Entrevista com Vatsun, projecto nacional de synthpop composto por Sérgio Deuchande (voz, composição e produção) e Bruno Garcez (teclas, sintetizadores). Os Vatsun, aventuram-se no universo da electrónica, pincelando-a com uma voz refinada e uma estética aprumada. Na sua sonoridade há algo que nos transporta para os idos anos 80, estabelecendo uma ponte até à actualidade. Editaram este ano o mais recente álbum "Imaterial" que integrou a nossa lista de melhores do ano, é por isso com prazer que fomos conhecer melhor os Vatsun, nesta edição das "Conversas d'Ouvido"...
Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Sérgio Deuchande (SD): Um amigo mais velho mostrou-me alguns discos da "vanguarda" que chegou a Portugal do pós-punk inglês dos anos 80. Eu tinha 14 anos e fiquei a conhecer bandas como Joy Division, Echo and the Bunnymen, The Cure e The Smiths. Percebi que havia uma maneira mais urgente e honesta de fazer música empolgante.
Bruno Garcez (BG): Sempre me lembro de estar exposto à música através dos meus pais. Foi-me incutido Queen, Prince, Michael Jackson. Depois veio a fase Punk e Pop Punk, redescobri o New Wave...e tornou-se tudo uma amálgama. Mas acho que sempre fiquei com aquele som dos 80's no sangue.
Como surgiu o nome Vatsun?
SD: A partir de um jogo de vocábulos que acabasse numa palavra incomum e que tivesse um significado pouco determinado. Supostamente, Vatsun significa palavra ou discurso em sânscrito (língua ancestral Nepal e da Índia) e pode também significar uma estrutura poética dinâmica no Hindu.
Vatsun - "Imaterial" |
Editaram recentemente o disco “Imaterial”, para quem ainda não ouviu o que podemos esperar?
SD: Um disco muito heterogéneo com influências e estéticas muito variadas. Podemos situá-lo com sonoridades da música electrónica e synthpop, pós-punk e new wave. Orbitam sempre à volta da estrutura de canção no seu sentido mais tradicional.
Salvo erro, as vossas edições têm surgido unicamente em formato digital, enquanto fã do objecto físico, vejo-me obrigado a perguntar planeiam no futuro o lançamento em cd ou vinil?
SD: É uma hipótese que ainda está a ser pensada. Será para breve.
BG: Sou bastante defensor do formato digital na Internet, apesar de ter uma grande paixão pelas edições físicas, principalmente CD. Em termos de divulgação, acessibilidade e ambiente, o digital tem muitas vantagens.
Ao ouvirmos a vossa música lembramo-nos muito de Balla, já vos tinham dito?
SD: Não, mas agradeço a comparação. Balla é bom exemplo no estilo de música que também queremos fazer.
Como gostas de descrever o vosso estilo musical?
SD: Pouco definido, gosto de ter uma abordagem heterogénea ao combinar as canções para um disco. Neste último álbum o estilo passa pela música electrónica e synthpop, pós-punk e new wave.
Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
SD: Outras artes, principalmente Cinema e Literatura.
BG: Sound Design e captação para filme.
Quais as tuas maiores influências musicais?
BG: A tarola com um gated reverb.
Como preferem ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
SD: Digital.
BG: Download digital.
Qual o disco da vossa vida?
SD: Tenho muitos...
BG: Muitos, muitos, também, mas se tiver de referir um que me abriu horizontes, tenho de referir o "Surfer Rosa & Come On Pilgrim", dos Pixies.
Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
SD: Tame Impala "Currents". Não sei se fiquei maravilhado, mas fiquei contente.
BG: Com Truise "Galactic Melt".
O que andam a ouvir de momento/Qual a vossa mais recente descoberta musical?
SD: O trabalho todo do Childish Gambino. Não tem par. A colaboração dele com o realizador Hiro Murai nos videoclips e na série Atlanta é muito fixe.
BG: De há um ou dois anos para cá que estou completamente embrenhado na cena Synthwave. Com Truise, The Midnight, Future Cop, Mitch Murder...uma comunidade gigante à volta de um tipo de som que está a começar a transbordar para a sonoridade Pop outra vez.
Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
SD: Inspecção do IGAC. Não sei se já aconteceu a alguém, mas a nós aconteceu.
Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria?
BG: Uma baladona Power Synth com a Karen O. Ela vai ler isto?
Em que palco (nacional ou internacional) gostariam um dia de actuar?
SD: Um que tenha boas condições técnicas e público atento.
BG: Que diva! (risos)
Qual o melhor concerto a que já assistiram?
SD: Na altura, os concertos de Queens of the Stone Age, Nick Cave ou Pixies em Paredes de Coura 2005 foram especiais.
BG: Gostava de dizer Arcade Fire em 2005 ou LCD Soundsystem em 2007, que foram fantásticos. Mas foi um para o qual a minha mãe queria companhia e eu fui com ela: Bruce Springsteen, no Rock in Rio. Aquele homem tem uma presença inacreditável.
Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
SD: Kanye West.
BG: Gorillaz.
Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostariam de terem estado presentes?
SD: Nirvana, um qualquer. Só para ver se tocavam tão alto como dizem.
BG: A gravação do "Stop Making Sense", dos Talking Heads, ou Queen, no Wembley Stadium.
Tens algum guilty pleasure musical?
BG: Não consigo não vibrar ao som do "Falésia do Amor", dos Santa Maria.
Projectos para o futuro?
SD: Fazer mais música.
Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
BG: "Fat Bottomed Girls", dos Queen.
Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
SD: Obrigado!
Terminamos, como não poderia deixar de ser, com a música dos Vatsun e do mais recente disco, "Imaterial", que se encontra disponível para escuta através da plataforma Bandcamp.
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