Entrevista com o cantor e compositor português que assina como Príncipe. Membro dos Ciclo Preparatório, Príncipe, lançou o seu primeiro tema a solo em 2013, tendo figurado na colectânea "Novos Talentos Fnac", três anos passados o seu EP de estreia viu a luz do dia. 2017 foi o ano em que editou o seu debut "A Chama e o Carvão" e é também o ano que assinala a sua estreia no Ouvido Alternativo, para uma conversa descontraída, sobre paixões, influências, projectos futuros, mas fundamentalmente sobre Música...
Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Príncipe: Desde que me lembro, o que me estimulou foi a possibilidade de poder reproduzir imagens e ambientes através de sons e palavras. É mais claro e real o que não vejo mas vivo, do que o que está à minha frente mas não me envolve ou não consigo entrar, ou seja, consigo ver mais e com mais clareza através dos ouvidos do que com os olhos, por isso certas coisas que não compreendia comecei a transpor para música para as compreender melhor.
Como surgiu o nome Príncipe?
Surgiu como qualquer outro nome e não passa disso mesmo, é apenas uma palavra. O significado que lhe damos está nas imagens às quais o associamos, varia de pessoa para pessoa. Para mim o nome “Príncipe” serve apenas como uma porta para lugares que vão para além das minhas limitações humanas, onde posso explorar temas sem ter que me preocupar qual a minha posição relativamente ao que está a ser explorado. Este desprendimento permite-me aprofundar a um outro nível o ambiente que decido abordar em cada música. Apesar de inevitavelmente e fisicamente partir de mim, na verdade esteve sempre fora do meu controlo desde o momento em que surgiu. Se não me forçar a esse ambiente ou mundo e não racionalizar cada fase da sua construção ele revela-se naturalmente, neste caso na forma de música. O produto final talvez esteja relacionado comigo mas, na verdade, não o reflete diretamente por isso não faria sentido usar o meu nome ou qualquer outro nome próprio.
Príncipe: "A Chama e o Carvão" |
Editaste recentemente o disco de estreia “A Chama e o Carvão”, para quem ainda não ouviu o que podemos esperar?
Algo que, de forma caótica, faz sentido. Fluido e contrastante. Surreal mas claro. Verdadeiro e belo. Fresco e antigo (parece que estou a descrever um sumo de frutas, ahahah). Provem-no e talvez seja a vossa bebida.
Príncipe e Ciclo Preparatório, preferes compor em formato banda, ou mais vale só que mal acompanhado? (risos)
Gosto dos dois.
Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Não sei.
Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Sim, algumas. A mais próxima de música seria escultura.
Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Música na vida de um músico é a sua graça e a sua desgraça. Há um mundo adjacente ao mundo musical que não é muito atraente. Mas não vejo nenhuma característica que seja especificamente vantajosa ou desvantajosa.
Quais as tuas maiores influências musicais?
Muito de música clássica e hip-hop, folk dos anos 60/70, assim como psicadélica e progressiva dessa altura, eletrónica contemporânea, algum rock dos anos 90 e 2000, fado, alguma música brasileira. Um pouco de tudo no fundo, não tanto músicas em si mas as texturas, palavras ou ambientes nelas presentes é que me estimulam, entre outras coisas não musicais.
Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Idealmente, consoante a época em que cada música foi feita devia ser ouvida com os métodos da altura. Assim, música clássica seria sempre ouvida ao vivo, 60's/70's em vinil, 80's em cassete, 90's em CD, etc. Mas, na verdade, é um pouco irrelevante. Desde que tenha boa qualidade, dou preferência à maneira mais acessível no momento em que quero ouvir. É verdade que pode haver um formato em que cada música pode ter mais impacto mas a sua essência não muda assim tanto. Depende mais do nosso estado de espírito do que propriamente do estado do aparelho que utilizarmos.
Qual o disco da tua vida?
Não sei.
Qual o último disco que te deixou maravilhado?
"The Empyrean" de John Frusciante.
O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Ultimamente tenho ouvido Tim Buckley e instrumentais de Chillhop e de Acid Techno.
Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Ainda só dei poucos, por isso não há muito para contar.
Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Capicua.
Para quem gostarias de abrir um concerto?
Não sei.
Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Ir tocar ao Brasil poderia ser uma grande experiência.
Qual o melhor concerto a que já assististe?
Phoenix em 2013.
Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Jack White.
Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
O Hino à Alegria de Beethoven quando foi tocado pela primeira vez em 1824.
Tens algum guilty pleasure musical?
Nop. Nada de guilty no pleasure musical.
Projectos para o futuro?
Sim, alguns.
Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Todas são válidas.
Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
A música “Cabeça de Vento”, cantada pela Amália Rodrigues, foi das coisas mais belas que já ouvi. Se conseguisse fazer algo com aquele ambiente intemporal e etéreo ficaria feliz.
Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
A minha vontade nesse momento há de ser irrelevante. Até lá vou tentar fazer o máximo para nos ajudar a aceitar a morte e a abraçar a vida.
Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Antes de terminarmos, ficamos com a música de Príncipe e do seu disco de estreia "A Chama e o Carvão"...
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