segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Conversas d'Ouvido com Leo Fazio

"(...) tive bastante influência de alguns músicos amigos meus da cena brasileira como Murilo Sá (...) Outras influências amigas foram Pedro Pastoriz(...), YMA, Lau e Eu, Goldenloki, Filipe Alvim, Joe Silhueta, Mustache ℰ Os Apaches, Picanha de Chernobill entre outros que fazem um trabalho muito admirável na nova música brasileira…" Isto é um dos momentos em discurso directo, que podem ler nas linhas que se seguem com a entrevista ao brasileiro Leo Fazio. Cantor, compositor e vocalista dos Molodoys, que se aventura a solo com a edição do  álbum "Sangue Pisado ℰ A Música do Século XXI"...

Ouvido Alternativo: Como surgiu a paixão pela música?
Leo Fazio: Parando pra pensar agora, algumas das minhas memórias mais antigas são relacionadas à música, eu sempre tive uma espécie de encanto por isso. Mas acho que eu só fui perceber esse encanto e começar a almejar me tornar músico quando escutei Nirvana pelo rádio enquanto ia pra escola. Eu consigo lembrar até hoje do momento, cheguei na escola todo empolgado, parecia que eu tinha feito a descoberta do século, o que é engraçado porque meu primo havia me falado de Nirvana pouco tempo antes, mas aquilo só me atingiu naquele momento corriqueiro, ouvindo rádio no carro com meu pai.

Como é que surgiu a vontade de te aventurares a solo?
Acho que surgiu mais como uma necessidade de explorar alguns caminhos artísticos que talvez não seriam tão possíveis de serem aprofundados com meu outro projeto, a banda Molodoys. Por mais que eu leve minhas influências pras músicas da banda, eu queria ir mais fundo nas minhas descobertas e pesquisas artísticas/musicais e foi mais ou menos assim que nasceu meu disco.
Leo Fazio - "Sangue Pisado ℰ A Música do Século XXI"
Editaste este ano o álbum “Sangue Pisado ℰ A Música do Século XXI”, para quem ainda não ouviu o que podemos esperar?
Hmm, certamente muitas características da música brasileira, mas por um caminho mais obscuro e menos conhecido. Umas doses de caos e raiva, mas também muita doçura em alguns momentos, eu acho...

Quais as tuas maiores influências musicais?
Eu não ouço muito um gênero musical definido, gosto de trazer influências de todos os meios possíveis que me agradem. A minha maior influência foi o disco “A Música do Século XX de Jocy” da compositora Jocy de Oliveira, mas as influências não se limitam aí. Quando eu estava compondo as músicas desse disco eu também ouvi bastante Elis Regina, Cartola, Baden Powell, Tom Jobim, Racionais MC's, Milton Nascimento, Villa-Lobos, John Coltrane, Toro y Moi, Vulfpeck, King Krule, Thelonious Monk, Cosmo Pyke, Sonic Youth... Realmente muita coisa de muitos lugares diferentes.
Também tive bastante influência de alguns músicos amigos meus da cena brasileira como Murilo Sá (este participou de uma das faixas do disco) que foi muito importante e me inspirou muito na minha busca por expor alguns sentimentos que antes eu achava difíceis de expressar, como amor e a perda… Outras influências amigas foram Pedro Pastoriz (que também participou do disco), YMA, Lau e Eu, Goldenloki, Filipe Alvim, Joe Silhueta, Mustache ℰ Os Apaches, Picanha de Chernobill entre outros que fazem um trabalho muito admirável na nova música brasileira…
Resumindo, acho que foi realmente uma grande salada de frutas.

Como gostas de descrever o teu estilo musical?
Sei que é meio clichê, mas eu não gosto muito de colocar rótulos…. Mas se for pra classificar como algo eu diria Música Brasileira Experimental, acho que é o mais próximo do que eu faço.

Conheces alguma coisa da música portuguesa?
Conheço e admiro bastante o fado, mas confesso que não conheço tanto assim, infelizmente… E gostaria de conhecer mais sobre os novos artistas da música portuguesa, seria legal saber o que anda rolando por aí.

Para além da música, tens mais alguma grande paixão?
Ciência, principalmente zoologia e paleontologia, mas acho que posso dizer que tudo relacionado à arte é uma paixão, eu inclusive acho que pra fazer arte tem que ter muito de cientista e pra fazer ciência tem que ter bastante de artista, pra mim são duas paixões que caminham juntas.

Qual a maior vantagem e desvantagem da vida de um músico?
A vantagem é ter a chance de se expressar por um meio que, na minha opinião, literalmente sintetiza a experiência humana, o que é ser humano, poder se expressar através da música, ou melhor, a própria música em si, é uma das formas mais belas de expressão, de criação e de expressão do que nós somos enquanto seres vivos neste planeta….
Desvantagem… Acho que eu diria desvalorização que essa profissão tem nos dias de hoje. Eu realmente coloco tudo de mim nisso e não consigo fazer mais nada da minha vida, por conta disso o medo de que talvez num futuro próximo eu não consiga me sustentar, não consiga viver só por ter perseguido algo que eu amo ao invés de ter me entregue pra máquina do dinheiro, esse medo me corrói a alma todo santo dia, mas eu não tenho muita escolha, né.

Como preferes ouvir música? Cd, vinil, k-7, streaming, leitor mp3?
Depende do momento eu acho, eu não tenho um aparelho pra tocar vinil nem k-7, então isso dificulta um pouco (e hoje em dia esses aparelhos custam bem caro), o que me resta é ouvir por streaming ou baixar música, mas sei lá, se eu tivesse acho que ouviria de acordo com meu estado mental do momento.

Qual o disco da tua vida?
Difícil escolher apenas um… Mas acho que o “Elis”, de 1972, da Elis Regina (e também quero fazer uma menção aos discos “Bringing It All Back Home”, do Bob Dylan e “Birth Of A New Day”, do 2814)

Qual o último disco que te deixou maravilhado?
City In Rain”, de um projeto de música ambiente/drone/cyberpunk chamado Subaeris
Qual a tua mais recente descoberta musical?
Morphine, estou realmente maravilhado por essa banda, prestes a mergulhar de cabeça na discografia.

Qual a situação mais embaraçosa que já te aconteceu num concerto?
Foram tantas… Mas acho que a mais embaraçosa foi no primeiro show da minha vida, com a banda Molodoys mesmo, lá em Janeiro de 2013, onde eu estava tão nervoso que esqueci como tocava a música e tentei imitar o som com a boca, foi vergonhoso (risos), eu fiquei tão nervoso que depois do show tive que tomar relaxante muscular porque tava cheio de dores, dormi que nem um bebé até o dia seguinte...

Com que músico/banda gostarias de efectuar um dueto/parceria?
De fora do Brasil: King Krule
Dentro do Brasil: Arrigo Barnabé

Em que palco (nacional ou internacional) gostarias um dia de actuar?
Internacional eu gostaria muito de tocar no Musicbox Lisboa ou no Primavera Sound, sem dúvidas. Nacional eu gostaria de tocar no Bananada ou no Psicodália.

Qual o melhor concerto a que já assististe?
De um músico de rap, amigo meu, chamado Edgar, ele é incrível.

Que artista ou banda gostavas de ver ao vivo e ainda não tiveste oportunidade?
Hermeto Pascoal, Herbie Hancock, Arrigo Barnabé, King Krule… São tantos, não acho que consigo lembrar de todos (risos)

Qual o concerto da história (pode ser longínqua, mesmo antes de teres nascido) em que gostarias de ter estado presente?
Miles Davis em Isle Of Wight… Na verdade gostaria de ter visto o festival inteiro

Tens algum guilty pleasure musical?
Hmmm, acho que não tenho, não acredito muito nisso, cada um gosta do que quer né (risos).

Projectos para o futuro?
Continuar divulgando meu disco solo e terminar de gravar o segundo álbum da Molodoys, que sairá por meados de Maio deste ano, e então entrar em turnê quem sabe. Também já penso em um próximo disco solo, mas vamos ver o que vai acontecer até lá….

Que pergunta gostarias que te fizessem e nunca foi colocada? E qual a resposta?
Acho que nenhuma, gostei de todas as perguntas e acho que deu pra falar bastante sobre meu trabalho e tudo que o cerca.

Que música de outro artista, gostarias que tivesse sido composta por ti?
Os Afro Sambas”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes; “Águas de Março”, de Tom Jobim; e "It's Alright Ma (I’m Only Bleeding)", do Bob Dylan.

Que música gostarias que tocasse no teu funeral?
A trilha sonora do longa metragem de animação “Ghost In The Shell”.... Ou a trilha sonora do “Jurassic Park” (eu amo esse filme, sério)

Obrigado pelo tempo despendido, boa sorte para o futuro.
Eu que agradeço por disponibilizarem o espaço pra que eu divulgar meu trabalho, é realmente muito importante e significa muito pra mim, espero vê-los em breve por aí! Grande abraço!

Ficamos agora com a música de Leo Fazio e do álbum "Sangue Pisado ℰ A Música do Século XXI"...

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