal acompanhado? (risos)
Não me sinto sozinho, mas sinto por vezes a vontade de ter alguém comigo em palco. E futuramente irá acontecer. No entanto continuo a ter outros projetos colectivos, como os “Les Saint Armand”. Com “de Turquoise” o mote é precisamente a descoberta que se faz sozinho. Como me desafiar e redescobrir enquanto músico a solo, também na multi-instrumentalidade, no uso da improvisação, como expandir os limites, para compreender a liberdade do que é possível fazer-se sozinho. No final, tento ser simples.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Gosto de o descrever como Música do Mundo. É discutível claro, mas eu a descreveria como tal.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
A minha profissão principal nos últimos 10 anos tem sido a de ator de teatro. Divido o meu tempo entre isso e a música, e ambos se interligam continuamente. Para além disso, o Cinema, a Dança, as Artes plásticas, e sobretudo a Natureza, são enormes inspirações.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A música é uma linguagem universal, com ela podemos mover montanhas. Mas é preciso estar disposto a eventuais terramotos. Poder dedicar a minha vida em 100%, ao que mais gozo me dá fazer, é a receita para ser uma pessoa mais feliz e completa, não tenho dúvidas nesse facto. Mas vivemos numa sociedade que está construída para tornar esse caminho difícil, um artista sofre ainda de enormes preconceitos no que diz respeito ao seu papel na sociedade. É preciso quebrar essa ideia, e isso faz-se, arriscando. Sacrificando por vezes o conforto que a estabilidade financeira possa dar, para procurar uma vida mais simples, em maior sintonia com que realmente nos preenche. Este pode ser um bom começo para fazer as coisas acontecer.

Quais as tuas maiores influências musicais?
Porque os ouço desde que sou pequeno e hoje continuam a ser uma inspiração: Pink Floyd.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Com a melhor qualidade, sempre que possível. Hoje acabo por ouvir muito em streaming, o que não é de todo a melhor opção, mas é um consumo rápido que me permite descobrir mais coisas em pouco tempo. Quando gosto tento sempre adquiri-lo na melhor qualidade possível.

Qual o disco da tua vida?
Pergunta traiçoeira. Acho que há discos que marcam etapas da vida. Eu tenho um disco que marcou uma etapa muito feliz e transformadora da minha, “Grace” do Jeff Buckley. Mas há muitos outros.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
To Pimp a Butterfly” do Kendrick Lamar.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Descobri ontem a banda que abriu o concerto de Mulato Astatke no Festival Sons do Mundo em Aveiro. Chamam-se Liniker e os Caramelows.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Provavelmente não me lembro. (risos)

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Tigran Hamasyan. Mas preciso ainda de comer muita sopa. (risos)

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Para o Fausto, desde que pudéssemos jantar juntos antes. (risos)

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Festival au Désert.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Tinariwen no Festival de Músicas do Mundo - Sines em 2010.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Silvia Pérez Cruz.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Gostava de viajar até ao dia 29 de maio de 1913, e assistir à estreia de“ Le Sacre du Printemps” composta pelo Ígor Stravinsky.

Tens algum guilty pleasure musical?
Gosto de ouvir ventiladores nos quarto de banho públicos. É como um drone meditativo. (risos)

Projectos para o futuro?
Futuro próximo, há um álbum a ser preparado, com a participação de músicos que eu admiro muito.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Uma pergunta que uma vez fez um senhor indiano após um espectáculo da companhia de teatro com quem trabalho em França.
“What’s the deeper meaning of your performance?”.
Não saberia o que responder mas achei a pergunta intrigante.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
Hideaway” de Jacob Collier.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
The Sound of Silence” dos Simon and Garfunkel

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Terminamos ao som do mais recente Ep "Camomila", que se encontra disponível para escuta, através da plataforma Bandcamp.

Sem comentários:

Enviar um comentário