quarta-feira, 11 de abril de 2018

Conversas d'Ouvido com ENES

Entrevista com a ENES, projecto portuense de pop-rock pincelado com nuances de electrónica. Banda proveniente da cidade invicta e composta por Andrés Malta (voz), Gonçalo Lemos (bateria), Jay (baixo), Jonny Abbey (guitarra), Leonardo Pinto (teclas). Nesta edição das "Conversas d'Ouvido", descobrimos um quinteto com diferentes influências, que encontra nas suas dissonâncias a paixão que os une, a Música. Preparam-se para editar este ano o disco de estreia "Charlie", que é antecipado nesta descontraída conversa...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Andrés Malta (AM): A música surge desde muito cedo na minha vida como uma forma inconsciente de gastar energias. Quando pequeno, era um miúdo muito enérgico e cantava durante horas na garagem nos meus pais a pensar que estava em Wembley. Uns anos mais tarde a minha mãe inscreveu-me na Orchestral Local (San Juan de los Morros – Venezuela) e desde então essa paixão tem sido suportada pelo lado académico e profissional.
Gonçalo Lemos (GL): Das primeiras memórias que tenho é a do meu pai a pôr lá em casa o “Machine Head” dos Deep Purple e o “IV” dos Led Zeppelin, portanto sempre convivi muito com a música rock. Mais tarde esse gosto foi-se desenvolvendo e surgiu o interesse pela bateria, que comecei a estudar aos 11 anos. Devido a vários géneros musicais que adoro e às grandes pessoas com quem toco e convivo, essa paixão mantém-se ainda hoje.
Jay: Sinceramente, não sei. Muitos familiares falam de eu estar a subir umas escadas, ainda mal sabia andar e estava a cantar a “Radio Ga Ga” dos Queen. Portanto, acho que a paixão pela música já é algo que vem desde a altura em que não tenho memória. 
Jonny Abbey (JA): A música apareceu tarde na minha vida, quando já tinha quase 18 anos. No entanto foi algo que se desenvolveu de forma exponencial e tomou proporções de tal forma grandes que inevitavelmente revelou-se a ideia de começar a fazer música no meu subconsciente. A composição, produção e performance iriam-se tornar no foco da minha vida.
Leonardo Pinto (LP): Desde cedo o contacto com a música foi inevitável, não como interveniente, mas como mero apreciador e espectador de variadíssimas sessões. Até que aos 20 anos, depois de uns anos a passar discos, abriu-se a porta da produção e composição e de todas as emoções e experiências que a música transporta e desde então esse fascínio e vontade de trabalhar e fazer coisas não parou.

Como surgiu o nome ENES?
AM: ENES é o meu ultimo nome. É o nome da minha família materna e além de eu gostar muito do nome, de como soa e do que representa, achei que era uma homenagem bonita a quem está sempre comigo. 

Este ano vão editar o disco “Charlie”, já podem levantar um pouco o véu sobre o que podemos esperar?
AM: "Charlie" é uma aventura romântica/sexual de dois jovens que se apaixonam e vivem todo o ciclo que uma relação a dois tem. Desde a descoberta até à separação, passando pelo êxtase total e pela perda. Além das letras representarem essa história, tentamos musicalmente representar isso mesmo. Músicas em “mid-tempo” com sonoridades maiores, melodias longas e "catchy" que fazem deste álbum um disco divertido e dançável.

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
AM: Neste disco, como se o Zé Pedro fosse sair à noite, com uns amigos e umas amigas, ouvir música electrónica.
GL: Um casamento entre o Pop e o Rock, sem discussões nem más energias! 
Jay: Algo intenso. 
JA: Fun on steroids.
LP: Pop Rock.

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
AM: Cozinha e futebol. 
Jay: Para além de francesinhas, a animação 2D. 

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
AM: Penso que tem mais vantagem do que desvantagem. Conhecer muitas pessoas, sítios, culturas que te completam como pessoa e enriquecem o desenvolvimento cultural e sentimental. A maior desvantagem para mim são as horas que passas longe dos que amas, o IRS e a Segurança Social, que não é simpática com quem trabalha a recibos verdes, que é o caso da grande maioria dos artistas em Portugal.
Jay: Desvantagem, para além de concordar com o Andrés, penso que seja a mentalidade de muita gente. Julgam a “música” e quem a faz como um hobbie e acabam por apoiarem/procurarem pouco, mesmo sabendo, que não conseguem viver sem ela. Está a mudar, felizmente, mas ainda é um batalha longa. A vantagem, para mim é sem dúvida todo o lado emocional que desenvolvemos.
JA: O facto de podermos fazer isto a tempo inteiro faz-nos sentir sortudos. O problema para mim tem a ver com a dificuldade em programar a médio e a longo prazo, o que nós dá sempre alguma instabilidade. Felizmente essa instabilidade é boa para a criatividade.

Quais as vossas maiores influências musicais?
AM: Cresci com bandas como Beatles, Red Hot Chili Peppers, Metallica, Limp Bizkit e Korn a destruirem as colunas da aparelhagem de som dos meus pais. Neste momento as minhas maiores influências são Pharrell Williams, David Bowie, Beck, Blur, George Harrison, David Byrne entre muitos outros que me marcam de uma maneira ou outra. Mas isso é só o meu universo. Cada um de nós tem um mundo musical muito diferente e que torna o processo de composição muito divertido e excitante. 
GL: Na infância muito rock, sobretudo hard rock e progressivo (Deep Purple, Led Zeppelin, Genesis, Yes). Na adolescência música mais pesada como os Slipknot e os Pantera, hoje em dia um pouco de tudo (Rock, Pop, Eletrónica, Jazz, Funk) mas em especial sinto uma enorme força no Hip Hop hoje em dia, para mim um dos géneros que mais barreiras transcendeu ultimamente.
Jay: Slipknot, por todo o percurso que têm, sendo 9 elementos (em palco). É preciso uma gestão de egos muito forte. Eminem, por conseguir vender tantos discos, “apenas” a falar sobre a vida dele, a forma de expressão dele é incrível. Marilyn Manson, por todo o conceito, desde o personagem, ao concerto. Incubus por toda a metamorfose que sofreram em todos os discos. É claro que poderia enumerar aqui bandas até dizer chega, mas acho que estes nomes me moldaram a tentar ser melhor no trabalho de grupo (Slipknot), na forma de expressão (Eminem), num conceito forte (M.Manson) e abertura a metamorfoses (Incubus).
JA: Radiohead, Daughter, The xx, Pink Floyd, Jimi Hendrix, Young Franco, FKJ, Pat Lok, Tom Misch, Pomo, Anderson .Paak.
LP: Air, J Dilla, Bob Marley, James Brown, A Tribe Called Quest, Herbie Hancock, Robert Glasper, Flume, Ta-Ku, QOTSA, Prodigy, The Strokes, Bill Withers, Chico Buarque, Tom Misch, George Clinton, Steely Dan....

Como preferem ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
AM: CD all the way! É a que mais gosto em termos de qualidade de som e ler os booklets.
GL: Neste momento sem dúvida rendido ao streaming, muito por causa da enorme quantidade de artistas incríveis que me fez descobrir.
Jay: CD, apesar de agora ouvir bastante mais em streaming. Mas adoro toda a cena do CD.
JA: Não troco as minhas playlists no Spotify.
LP: Já tive a “panca” do vinil, e quando ganhamos amor ao objeto é bastante diferente, mas hoje em dia a facilidade e a oferta das plataformas online é fantástica.

Qual o disco da vossa vida?
AM: The Beatles – "Revolver
GL: Björk – "Homogenic"
Jay: Linkin Park - "Hybrid Theory
LP: Muitos, mas sem dúvida o "Talkie Walkie" dos Air.

Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
AM: Beck – "Colors"
GL: Sampha – "Process"
Jay: Royal Blood - "Royal Blood"
JA: SZA – "Ctrl"
LP: Moses Sumney – "Aromanticism"

O que andam a ouvir de momento/Qual a vossa mais recente descoberta musical?
AM: Run the Jewels – "Run The Jewels 3"
GL: Sophie - "Faceshopping"
Jay: Jamie Lenman - "Devolver"
JA: N.E.R.D. – "No One Ever Really Dies"
LP: Todd Terje – "It´s Album Time"

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
AM: Entrar com cólicas e suores frios e quando cantei uma nota mais aguda... digamos que quando acabou a música tive de ir ao camarim a correr tratar do assunto. 
Jay: Enjoos. Basicamente, toquei um verso na primeira música e tive de sair. O resto do concerto, tocou um amigo meu que estava no concerto, na plateia. 

Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria?
AM: Tantos! Há tantos mas tantos artistas que gostava de trabalhar e/ou fazer um dueto. Por exemplo, Sónia Tavares dos The Gift, adorava cantar um música com ela. New Max dos Expensive Soul, gostava de trabalhar com ele num disco de ENES algures no tempo. Pharrell Williams no que ele quiser! (risos)
GL: Neste momento o Kendrick Lamar, hands down. Para mim uma das figuras mais relevantes e importantes da música nos últimos anos.
Jay: Wes Borland. Adoro o lado avariado dele!

Para quem gostariam de abrir um concerto?
AM: Sonho seria Beck, Coldplay.
Jay: Incubus. 

Em que palco (nacional ou internacional) gostariam um dia de actuar?
AM: Download Festival – Cabeça de Cartaz. Garanto que depois disso será muito dificil sobreviver à festa daquela noite. (risos)
GL: Penso que qualquer sala de concertos bem composta no Japão seria um sonho realizado.
Jay: RedRocks parece ser um sítio brutal para actuar.
LP: Coachella.

Qual o melhor concerto a que já assistiram?
AM: Metallica no Super Bock Super Rock de 2007. Ainda sinto o bombo a ressoar no peito. 
GL: Faith No More, Alive 2010.
Jay: Justin Timberlake, Rock In Rio 2014. Já assisti a mais energéticos, mas juntando todos os pontos, este estava demasiado bom. Um tutorial!
JA: Radiohead – NOS Alive

Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
AM: Queen com Freddie Mercury – Difícil de ver não?
GL: Sem dúvida os Tool! Uma banda marcante para mim, sobretudo há alguns anos atrás.
Jay: Michael Jackson, cliché.
LP: Bob Marley.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostariam de terem estado presentes?
AM: ahhhhhh Jackpot! Queen no Live Aid em 1985. Ainda hoje não consegui digerir esses 25 min. mágicos. 
GL: Led Zeppelin – Royal Albert Hall, 1970.
Jay: Slipknot - London Arena 2002. Acho que a carga energética descarregada nesse concerto, poderia equivaler a 40 anos de yoga e hoje ser uma pessoa mais calma (risos)

Têm algum guilty pleasure musical?
AM: Backstreet Boys.
GL: Justin Timberlake. Embora não tão guilty quanto isso!
Jay: Trio Odemira - Ana Maria ou Hélio dos Passos. Estou dividido…
JA: Ariana Grande.
LP: Anitta.

Projetos para o futuro?
AM: Estamos sempre a fazer música e a desenvolver ideias novas. O Jonny Abbey está com o Leonardo a trabalhar em músicas novas para o seu novo disco. O Gonçalo está na produção do seu disco a solo. Estamos sempre com projetos para o futuro. Em grupo ou individualmente.
Jay: Sem dúvida, continuar presente na música, jogando com a minha vida paralela em animação 2D. Talvez comprar uma ilha, se der.

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
GL: “E que tal uma tour nacional e internacional todos os anos?” E a resposta: YES PLEASE! (risos)
Jay: P - “porque é que te recusas a cantar ?” R - “mete-te na tua vida.”

Que música de outro artista, gostariam que tivesse sido composta por vocês?
AM: "Tomorrow Never Knows" – The Beatles
"Bohemian Rhapsody" – Queen
Jay: "Sick Sad Little World" - Incubus
LP: "Blackbird" – The Beatles

Que música gostarias que tocasse no vosso funeral?
AM: Uma playlist de música alegre e para dançar. Provavelmente uma playlist de Funk encabeçada pelo James Brown.
GL: Para mim qualquer álbum dos Outkast!
Jay: "Tipsy Chicken" dos Moonshiners.
LP: George Benson - "Give Me The Night"

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Terminamos ao som de "Lighter Weight", primeiro single extraído do futuro disco, "Charlie", com lançamento previsto para este mês.

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