sábado, 28 de julho de 2018

Reportagem - Jessie Ware ao Vivo no EDP CoolJazz 2018

A cantora e compositora britânica, Jessie Ware, regressou finalmente a Portugal e a espera valeu a pena. Em 2012, editou o seu debut "Devotion", que nos apaixonou à primeira escuta, tendo sido aclamado pelo público e pela crítica, estreou-se em Portugal no ano seguinte no então denominado Optimus Alive. Após isso, lançou mais dois discos e cancelou outros tantos concertos em Portugal (Nos Alive 2015 e Vodafone Mexefest 2017). No passado dia 26 de Julho avaliando pelo sorriso estampado no seu rosto, foi feliz e fez os fãs portugueses ainda mais felizes.

A primeira parte ficou a cargo do cantor, compositor, produtor e multi-instrumentista neozelandês Jordan Rakei. Com dois álbuns na sua discografia, "Cloak" (2016) e "Wallflower" (2017), o músico mostrou o seu grande trunfo, uma voz recheada de soul, com uma afinação assinalável. O seu aparelho vocal viria mesmo a ser mais tarde elogiado pela própria Jessie Ware que se confessou rendida ao talento de Rakei. No entanto, um concerto e um artista não vivem só de uma grande voz, o concerto foi morno, com alguns apontamentos interessantes, numa toada jazzy, rb. Faltou uma certa dose de improvisação, sentimos falta de apontamentos típicos de uma jam session. Contudo, é um nome que merece ser seguido com atenção, porque tem potencial suficiente para nos surpreender num futuro próximo.
Com um pequeno atraso, que só serviu para aguçar o apetite daqueles que há muito queriam ver ou rever a artista britânica, Jessie Ware surge em palco com um belíssimo vestido preto e branco, que combinava na perfeição com o cenário idílico que o EDP CoolJazz proporciona. Um palco aberto, rodeado de árvores iluminadas sob um jogo de luzes sóbrio, pincelado com cores vibrantes e algumas instalações luminosas, transportaram-nos por alguns momentos para um bosque encantado. A voz de Jessie Ware era apenas o que faltava para tudo fazer sentido. 
O concerto começou com a sentida "Sam" e seguiu-se a vertente mais dançável com "Your Domino", ambas extraídas do mais recente disco "Glasshouse".  Recuou então no tempo até um dos nossos temas preferidos "Running", que integra o seu debut. "Champagne Kisses", foi servida já com um assinalável coro de vozes provenientes da plateia, a primeira incursão pelo seu segundo registo "Tough Love". Simpática, bem-disposta e comunicativa, não se reprimiu a soltar algumas gargalhadas de aparente sincera felicidade. Desde cedo relembrou que tinha passado muito tempo, desde a sua estreia em Portugal, mais de cinco anos, nos quais lançou dois discos e foi mãe, aproveitou este momento para dedicar à sua filha "Thinking About You".
A sua voz é poderosa, já ficávamos com essa impressão em estúdio, mas ao vivo não desilude e surpreende. O microfone é usado com mestria, uma técnica assinalável, apesar do seu alcance surpreendente, ficamos com a sensação que tudo flui com naturalidade, ao contrário de muitas cantoras que nos incomodam, o poder da sua voz é natural, não é estridente, nem abusa de irritantes melismas, muito comuns em algumas cantoras actuais. 
Repleto de momentos emocionantes como a sequência "Alone" e "Selfish Love", a toada alternou entre o romantismo e um serpentear subtil de electrónica em "No to Love" e "110%". Após elogiar o cenário, afirmando mesmo que era o palco mais bonito de toda a digressão, atirou-se à belíssima Cover de Bobby Caldwell, "What You Don't Do For Love", cantada praticamente acapella.
Soul, rb, pop, electrónica, Jessie Ware é uma mescla de influências e uma das artistas mais interessantes que surgiram na última década. Longe dos grandes palcos, a artista londrina, brilha mais em ambientes inimistas, com público e músicos em perfeita harmonia. Acompanhada por bateria, percussão, guitarra, baixo e teclas/sintetizador, a sua banda destaca-se pela subtileza, com que podem passar despercebidos aos mais distraídos. 
Jessie Ware, não fugiu ao assunto e pediu desculpas honestas pelos dois concertos cancelados previamente em solo nacional, desculpas aceites, mas que não demore muito a regressar...
O concerto aproximava-se do fim, mas havia ainda tempo para as sentimentais "Last of the True Believers" e "Midnight". Tal como em qualquer ausência prolongada, faltaram alguns temas que nos fazem suspirar, tais como "Hearts", "Sweet Talk", "Tough Love", "Devotion" e "Night Light", perfeitamente superados pela brilhante sequência final. A vibrante, "Want Your Feeling" que animou e conquistou os poucos infiéis, seguida da sensual "Say You Love Me", extraída de uma mui recomendável banda sonora pertencente a um filme bem mais dispensável "50 Shades of Grey". Para o fim ficou o single que catapultou a sua carreira, público de pé junto ao palco, com telemóveis a gravar e a perpetuar "Wildest Moments"...
Uma noite de verão ainda sem as temperaturas a que estamos habituados, aquecida pelo calor da voz de Jessie Ware, ornamentada pela beleza natural que nos rodeou. Vamos para casa de alma cheia com um verdadeiro deleite musical...

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