terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Conversas d'Ouvido com Acrílico


Entrevista com os Acrílico, banda brasileira de dream pop, que explora universos psicadélicos. Quinteto proveniente de Goiânia composto por: Pedro Mendes (guitarra), Manoel Siqueira (voz, guitarra), Thai (baixo), Renato Oliveira (sintetizador) e Lucas Santana (bateria). Nesta relaxada conversa, descobrimos uma banda com influências no psych e no rock progressivo, que apesar da distância é conhecedora da música portuguesa e de nomes como Capitão Fausto, Vircator e Lavoisier. Este mês irão editar o EP de estreia "Limbo", mas antes disso aterram directamente nas "Conversas d'Ouvido"...


Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Pedro Mendes (PM): Desde criança eu fui muito ligado a música, principalmente por influência do meu tio e da minha mãe. O meu gosto por rock veio da parte do meu tio e foi minha mãe que me introduziu na música brasileira. Cresci ouvindo Bruce Springsteen, Pink Floyd, Whitesnake, Cazuza, Elis Regina, Caetano Veloso e conforme eu fui crescendo, fui adquirindo mais autonomia e criando o meu gosto próprio, mas definitivamente se hoje eu faço música eu devo bastante a eles.
Lucas Santana (LS): Minha paixão pela música começou desde muito cedo. Comecei tocando teclado por influência do meu avô e da minha irmã (que tocavam quando eu tinha aproximadamente 5 anos), mas os instrumentos rítmicos sempre me chamaram mais atenção, principalmente na música brasileira. Aos 14 anos comecei a estudar bateria e recentemente ando me aprofundando mais nos demais instrumentos de percussão. 
Renato Oliveira (RO): Meu interesse por música começou pelo incentivo por parte da minha mãe para que eu tocasse violão clássico aos sete anos de idade. Ao receber internet em casa um dos meus maiores passatempos era baixar música para ouvir, período em que entrei de cabeça nos mais diversos estilos de música. Em 2013, então, depois de descobrir o primeiro álbum do Tame Impala, comecei a me interessar pela música psicodélica em suas mais diversas formas, desde a música eletrônica até o rock dos anos 60 e 70.
Tai: Acho que minha empolgação mesmo começou na escola, quando um grupo de amigos e eu descobrimos a banda Alice in Chains, ficamos fissurados por anos. Desde então nunca parei de comprar CDs ou vasculhar pela internet procurando coisas novas para escutar.

Como surgiu o nome Acrílico?
PM: Quem deu a ideia do nome foi o Manoel, inspirado em uma música do Caetano Veloso chamada “Acrilírico”. O engraçado é que no começo ele pensava que a música realmente se chamava “Acrílico”, só depois de um tempo que fomos perceber que não era, mas aí deixamos como estava (risos).
Em Fevereiro irão editar o EP de estreia “Limbo”, já podem antecipar o que podemos esperar?
PM: Um som bem onírico, com várias camadas e sensações. Esse EP é um apanhado das nossas músicas preferidas que compomos no início da banda e que achamos que poderiam formar uma unicidade. A temática reflexiva e até melancólica das letras permeia por ele todo, tanto eu quanto o Manoel temos uma visão meio pessimista das coisas (risos).
LS: Eu vejo “Limbo” como o resultado dos 2 anos de existência da banda. Cada música possui uma identidade muito singular, mas ao mesmo tempo as faixas do EP harmonizaram muito bem. É engraçado ver as mudanças que as músicas tiveram até ficarem como estão no EP, o que revela muito as evoluções que tivemos desde 2016. 

Quais as vossas maiores influências musicais?
PM: Eu tenho quase uma obsessão pelo surreal e o abstrato, desde muito novo eu amava cinema surrealista e quando eu tive contato com a música psicodélica eu me senti em casa. Bandas como Radiohead, Animal Collective, Chad VanGaalen, Grizzly Bear, Tame Impala, Pond, Devendra Banhart, Beach House, Ave Sangria moldaram meu caráter musical. Eu também tenho uma paixão por noise e experimentação, então Sonic Youth, Velvet Underground, My Bloody Valentine, Deerhunter me influenciam bastante.
LS: Minhas influências variam muito do momento e do que ando ouvindo. Mas Sunny Day Real Estate, My Morning Jacket, My Bloody Valentine, Tame Impala, Joy Division, Teen Suicide, O Terno, o quarteto d'O Grande Encontro, Caetano Veloso e Novos Baianos foram essenciais para minha identidade musical.
Manoel Siqueira (MS): Isso sempre foi relativo ao momento e ao que tenho vontade de explorar musicalmente. Mas posso dizer que sempre volto a ouvir. Caetano Veloso, Gilberto Gil, João Gilberto, Rodrigo Amarante, Boogarins, O Terno, Criolo, Tame impala, Pond, Mac DeMarco, Pink Floyd.
RO: Por influência da minha mãe, passei minha vida inteira ouvindo muito Pink Floyd, Led Zeppelin, Emerson, Lake ℰ Palmer e King Crimson. Tenho também muito apreço por bandas que evocam em mim sentimentos etéreos e íntimos como My Bloody Valentine, Beach House, Tame Impala, Homeshake, Mac DeMarco, Slowdive, Slint entre outras bandas. Não poderia também deixar de citar jazzistas como Miles Davis, Dave Brubeck, Bill Evans e John Coltrane.
Tai: Bom, eu passeio bastante pelos diversos géneros musicais então pego uma influência bem diversa, mas acho que meu coração mesmo pertence ao rock progressivo com Yes, Rush, Emerson, Lake ℰ Palmer, King Crimson e Jethro Tull.

Como gostam de descrever o vosso estilo musical?
Achamos que de todos os gêneros que escutamos, o que o nosso som mais se encaixa é no dream pop.

Conhecem alguma coisa da música portuguesa?
PM: Eu conheço o Capitão Fausto, mas a minha preferida foi uma que descobri no aleatório do Spotify, chama Vircator, é uma banda de post-rock que eu acho sensacional.
LS: Um tempo atrás me apresentaram uma banda que eu gostei bastante chamada Lavoisier.
Tai: Momento vergonha, essa vou ficar devendo.

Para além da música, têm mais alguma grande paixão?
PM: Cinema, com certeza. Eu estou no sétimo período da faculdade de cinema e audiovisual, minha mãe tinha uma locadora, então eu cresci no meio de filmes. O cinema faz parte da minha vida tanto quanto a música.
LS: Sou graduado e mestrando em História e apaixonado pela área, assim como pela música. A História e a música dividem praticamente a maior parte do meu tempo.
MS: Cervejas, séries, livros e dormir.
RO: Sou interessado por tudo que sirva de contexto para que eu entenda meu lugar no mundo.
Tai: É bem recente, mas me descobri um grande amante da escalada em rocha.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
PM: Pra mim tem mais vantagem que desvantagem. Temos a oportunidade de transmitir o que sentimos e pensamos em uma linguagem totalmente única, temos a chance de conhecer gente nova por causa disso, de trocar experiências. As desvantagens são mais pela burocracia e desvalorização. A parte financeira é a principal delas.
LS: As maiores desvantagens são, de modo geral, a desvalorização e má remuneração do profissional. Mas acredito que a carreira musical proporciona muitas experiências e aprendizados, um novo olhar para as coisas ao nosso redor e principalmente, permitir fazer aquilo que se gosta. 
MS: As maiores vantagens para mim são usar um meio artístico para se comunicar/expressar e a diversão. A maior desvantagem que venho sentindo aqui em Goiânia é a falta de casas de show com estruturas para bandas e que incentivam apresentações de forma apropriada e com remuneração adequada. 
RO: A maior dificuldade da vida de um músico que vive no Brasil é conseguir incentivo para dar continuidade ao seu trabalho. Apesar disso, poder vivenciar a música é uma experiência única e que engrandece sentimentos muito pessoais nos indivíduos.
Como preferem ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
PM: Eu ouço mais por streaming por ser mais fácil e prático, mas quando eu tenho tempo eu gosto de ouvir no vinil.
LS: Ainda ouço vinil e CDs, mas não tem como comparar com a facilidade do streaming. (risos)
MS: Tenho alguns CDs e gosto de ouvi-los, mas na maior parte do tempo ouço através de streaming.
RO: Tenho preferência por ouvir músicas em vinil, mas a maneira a qual mais consumo música é através de streaming.
Tai: Eu nem sou muito chato quanto ao tipo de extensão, mas se as caixinhas estão estourando eu fico possesso. Ainda compro CDs e vinil mas acabo por escutar muito streaming pela facilidade.

Qual o disco da vossa vida?
PM: Essa é difícil (risos). Acho que não dá pra citar só um, então vou falar os que marcaram época. Foi o “Ok Computer” do Radiohead, “Sgt. Peppers...” dos Beatles, “Transa” do Caetano Veloso e o “Diaper Island” do Chad VanGaalen.
LS: “How It Feels to Be Something On”, do Sunny Day Real Estate.
MS: “Cavalo”, do Rodrigo Amarante.
RO: “Loveless”, do My Bloody Valentine.
Tai: "The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”, do David Bowie

Qual o último disco que vos deixou maravilhados?
PM: "Luciferian Towers”, do Godspeed You! Black Emperor.
LS: “Deus é Mulher”, da Elza Soares. 
MS: Daniel Caesar, “Freudian
RO: “Midnight Snack”, do Homeshake
Tai: "Japanese Food”, Giovani Cidreira, sério escutem ele .

Qual a vossa mais recente descoberta musical?
PM: Uma banda de dream pop mexicana que eu conheci pelo Twitter, chamada Lorelle Meets the Obsolete, e outra banda de dream pop curitibana, Cora. Eu estou apaixonado no som dessas gurias.
LS: Royal Blood, fantástico!
MS: Feng Suave
RO: A banda brasileira Teto Preto.
Tai: k?d

Qual a situação mais embaraçosa que já vos aconteceu num concerto?
Acho que vai ser unanimidade pra todo mundo que foi quando o Pedro errou no meio de uma música, parou de tocar e pediu desculpas! (risos)
LS: “Desculpa galera, eu errei”. MENDES, Pedro, 2017. Não tem como esquecer! (risos)

Com que músico/banda gostariam de efectuar um dueto/parceria?
Com Beach House, seria maravilhoso ouvir a voz da Victoria com a do Manoel.

Qual o melhor concerto a que já assistiram?
PM: Não consigo citar apenas um, mas foram o do Paul McCartney em Salvador, do Radiohead em São Paulo, do Roger Waters em Brasília e um que me surpreendeu muito, do Deerhunter no Balaclava Fest, em São Paulo também.
LS: O show do Robert Plant, no Lollapalooza, foi fantástico! Destaque também para o reencontro dos Novos Baianos, em São Paulo, e do Garbage, também em São Paulo.
MS: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Criolo, Paul McCartney. 
RO: Acredito que o show do Slowdive, em um Balaclava Fest em 2017.

Que artista ou banda gostavam de ver ao vivo e ainda não tiveram oportunidade?
PM: Tame Impala, Animal Collective e Pond.
MS: Mac DeMarco, Tame Impala.
RO: Homeshake e My Bloody Valentine
Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de terem nascido) em que gostariam de terem estado presentes?
PM: Queria ter visto qualquer show do Pink Floyd na época do Syd.
RO: Com certeza gostaria de ter visto o lendário "Metallic K.O.", do The Stooges.
Tai: Eu precisava ver Jim Morrison ao vivo, então The Doors.

Têm algum guilty pleasure musical?
PM: Eu acho que toda música tem seu valor, mas algo que eu escuto que não tem nada a ver com o que tocamos, é xote e forró.
Tai: Bass House e HiTech... trance é tudo de bom.

Projectos para o futuro?
PM: Tocar no máximo de lugares possíveis, vender merch e juntar dinheiro para gravar o álbum, que deve sair ano que vem.
LS: Já estamos preparando as faixas para nosso álbum, que queremos começar a gravar ainda esse ano. Até lá, é bem como o Pedro falou: tocar, tocar e tocar.
RO: Conseguir falar tudo que eu gostaria de falar através das músicas que estarão presentes no nosso próximo álbum.

Que pergunta gostariam que vos fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
PM: Quando vão vir tocar em Portugal? A resposta seria: aguardando a chamada, que a gente aceita na hora! (risos)

Que música de outro artista, gostariam que tivesse sido composta por vocês?
PM: “In the Flowers”, Animal Collective.
MS: “Drão”, do Gilberto Gil.
RO: “Faded”, do Homeshake.
Tai: "Dark Spring”, Beach House

Que música gostariam que tocasse no vosso funeral?
PM: "Videotape”, do Radiohead, já até falei com meus pais (risos).
LS: Vou ter que criar uma playlist para isso depois! Mas certamente entraria “Dia Branco”, na voz da Elba Ramalho.
MS: Radiohead – ‘’Daydreaming’’
RO: Loveless”, do My Bloody Valentine, que me serviu de âncora em tantos momentos difíceis.
Tai: Maria Bethânia - "Se Eu Morresse Amanhã"

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Muito obrigado pela oportunidade e pela atenção, até a próxima!

Antes de terminarmos, ficamos com a música dos Acrílico e do Single "Pó", extraído do futuro EP "Limbo"...

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