domingo, 4 de março de 2018

Conversas d'Ouvido com Arthus Fochi

Entrevista com o cantor e compositor Arthus Fochi, fortemente influenciado pelas raízes sul-americanas. A sua música mescla MPB, com rock e jazz, o folclórico com o moderno. Em 2017 editou o álbum "Suvaco do Mundo", actualmente gere a editora Cantores Del Mundo, criou o projecto "Ano Sabático" e planeia ainda novo disco para o final do ano. Para nos falar sobre isto tudo e muito mais, Arthus Fochi é o convidado de hoje das "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Arthus Fochi: Meu avô tocava violino, bandolim, pandeiro, um pouco de violão. Quando pequeno ouvi histórias de Vila Isabel, meu avô tinha um tio músico parceiro de músicos do bairro, inclusive do Noel Rosa. Além disso, minha mãe toca o acordeão e meu pai sempre teve amigos músicos, bem, acho que desse contato direto veio o amor.
Arthus Fochi + Chico Chico - "Fidel Castro Não Morreu"
O teu mais recente single “Fidel Castro Não Morreu” denota uma certa carga política, que questões te preocupam actualmente na América Latina?
“Fidel Castro Não Morreu” não é uma canção panfletária, é uma canção que busca uma reflexão sobre um momento. América latina é um lugar contraditório, onde se busca soluções rápidas para conflitos eternos.

Para quem não conhece a tua série “Ano Sabático”, em que consiste”?
Consiste em gravar uma composição minha por mês com a participação de algum intérprete ou compositor da minha geração. É um encontro para tomar um café, uma cerveja no estúdio, e pensar na produção da música junto com os instrumentistas de forma horizontal e amiga durante a tarde onde tudo é realizado ali mesmo.

Quem gostarias de convidar no futuro para participar no “Ano Sabático”?
Olha, a Júlia Vargas já gravou o próximo episódio, tenho alguns nomes anotados, e para algumas pessoas eu até já fiz o convite. Mas estou indo com calma, e apostando na surpresa sempre ser boa.

Como surgiu a possibilidade de gerires a “Cantores del Mundo”? Encaras como um prazer ou um desafio?
A Cantores del Mundo me foi cedida pela Tita Parra, neta da Violeta. A Tita é uma grande amiga, uma mãe-irmã. Num dado momento entusiasmei ela a colocar pra frente o trabalho da Cantores, era uma forma de juntar um catálogo interessante - como criar nossa Via Láctea. Ela acabou me cedendo mais ou menos com as seguintes palavras: “Arthus, juntate con gente joven y de iniciativa, y llevalo arriba.” Para mim é um legado, uma forma de agradecer Antar, Violeta, Tita, Isabel, Nicanor, Angel, Roberto, a família Parra e a canção na América Latina que tanto me ensina. O desafio consiste em tornar viável nossos projetos, porque iniciativa e vontade já temos.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Tento descrever para os outros, mas internamente não o faço. Acaba saindo algo MPB, música sul-americana, canção. Tenho canções muito diferentes entre si. Seria legal criar uma palavra que abarque o que se faz, mas essencialmente eu faço canção e escrevo poemas. Os ritmos são da América Latina, às vezes mais acústico, às vezes mais sintético e modernos. Híbrido, tríbido, quatríto…

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Adoro literatura, jogar futebol, viajar, e um dia gostaria de dirigir uma peça teatral. E também estou apaixonado por uma pessoa atualmente que creio ser a pessoa! (risos)

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Não sei… a maior? Acho que não cheguei lá.

Quais as tuas maiores influências musicais?
As pessoas nas ruas, alguns livros, paisagens da América latina, alguns finais de tarde e outras manhãs. Artistas: Víctor Jara, David Bowie, Violeta Parra, Spinetta, Queen, Eduardo Mateo, Príncipe Gustavo Pena, Andrés Deus, Itamar Assumpção, Quilapayún, meus amigos chilenos, Cuarteto Ricacosa, Tita Parra, João Bosco, Baden, Sérgio Sampaio, Gilberto Gil, Luiz Melodia, Jards Macalé, Inti-illimani, Luis Perequê, Cátia de França, Salif Keïta, Ná Ozzetti, Ludovico Einaudi, Carlos Paredes, Chico Buarque, José Feliciano, Chorões….

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Prefiro vinil, mas a maioria das vezes ouço streaming.

Qual o disco da tua vida?
Tenho alguns discos que gosto bastante, mas a vida continua.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Não lembro. Ouvi uma canção do Mautner na voz do Zé Miguel Wisnik, chama-se “Tempo Sem Tempo”, muito linda.

O que andas a ouvir de momento/Qual a tua mais recente descoberta musical?
Conheci recentemente e pessoalmente o Carlos Walker. Estamos conversando para relançar algum disco dele pela Cantores. Ouvi um disco dele ontem "A Frauta de Pã", uma beleza.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Acho que nada muito grave além de cordas arrebentadas antes do concerto e descobrir que o jogo substituto estava em casa, ou ficarem gritando com certa raiva: Brasil, Brasil! - Enquanto eu tocava uma música em espanhol.

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Ná Ozzetti.

Para quem gostarias de abrir um concerto?
Para o Michael Jackson (risos) ou José Feliciano

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Se me convidar, me levar e hospedar, eu vou pra qualquer lugar.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Elza Soares, Gilberto Gil, João Bosco...

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Inti Illimani, José Feliciano

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
"Concierto de Aranjuez" Paco de Lucia

Tens algum guilty pleasure musical?
Alguns consideram que os pagodes que escuto sejam isso aí, mas eu na verdade adoro as harmonias do Soweto, ExaltaSamba. Inclusive pode colocar na lista de influências...

Projectos para o futuro?
Além do “Ano Sabático”, no fim do ano lanço um disco chamado "Arandu Ka´a vy", gravado em Montevideo no lendário Estúdio Sondor. Vamos um passo de cada vez.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Se eu acredito em extra terrestre. Sim, dizem que vão devolver a prata da Bolívia.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
Não sei.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
“A Internacional” (risos) Tô brincando… talvez o hino de Araruama (cidade da Região dos Lagos, no Rio de Janeiro)? (risos) Alguma música ainda que virá, provavelmente.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
De nada, muito obrigado pessoal, venham visitar. Abraços!

Terminamos ao som do tema "Fiel Castro Não Morreu", em parceria com o músico Chico Chico e que integra o projecto "Ano Sabático".

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