quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Conversas d'Ouvido com Coral Candle

Entrevista com, Coral Candle, projecto do músico lisboeta João David. A sua sonoridade mergulha no universo subaquático, explorando a electrónica instrumental, num registo por vezes sinfónico, traduzindo-se numa banda sonora repleta de experimentalismo. No final de 2017 estreou-se com o álbum "Quick Time", no mês passado surgiu com o EP "Ocean Story", que serviu de porta de entrada para esta edição das "Conversas d'Ouvido"...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Coral Candle: Sempre me interessei muito por equipamento de escuta, pela natureza do sinal acústico e por bandas sonoras ou música doutras raízes. Enquanto ouvinte fui convidando o rock, o house, o jazz e punha-me logo a experimentar tentativas de algo parecido, com um daqueles teclados para os mais novos. Rapidamente desceu também paixão pelas letras, ou pela maior parte delas. Lembro-me quando ouvi as primeiras coisas instrumentais dos Gotan Project e me apercebi o apreço que também sabemos dar à música sem voz.

Como surgiu o nome Coral Candle?
O nome Coral Candle foi uma tentativa de vocalizar seja qual fosse o cariz linguístico dum projecto original só de instrumentais. Não tem lá muito simbolismo, fora a intenção de caracterizar um imaginário ora quente, ora aquático. Quis também escolher palavras que comecem com a mesma letra, num jeito de estereofonia tipográfica. Foi profundamente o que resultou apenas destes critérios, procurando logicamente uma escolha que não soasse muito mal.

Enquanto músico independente, que principais dificuldades, tens sentido em todo o processo?
Penso que um pouco pelo entretenimento e na indústria musical em geral, tudo tem mudado bastante, por isso as dificuldades vão mudando também. Neste caso concreto, creio que o mais adverso é a gestão dos meios – tanto de promoção (grande bem-haja ao Ouvido Alternativo) como de produção e também de qual o modelo que planeio apresentar ao vivo.
Coral Candle: "Ocean Story"
Editaste recentemente o EP “Ocean Story”, para quem ainda não ouviu o que podemos esperar?
Claramente uma história, embora dum modo nada conceptual nem consequente do nome do disco, ou das músicas. Mais uma viagem instrumental rápida, mas por muitos sítios da música electrónica. Elementos disco, do funk ou do electro a groovar com synths e linhas de baixo. Aquele EP com uma típica sequência de faixas para tocar do início e pela sua ordem.

O teu disco e o teu EP, vêm acompanhados de belíssimos art-works, para ti a música é muito mais que uma sonoridade?
O que faz companhia ao som do projecto são vídeos ou ilustrações por alguns bons amigos, a quem proponho precisamente que a música vai para além de sonoridades (neste capa está a resposta e talento da Ana Nunes). Para mim a música é uma órbita gigante que nos formata memórias e gestos do nosso corpo, bem como a sua liberdade, quando é feita por cantores.

Quais as tuas maiores influências musicais?
Acima de tudo gosto da música que nos põe a dançar. Gosto de Mr. Oizo, Siriusmo e Deadmau5 e doutras coisas como Strokes, QOTSA e Death From Above, ou até Hiatus Kaiyote, Of Montreal, e do pianista Tigran Hamasyan. Uma outra boa influência é o disco "Taming the Dragon", dos Mehliana.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Um estilo assim meio concreto, meio do improviso, como um protótipo das sonoplastias mais ricas daqueles níveis debaixo de água dos jogos das consolas. Talvez uma ponte estreita entre o 8-bit e o break-beat.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Algumas. O meu animal de estimação é uma bicicleta, sou piromaníaco e tenho uma fixação por queijos. Gosto imenso de arquitectura, de curtas de animação, de jogos de cartas, ou de férias com a companhia certa. Embora acima de tudo, goste de dormir.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A maior vantagem é mesmo capaz de ser a aprendizagem. Pouco sei se a arte imita a vida mas a música imita a forma como escutamos, um bocadinho. Falo de todo o intercâmbio entre outros músicos ou outros gostos musicais. Já a maior desvantagem nunca duvidei que são os horários.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Sou um bocado old-school, na rádio dum carro.

Qual o disco da tua vida?
Um pódio de Fórmula-1 disputado entre o "It’s Album Time" (Todd Terje), o "De-loused in the Comatorium" (The Mars Volta) e o "Discovery" (Daft Punk).

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
"Iglooghost" - Neō Wax Bloom

Qual a tua mais recente descoberta musical?
Ponham “Palmbomen Boiler Room Amsterdam” no YouTube.
Coral Candle: "Quick Time"
Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Aquilo que acontece quando não se sabe muito bem o que ficou mal na ligação dos cabos e dos pedais e nada faz som nenhum. É mesmo desconcertante.

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Com a incrédula Elis Regina.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Muito possivelmente qualquer palco do Paredes de Coura, aquele local e festival são eternos.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Hoje em dia nunca sabemos bem, mas quase de certeza que foi dos Chemical Brothers em 2011 no Alive.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Os Birdy Nam Nam.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Em 2006 ganhei uma entrada para o Sudoeste mas fui criticamente insensato e não fui ao dia dos Daft Punk. Desde então nunca mais fui a mesma pessoa.

Tens algum guilty pleasure musical?
Gosto muito dos Vangelis e de música de elevador. Também gosto mesmo muito de testar todos os toques do meu telefone antes de escolher qual vou querer.

Projectos para o futuro?
Tenho estado em trabalhos com 2 amigos meus com quem tenho feito mais música, o Lucian Lupu e o Nuno Mika, num projecto chamado Ákorat (facebook.com/akoratmusic). Demos já alguns primeiros passos em jams electrónicas e enquanto live-set de techno improvisado. Fiquem alerta.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Se costumo cantar no banho? Nem por isso.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
Essa resposta é bem difícil mas confesso, gostava de ter sido o autor da música do Tetris.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Qualquer uma que nunca tivesse ouvido na vida.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Terminamos ao som do EP "Ocean Story", que se encontra disponível para escuta e download, através da plataforma Bandcamp.

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