domingo, 16 de dezembro de 2018

Conversas d'Ouvido com Patrícia Melvill

Entrevista com a cantora e compositora madeirense Patrícia Melvill. No seu currículo, encontramos formação em produção e criação musical, que é mesmo uma das suas grandes paixões. Nesta descontraída conversa descobrimos o seu gosto eclético, o que faz com que as suas influências vão desde o clássico ao techno. Em 2014, passou pelo The Voice, no mês passado editou o EP "Orange Delight", com o carimbo da Music For All e agora antes que o ano termine estreia-se no Ouvido Alternativo, para se dar a conhecer em mais um lançamento das "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Patrícia Melvill: A paixão pela música sempre esteve presente na minha vida. Os meus pais sempre nos mostraram (a mim e às minhas irmãs) músicas de todos os tipos. Cresci a ouvir muitos géneros musicais, incluindo clássico, jazz, rock, eletrónico, RℰB e muitos outros. A paixão pelos instrumentos surgiu quando entrei para a academia de piano aos 4 anos e a partir daí, a música passou a ser o meu hobby.

Em 2014, participaste no The Voice, a experiência foi positiva?
A minha participação foi muito precoce, tendo começado a cantar apenas 6 meses antes. Tendo em conta de que não esperava passar nas primeiras fases antes da prova cega, considero que cheguei muito longe. Foi uma experiência muito positiva, com altos e baixos, que me fez crescer e ganhar experiência. Aprendi imenso com o programa, tive a oportunidade de tocar/cantar para um público enorme (tendo em conta de que nunca tinha cantado num palco) e foi mais um passo em direção a uma carreira na música.
Patrícia Melvill - "Orange Delight"
Editaste recentemente o EP “Orange Delight”, para quem ainda não ouviu o que podemos esperar?
O EP "Orange Delight" é uma viagem de sintetizadores, ritmos e sensações distintas. Com influências de trap, drum 'n' bass, pop, chill, house e techno, este disco é a razão que me levou a ser produtora musical. O seu segundo single "Orange Delight" foi a primeira faixa que compus e que senti que realmente havia potencial para seguir uma carreira nesta área. Aqui não há duas músicas iguais, mas organizei o EP com um percurso sensorial em mente. Se se ouvir o disco por ordem, é possível sentir que começa calminho com trap e chill, passando para uma onda mais acelerada e alegre com drum 'n' bass, terminando numa onda mais dark virada para o house e techno. O EP "Orange Delight" é uma viagem do início ao fim, tendo uma faixa para cada mood.

Além de compores e cantares, também produzes. A produção musical é uma necessidade ou um prazer?
A produção é, sem dúvida alguma, um grande prazer. Para muitos artistas acaba por ser uma necessidade, mas, no meu caso, considero que seja um dos meus pontos fortes. Adoro compor, cantar e tocar, mas é na produção que me vejo a fazer uma carreira sólida e variada, seja a produzir do zero, ou a misturar trabalho de outros. O meu gosto musical é muito abrangente e para além de me dar gozo editar, misturar e masterizar músicas de diferentes backgrounds e estilos, acaba também por ser uma mais valia para conseguir um portfolio mais completo e para manter o trabalho motivante e desafiante.

Quais as tuas maiores influências musicais?
As minhas influências musicais são praticamente infinitas, desde o clássico ao techno. De qualquer modo, há artistas/bandas que tiveram um maior impacto na minha vida de uma forma ou de outra, principalmente na minha maneira de abordar os intrumentos e de cantar. Diria que os Muse me ajudaram a definir a minha expressão ao piano, com escuridão e drama à mistura. O John Mayer também sempre esteve presente, com os seus solos de guitarra brutais e com a sua escrita de letras. Em termos de técnica vocal, a minha maior influência é a Christina Aguilera, seguida de Ariana Grande, Matt Corby e Matt Bellamy, não ignorando os milhares de cantores que me inspiram diariamente através das redes sociais e de programas como o The Voice. A minha visão da composição de sountracks para filmes terá sempre influência de John Williams e Hanz Zimmer. Por outro lado, o género que ouço mais frequentemente, música eletrónica, acaba por ter um grande impacto na minha produção tendo influência de artistas como Flume, Avicii, Gramatik, Gorgon City, Sigma, Ten Walls, Rudimental e muitos outros. Para terminar, é importante referir o grande Quincy Jones é a minha maior inspiração na área da produção musical em geral.

Como gostas de descrever o teu estilo musica?
Imprevisível e intenso. Juntamente com o EP "Orange Delight" também lancei o EP "Foreign Language" que foi gravado com músicos em estúdio, tomando rumo em direção ao rock alternativo, soft rock e rock progressivo, incluindo um tema mais virado para o funk. Os meus EPs de estreia revelam, não só as minhas bases e origens (eletrónica e rock), mas também uma vontade de explorar e experimentar coisas novas. Considero o meu trabalho diverso e muito difícil de definir num só género ou estilo musical. Apesar de ser bastante imprevisível, a intensidade, o conteúdo e a minha personalidade estarão sempre presentes nos meus trabalhos como artista.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Adoro filmes e séries, design gráfico, desenho técnico e livre, empreendedorismo e natação.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Creio que a maior desvantagem é viver na incerteza, pelo menos agora no início. É sempre difícil singrar num mercado tão congestionado como a música. É necessário trabalhar dia e noite, dar o nosso melhor, tentar coisas novas, adaptarmo-nos e não parar. Apesar de tudo, é uma vida muito gratificante porque a maior vantagem é mesmo podermos trabalhar naquilo que realmente gostamos e isso faz com que tudo valha a pena.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Geralmente ouço a partir do Spotify e YouTube, mas, quando viajo, ainda levo comigo o meu iPod nano de 1.ª geração.

Qual o disco da tua vida?
Tenho tantos.. É complicado escolher um, pois os mais importantes farão sempre parte de mim. Se fosse para escolher os 5 mais importantes para mim seriam (ordem irrelevante): "True" do Avicii, "HAARP" dos Muse, "American Idiot" dos Green Day, "A Foot In The Door" dos Pink Floyd, e "Elephunk" dos Black Eyed Peas.

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
"Escape" dos Gorgon City.

Qual a tua mais recente descoberta musical?
A faixa "The Same" de Soul to Speak. Não sei se é só um ou se são vários artistas. Só têm 3 singles no Spotify, mas este tema para mim tem sido a minha mais recente obcessão musical, juntamente com o single da Ariana Grande "Thank u, next".
Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Duas horas antes de entrarmos em palco houve um episódio que envolveu a polícia. Eles estavam a pedir as licensas e atrasou todo o evento. Por causa disso, o dono do estabelecimento teve de fazer um comunicado para o público e resolveu mexer na mesa para falar ao microfone. Entretanto, nenhum elemento da banda estava lá para ver isto a acontecer pois já tinhamos feito o soundcheck e ainda faltava algum tempo para o nosso concerto. Foi só na altura de tocar que nos apercebemos que algo estava mal. Foi tudo muito estranho até porque nem nós nos estavamos a ouvir, nem o público nos estava a ouvir. No intervalo descobrimos que o público pensava que era música ambiente e continuaram na sua, pensando que o concerto seria mais tarde. Entretanto lá demos a volta ao equipamento e conseguimos por tudo a funcionar para a 2.ª parte. Aí sim, demos show!! Foi um pouco embaraçoso na primeira parte, mas ficámos com a consciência tranquila pois nada daquilo foi culpa da banda. Vingámo-nos na 2.ª parte e toda a gente curtiu!

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Talvez com Sam Smith, John Mayer, Ornatos Violeta, Amor Electro... 

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Prefiro os palcos mais intimistas, mas seria uma oportunidade única atuar no L.A. Live (antigo Nokia Theatre) em Los Angeles, California.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Yellowcard nas docas de Lisboa em 2010 (salvo erro). Foi um concerto intimista num lugar pequeno e toda a gente sabia as letras, foi brutal! No final, eu e as minhas amigas fomos para as traseiras e conseguimos autógrafos de quase todos os elementos da banda!

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Avicii será sempre aquele que não consegui ver ao vivo. 

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
"Where The Light Is" do John Mayer no antigo Nokia Theatre. A versão da "Gravity" deste concerto é uma das músicas mais importantes da minha vida.

Tens algum guilty pleasure musical?
Não diria que é guilty porque tenho toda a confiança para afirmar que adoro a Britney Spears. Quem cresceu nos anos 90 tem muitos guilty pleasures deste género!

Projectos para o futuro?
Como artista quero continuar a compor e a lançar EPs duplos contrastantes entre si. Esta é a minha assinatura. Como produtora musical, espero construir um portfolio com qualidade e variedade, seja a produzir/misturar músicas para artistas, seja para soundtracks ou publicidade. Também tenho uma grande paixão pela pós-produção áudio, por isso, daqui a uns anos veremos que rumo terá tomado a minha carreira.

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
"De que maneira é que a tua personalidade molda as tuas escolhas de carreira?"
Sinceramente, sou uma pessoa que está bem dentro do estúdio. Não me considero daqueles artistas que estão sempre à procura da ribalta. Adoro tocar ao vivo, mas não frequentemente. Tem de valer a pena, para mim e para o público, num espaço igualmente adequado. Sinto-me bem no meu cantinho a compor e produzir tudo o que está relacionado com música e áudio. Como me identifico com uma pessoa introvertida na maioria do tempo, adoro trabalhar num espaço acolhedor com outras pessoas ou sozinha. Fazer tours está fora de questão, a não ser que mude radicalmente de personalidade no futuro (duvido). É uma mais valia ser-se introvertido e exercer produção musical, pois é capaz de ser um trabalho bastante solitário que exige grande autonomia e desenvolvimento pessoal e nem toda a gente lida bem com isso. Ser produtora musical é mesmo o meu trabalho de sonho, seja como freelancer, seja a trabalhar num estúdio a aprender com os melhores.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
Tenho uma lista interminável de músicas geniais que gostaria de as ter composto, mas vou escolher a primeira que me vem à cabeça: "Chaga" dos Ornatos.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Primeiro a "Gravity" versão do Nokia Theatre do John Mayer, e depois, para animar os ânimos, o tributo ao Stevie Wonder, interpretado pela Beyoncé, juntamente com Ed Sheeran e Gary Clark Jr. em 2015, também no Nokia Theatre. Estas músicas, para mim, são a luz ao fundo do túnel quando passo por períodos negativos profundos.

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Muito obrigada ao Ouvido Alternativo pela entrevista!

Antes de terminarmos, ficamos precisamente o som do EP "Orange Delight".

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