sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Conversas d'Ouvido com The Twist Connection

Entrevista com os The Twist Connection, pela voz do guitarrista Samuel Silva. O quarteto é ainda composto pela voz e bateria de Carlos Mendes ("Kaló"), pelo baixo de Sérgio Cardoso e mais recentemente pela inconfundível voz de Raquel Ralha. Os The Twist Connection são uma banda conimbricence de rock'n'roll, com a intensidade do punk e a nudez do garage rock. Uma espécie de super-grupo formado por músicos com larga experiência em projectos como WrayGunn, Belle Chase Hotel, The Jack Shits, Tédio Boys, Bunnyranch e Parkinsons, entre outros. Este ano editaram álbum homónimo e é para nós uma honra, abrirmos as "Conversas d'Ouvido", aos The Twist Connection...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Samuel Silva: É relativamente fácil de explicar a minha paixão: foi herdada. Tenho/tive a sorte de ter um pai que não só é/era apaixonado por música como também tinha uma bela colecção de álbuns. E foi a explorar essa colecção, a ouvir os Rolling Stones, o Bob Dylan ou o Neil Young que o amor foi surgindo. 

Como surgiu o nome The Twist Connection?
O nome foi uma ideia do Kaló. Há alguns anos, numa ida aos EUA com os Bunnyranch e de modo a não serem penalizados em termos de impostos, o Kaló apresentou a banda com esse nome de forma a que não existisse qualquer registo de concertos em território norte-americano. Safou-se aí e ficou com o nome guardado para futuras aventuras...
The Twist Connection - "Twist Connection"
Editaram este ano o álbum “Twist Connection”, quem ainda não ouviu o que pode esperar?
Um álbum de rock’n’roll com uma marca identitária forte! Acredito que temos uma sonoridade muito própria e distinta das outras bandas que se movem neste universo musical.

Esse disco via ser reeditado no início de 2019 e conta com a co-produção de Boz Boorer (colaborador habitual de Morrissey), como foi trabalhar com ele?
Mentiria se dissesse que sou um conhecedor profundo do trabalho do Boz Boorer. Conhecia-lhe o currículo e o talento enquanto guitarrista. Assim, aquilo que mais posso destacar desta colaboração diz respeito à facilidade com que as sessões decorreram, no sentido em que nos deixou confortáveis para desenvolvermos o nosso trabalhou enquanto ia propondo (e concretizando) outras ideias que se tornaram importantes, nomeadamente nos arranjos. Percebe-se que é alguém que sabe o que faz, que facilmente percebe os músicos que tem à frente... é experiente e extremamente talentoso! Foi uma mais-valia!

Este ano passaram a quarteto com a entrada da Raquel Ralha, como se proporcionou essa ligação?
Já há uma ligação antiga entre a Raquel, o Sérgio e o Kaló. Já se cruzaram noutros projectos e colaborações! Neste passado mais recente a Raquel foi convidada, nas gravações do álbum “Twist Connection”, para emprestar a sua voz à canção “Dancing in the dark #2” e posteriormente, surgiu a ideia de que a Raquel poderia ser uma mais-valia, enriquecendo o nosso potencial e permitindo-nos criar dinâmicas diferentes. 

Quais as tuas maiores influências musicais?
Não sei se serão todas influências directas mas, quando pego na guitarra eléctrica, são bandas como os Stones, os Stooges, os Velvet Underground ou a malta do “garage” de 65/66 (das compilações "Nuggets", "Back from the Grave", etc.). 

Como gostas de descrever o vosso estilo musical?
Acredito que a única forma de descrever o nosso universo musical seja utilizando o termo rock’n’roll. Tocamos rock’n’roll com um alargado conjunto de influências que ajudam a marcar um estilo próprio e diferenciado de outras bandas do mesmo universo.

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
Acho que todos responderíamos que a música é a nossa maior paixão. É neste universo que melhor nos expressamos, é deste mundo que necessitamos para continuarmos por aqui, a lidar com as nossas angústias existenciais. 

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
Eu só vejo um par de desvantagens: a primeira diz respeito ao facto de estarmos tantas vezes longe das pessoas que amamos (e isso é agora agudizado, na minha experiência pessoal, dado que fui pai recentemente); a segunda diz respeito ao grau de incerteza que existirá sempre nas nossas vidas, caso dependamos financeiramente da música. As vantagens são inúmeras: desde o prazer de desfrutar daquilo que mais gostamos de fazer até à oportunidade de conhecer novas pessoas e locais...

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
São todas formas válidas... o mais importante são as canções e não o meio pelo qual as ouves. Eu continuo a valorizar as edições físicas, a comprar os álbuns que gosto e a limitar o streaming e os mp3 a momentos de descoberta, essencialmente. Desta forma, o meu formato preferido é o vinil (foi assim que comecei a ouvir música e isso há-de ter deixado marca) mas ouvirei mais música em cd do que em qualquer outro formato. 

Qual o disco da tua vida?
Pergunta complicadíssima essa… não tenho só um nem dois… mas pronto, hoje destacaria o "Exile On Main St." dos Stones, por exemplo!

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
Gostei muito do "Make Way For Love" do Marlon Williams. Ouço ali uns laivos de Elvis ou do Roy Orbison que me maravilharam. Num universo mais próximo do nosso (The Twist Connection), gostei mesmo muito do último álbum do Iggy Pop, que contou com a colaboração do Josh Homme e de outra malta de categoria. É um belíssimo álbum e é inspirador ver o Iggy a lançar um dos melhores álbuns da carreira aos 70 anos! Outro excelente álbum recente é o "Onion", da Shannon ℰ The Clams!
Qual a tua mais recente descoberta musical?
Há sempre coisas novas a aparecer… destaco talvez novamente o Marlon Williams e o Charlie Megira, um israelita com uma sensibilidade rock’n’roll fascinante, infelizmente falecido há pouco tempo. 

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Já tive, quer com os The Twist Connection quer com outras bandas minhas situações quase-trágicas em cima de palco como crises cardíacas e sintomatologia associadas a intoxicações alimentares… bem, alguma desta sintomatologia é embaraçosa! Felizmente não foi directamente comigo nem foi com os The Twist Connection! No universo Twist Connection acho que nunca aconteceram coisas realmente embaraçosas... se bem que jacks que deixam de funcionar e cordas partidas (coisas que acontecem demasiado frequentemente!) nos deixam sempre bem atrapalhados e incomodados! 

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
Sendo realista (ou seja, não pegando num “monstro” com quem isso seria certamente impossível) escolheria alguém como o Greg Cartwright (The Oblivians/Reigning Sound). 

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Não tenho palcos específicos em que queira actuar. A minha vontade é simplesmente continuar a tocar, independentemente do local. E acho que estamos todos na mesma linha: tocar, tocar, tocar e conquistar todo e qualquer palco e todo e qualquer público!

Qual o melhor concerto a que já assististe?
Assim sem pensar muito, destaco os concertos do Neil Young em Vilar de Mouros no início do século, o concerto dos Rolling Stones em Coimbra por volta da mesma altura e o primeiro concerto do Nick Cave no Primavera Sound. 

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Destaco dois: os Reigning Sound e o Tom Waits. Temo que não venha a conseguir ver qualquer um deles.

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Gostava de ter apanhado os Stones num clube (e não num estádio enorme)!

Tens algum guilty pleasure musical?
Nenhum. Naturalmente existem bandas/músicos que perderam relevância ao longo dos anos. No entanto, acredito na validade artística do que ouço/fui ouvindo e defenderei sempre a ideia que o que ouvi ao longo dos anos fez sempre sentido e que, por isso, não há motivos para qualquer tipo de vergonha. 

Projectos para o futuro?
Tocar, tocar, tocar. Fazer mais e fazer melhor. Crescermos enquanto banda! Darmos melhores concertos, compormos melhores músicas e gravarmos melhores discos! Há-de ser isto! 

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta.
Caramba... acho que já me/nos foram colocadas todas as questões possíveis!! Acho que essa é a pergunta que nunca me tinham feito e a resposta é: não sei! 

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
Da reedição em vinil do “Twist Connection” que está aí a chegar (Janeiro 2019) faz parte uma versão da canção "Heyday", dos The Sound... poderia muito bem ser essa! 

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
Não me importava que tocassem a “Dancin' in the dark #2” e que seguissem todos a dançar noite fora...

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.

Guardamos o melhor para o fim e assim terminamos, precisamente ao som do álbum "Twist Connection", disponível para escuta através da plataforma Bandcamp

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