quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Conversas d'Ouvido com O Branco e o Índio

Entrevista com a banda brasileira O Branco e o Índio, pela voz do baterista Pedro Serra. Quarteto composto ainda por Flávio Abbes (guitarra, voz), Bruno Rezende (guitarra, voz) e Roberto Souza (baixo). Nasceram em 2016 enquanto duo fruto das improvisações de Bruno e Flávio, com a entrada de Roberto e Pedro, aventuraram-se pela pop. Contudo desenganem-se quando pensam em pop light, a pop reveste-se de relevos experimentais e pinta-se com tonalidades psicadélicas. Preparam-se para editar novo disco, mas antes disso fomos conhecê-los melhor nesta edição das "Conversas d'Ouvido"...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Pedro Serra: Desde criança ouvia Rolling Stones, Secos e Molhados, Beatles, Jorge Ben e Novos Baianos com meus pais. Mais tarde, aos 8 anos, brincava Beatles com meus amigos – cada um era um integrante da banda. Na minha adolescência nos anos 80, com a explosão do rock no Brasil, foi natural que eu começasse a tocar. 

Como surgiu o nome O Branco e o Índio?
O nome foi uma sugestão do Bruno quando a banda ainda era uma dupla de música experimental com o Flávio. Acharam o nome inusitado para uma banda e o adotaram.

Segundo sabemos preparam-se para editar o disco “Plantas Renováveis”, já podem antecipar um pouco sobre o que podemos esperar?
O "Plantas Renováveis" é um disco com 12 músicas bem autorais dividido entre as composições de Flávio Abbes e Bruno Rezende, inclusive com algumas parcerias entre eles. Com a minha entrada e a do baixista Roberto Souza na banda, o som mudou radicalmente e tornou-se mais “pop”, se é que podemos dizer isso. A maior parte do disco foi gravado na casa do Bruno por nós mesmos, que também o mixamos e masterizamos lá, ao longo de 6 meses. É um disco que vem das nossas entranhas.

As vossas músicas denotam algumas referências políticas. Actualmente quais as questões que mais vos têm preocupado? 
O levante neofascista no Brasil e no mundo é muito preocupante. Isto está de alguma forma refletido nas músicas do disco, mas um tanto ou quanto surrealisticamente ou mesmo através da poesia neo-concreta das letras.

Quais as vossas maiores influências musicais?
Alguns dos artistas que compõem o nosso caldo de influências são Talking Heads, Mutantes, Sonic Youth, Clube da Esquina, Ween, Júpiter Maçã, James Chance, Neu!, Devo, Elvis Costello, Pepeu Gomes e é claro, Beatles.

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
A banda assume um estilo que chamamos de art-rock-pop-experimental. Art-rock por ser uma música que é rock, que trabalha com canção, mas não é convencional. O pop-experimental vem no sentido de trabalhar com vertentes opostas, juntando padrões da música pop com elementos da música experimental, como dissonâncias, ruídos, efeitos na voz, letras imagéticas, surreais e neo-concretas e timbres inusitados.

Conheces alguma coisa da música portuguesa?
Nos anos 80 tive uma banda com um cantor português que morava aqui no Rio, o João Branco Kyron (que já foi do Hipnótica e atualmente toca com o Beautify Junkyards), e conheci com ele GNR e Xutos e Pontapés. Há alguns anos estive em Portugal e conheci Legendary Tigerman, Orelha Negra (inclusive este é o nome do nosso próximo single), Da Weasel, Dead Combo... Gosto muito de Throes + The Shine também.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Além de baterista sou também DJ (da festa BLAX) e diretor e editor de imagens. Fiz DVDs e clipes de Autoramas, Gilberto Gil, O Rappa, Djavan, Raimundos, etc.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A maior vantagem de ser músico é ver o mundo de outra maneira. A maior desvantagem é ter que fazer outra coisa para se sustentar.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
O lugar que gosto mais de ouvir música é no carro, porque consigo me concentrar mais na música. Normalmente é em cd, mas pode ser pendrive com mp3, também. Também tenho uma coleção enorme de vinil e cd, que ouço em casa. Mas a melhor forma de descobrir música nova (sou viciado nisso) é pela internet. E quando ouço algo que agrada, gosto de comprar o cd ou LP para conhecer melhor o(a) artista.
Qual o disco da tua vida?
São tantos... Impossível escolher apenas um.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
"Deus é Mulher" da Elza Soares. Que pedrada! As composições e arranjos, feitos pela nova vanguarda paulistana, são incríveis e ficaram perfeitos com a voz de trovão da Elza.

Qual a tua mais recente descoberta musical?
Hoje descobri a cantora Jackie DeShannon, dos anos 70. Na semana passada descobri o disco "Sideral" da banda Os Dentes, gostei muito. Agora mesmo acabei de descobrir a banda argentina Los Siberianos. A minha vida é uma busca interminável por música.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Nunca me ocorreu nada embaraçoso. O concerto é um momento meio mágico para mim, onde tudo é permitido e portanto, nada embaraçoso.

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Dr. John é um desses músicos que inspiram.

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Apesar da confusão, gosto muito de festivais onde você conhece vários artistas enquanto toca.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Eu vou muito a concertos, então para mim é difícil apontar apenas um. Quando vou a um concerto bom, ele funciona como uma espécie de centro espiritual que transforma algo dentro de mim. O último em que aconteceu isso foi o do Jards Macalé com Simone Mazzer, no dia da votação do 1.º turno das eleições aqui no Brasil.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
São tantos... Dr. John, Mercury Rev, Jack White, Shannon ℰ the Clams, Chicano Batman...

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Woodstock e James Brown no Teatro Apollo 

Tens algum guilty pleasure musical?
Para mim a música é um espaço livre onde não existe culpa nem vergonha. Não tenho o menor problema em gostar (e dizer que gosto) de isto ou aquilo.

Projectos para o futuro?
Queremos trabalhar bem este disco, que tem sido muito bem aceite pelo mundo todo. Até agora só lançamos três músicas, que já tocaram na Espanha, Argentina, EUA (na rádio KEXP), França e Marrakesh. Acredito muito no poder de difusão da internet para chegar em vários pontos alternativos perto e longínquos, em detrimento de poucos meios massivos de comunicação.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Eu só gostaria que menos jornalistas copiassem e colassem do press release e realmente escrevessem alguma impressão própria sobre o que ouviram. Isso infelizmente é raro.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
Estou feliz com as nossas composições. (risos)

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
"Bebete Vãobora" de Jorge Ben

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Obrigado vocês pela bela entrevista. Abraços

Terminamos ao som do single "Releitura das Plantas Renováveis", terceiro single do futuro disco "Plantas Renováveis"

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